Relacionamento à Francesa (Papa ou Maman)

6/16/2015 01:53:00 AM |

Se tem uma coisa que me deixa feliz em conferir todos os filmes no cinema, mesmo após muito cansaço é chegar em uma sessão de um longa que tinha quase a absoluta certeza de que não iria nem chamar atenção pela sinopse, e quase que literalmente perder o fôlego de tanto rir. E dessa maneira "Relacionamento à Francesa" não só cumpre com o dever de toda comédia que é fazer o público rir muito, como ao trabalhar um tema até que bem simples conseguiu fazer um longa incrível, cheio de boas sacadas e ainda por cima desenvolver técnicas perfeitas de filmagem: só para exemplificar temos um plano-sequência inicial de quase 5 minutos em uma festa de réveillon e mais uns 2 ou 3 planos sequências durante o restante do filme, e não pensem que mal jogados na trama, pois foram completamente funcionais e dentro da linguagem que o filme pedia, ou seja, show!!!

O filme nos mostra que Florence e Vincent Leroy formam um casal bem-sucedido. Têm bons empregos, filhos maravilhosos e um casamento perfeito. Mas quando os dois recebem uma promoção dos sonhos no trabalho, tudo começa a mudar e a vida em conjunto se transforma em um pesadelo. Em pé de guerra, eles decidem se separar e vão fazer de tudo para não ter a guarda das crianças.

Quando um filme vai mal das pernas reclamamos muito, mas quando um vai bem demais geralmente ficamos quietos, e isso é completamente errado, e já vou começar dando parabéns gigantesco para Martin Bourboulon pelo seu longa de estreia, que arriscou todas as fichas possíveis e ganhou praticamente um jackpot ao acertar a mão numa linguagem das mais difíceis que é a comédia familiar, pois falhar na comicidade é algo totalmente comum nesse gênero, já que alguns diretores acabam apelando para piadas fracas, ou atores que não conseguem acertar o tom, ou até mesmo planos feitos erroneamente para tentar consertar falhas, e não bastasse ter todas essas possibilidades de erro, o diretor ainda se arriscou com três planos sequências em cenas bem difíceis de trabalhar, iniciando logo de cara com uma perseguição completamente insana numa festa de fim de ano, ou seja, donos de hospício já fiquem a postos para a internação desse cara, pois se começou a carreira em longas-metragem assim, tenho muito medo do que possa vir a entregar num próximo filme. E o que mais chama atenção é que não temos um roteiro complicado, que se pensarmos nas situações atuais da modernidade, é completamente comum hoje casais que se separam e estão no ponto alto da carreira, podendo acontecer de não querer ficar com os filhos já que podem atrapalhar viagens e tudo mais, ou seja, o que fazer nesse caso? Mas claro que aí entra a sapiência dos quatro roteiristas em criar todas as sacadas e desenvolver o longa num ritmo incrível, com um tentando empurrar para o outro de pior pai para que as crianças escolhessem o lado oposto, e confesso, ficou genial!

Aliado à um bom roteiro, e uma direção consistente, eis que surge um elenco muito bem entrosado e que soube levar toda a comicidade impressionante que o filme tinha para dentro de seus personagens, e principalmente sem abusar de expressões e muito menos forçar a barra para que o riso viesse de algo bobo, mas sim que tudo fluísse naturalmente, divertisse os espectadores e o sucesso fosse garantido. E dessa forma Laurent Lafitte veio com unhas e dentes para mostrar um pai que chega a dar medo diante das situações que leva seus filhos para mostrar que é um péssimo pai, e o ator trabalhou tão bem seus trejeitos que não soou bobo mesmo fazendo algumas micagens com seu Vincent, e isso é algo que sempre torcemos para que bons atores de comédia façam. Marina Foïs já ganhou até prêmios como melhor atriz dramática, e conseguiu encontrar uma comicidade tão boa para com sua personagem Florence que tudo que faz em suas cenas acaba sendo divertido e bem encaixado com a trama, ou seja, mostrou-se bem versátil nas expressões para consolidar tanto seu estilo próprio como a personagem como algo bacana de ver. As três crianças trabalharam bem os vértices de cada idade desde o mais jovem Achille Potier com seu Julien que está começando a querer ser chamado de mocinho, então tem dúvidas persistentes, a garota Anna Lemarchand com sua Emma que está entrando na adolescência, mas já quer namorar e os pais podem atrapalhar tudo, e o mais velho Alexandre Desrousseaux com seu Mathias que já está na fase de que os pais causam vergonha de qualquer forma e entra em colapso com tudo o que pode estar acontecendo, de modo que os três trabalharam muito bem com os dois protagonistas, dando uma real química familiar para o longa. Dos atores secundários da trama, todos que tiveram diálogos foram bem encaixados, mas temos de destacar o casal de amigos Judith El Zein e Michaël Abiteboul que nas três cenas que trabalharam com sua Virginie e Paul foram divertidos por entrarem na piada pronta, e isso é bacana de ver, e claro que Anne Le Ny fazendo uma juíza muito bem trabalhada.

Outro fator que é muito incomum e aqui acabou perfeitamente bem usado foi o conceito cenográfico, pois geralmente comédias trabalham com pouquíssimos elementos cênicos, e aqui a começar pela festa de ano novo em que tudo é usado para arremessar durante o plano sequência insano, depois passando por uma casa muito bem mobiliada com diversos objetos sendo empregados para funcionar dentro da trama, é um luxo que pouquíssimos filmes de grande orçamento costumam ter. Depois em sequência tivemos um hospital bem montado, cenas de obras bem captadas, as casas que o protagonista procura para morar (destaque claro para a que trepida) e outras festas para fazer muito longa aí invejar com o que a equipe artística montou nas locações, A fotografia da trama seguiu um tom abaixo do que se costuma usar em comédias, pois geralmente mesmo envolvendo todo o conflito, teríamos o longa puxado para tons alegres como amarelo ou até mesmo o azul mais claro na trama, e aqui optaram por muita cor escura nos personagens e cenários, e ainda assim conseguiu muita diversão em todas as cenas, e além disso o fotógrafo juntamente com o cinegrafista podem ser considerados 2 heróis ao filmar as cenas de plano-sequência, que mesmo tendo alguns chicotes para maquiar os cortes de cena, a iluminação teve de ser muito bem trabalhada para não ter furo e ainda pegar uma festa com dois loucos correndo sem parar indo atrás deles é um trabalho de mérito gigantesco.

Enfim, falei demais, e conversaria muitas outras horas sobre esse longa genial e maravilhoso que acho difícil alguma outra comédia bater o posto de melhor comédia do ano, pois me divertir é fácil, agora fazer com que eu perdesse o fôlego de tanto rir, é algo que pouquíssimas comédias (com essa classificação exata) conseguiram fazer. Portanto não só recomendo o filme, como peço encarecidamente que a Tucuman Filmes arrume algum parceiro grande para lançar esse filme comercialmente no Brasil, pois mais pessoas necessitam ver e se divertir no país, pois a situação não está tão boa para irmos ao cinema chorar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com o penúltimo dia do Festival Varilux, que por mim só com esse longa já valeu todo o cansaço de estar acompanhando todos os filmes. Então abraços e até breve.


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