Samba

6/11/2015 01:35:00 AM |

É interessante quando vamos ao cinema condicionados pela última obra de um diretor ou ator, pois garanto que quem não assistir ao trailer de "Samba" irá preparado com muitos lencinhos esperando ver algo bem próximo de "Intocáveis", e ao contrário do último filme dos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano, o novo longa que estreia no mês que vem, e que muitos irão conferir na próxima semana durante o Festival Varilux de Cinema Francês, é tão leve e gostoso de acompanhar, com muitas situações cômicas para mostrar a convergência entre duas pessoas tão diferentes, e ainda trabalhar com o tema difícil de classificar que é a ilegalidade na imigração, ou seja, um filme bem moldado que trabalha firme para relatar uma situação, mas sem perder a alegria que temos dentro de nós, mesmo quando a situação tá feia. E novamente os diretores acertam a mão, pois o longa passa o recado sem precisar dar porrada.

O longa nos apresenta Samba, um imigrante do Senegal que vive há 10 anos na França e, desde então, tem se mantido no novo país às custas de empregos pequenos. Alice, por sua vez, é uma executiva experiente que tem sofrido com estafa devido ao seu trabalho estressante. Enquanto ele faz o possível para conseguir os documentos necessários para arrumar um emprego digno, ela tenta recolocar a saúde e a vida pessoal no trilho, cabendo ao destino determinar se eles estarão juntos nessa busca em comum.

Todos sabemos que imigrantes ilegais sofrem para conseguir empregos, até mesmo subempregos, nos grandes países que aparentam oferecer grandes oportunidades de vida, e claro que pessoas de países mais pobres acabam tentando a chance, e também temos até que não temos tantos filmes que trabalham para mostrar como são as condições de vida dessas pessoas, ao menos não me vem à cabeça nenhum nome marcante. Então baseando-se no livro "Samba pour la France" de Delphine Coulin, os diretores e roteiristas Olivier Nakache e Eric Toledano se inspiraram para montar um filme que ao mesmo tempo que desenvolve essa dureza de vida, também trabalha com o enfronte de duas pessoas problemáticas, e ainda dá um tempero brasileiro para o filme, mostrando um pouco da nossa música e também que somos mais aptos à se iterar com a cultura local e fazer amigos por onde passamos. Os diretores poderiam enfeitar o longa de diversas formas e até pesar a mão caso quisessem, mas a sabedoria em trabalhar com o longa como algo mais tranquilo e gostoso foi uma das melhores opções para que ele discorresse sem cansar o espectador além de dar a chance de mostrar que realmente os atores são excelentes ao deixar eles bem livres para desenvolver seus papéis.

Sobre a atuação, já tínhamos a certeza de que Omar Sy é carismático e excelente ator por tudo que já fez em sua carreira, mas agora temos a convicção disso ao ver seu personagem Samba que ele entregou com a peculiaridade de parecer ser dele mesmo, pois mesmo tendo nascido na França, o ator já disse em diversas entrevistas que já sofreu preconceito diversas vezes e o que fez no longa ao mostrar uma química perfeita com sua parceira de cena, e ótimas interpretações das situações mais adversas agradou na medida certeira em tudo que fez, e cada vez mais queremos papéis diversificados para ele por saber que ele domina a arte da atuação. Charlotte Gainsbourg é uma atriz extremamente consistente das personagens que pega para fazer, e o que sua Alice nos mostra é o ponto nítido do stress emocional pode dar uma reviravolta nas nossas vidas, e ela soube transparecer seus atos com uma fidelidade de olhares e trejeitos que até assusta em alguns momentos, e em outros seu ar tranquilo junto do protagonista diziam mais coisas com o sentimento passado do que com inúmeras frases, ou seja, perfeita também. Tahar Rahim entrou sorrateiro no longa com seu Wilson, e ganhou todo o carisma do público que já estava até achando que o ator era realmente um brasileiro inserido na produção, mas não, o ator francês apenas aprendeu o idioma para seu personagem e até que saiu muito bem com ginga, sotaque interessante e até uma certa brasilidade no modo de conseguir as coisas, e dessa forma cativou muito tanto o personagem quanto o estilo do ator, e quem estiver em São Paulo e Rio de Janeiro aproveite as sessões comentadas com ele e os diretores, que com certeza será bem interessante. Os demais atores até conseguem agradar bastante nas suas pequenas cenas, mas acabam sempre bem secundários dando conselhos para os protagonistas, ou encaixando em determinado momento também para desenvolver junto do trio principal, então vale destacar apenas o tio Yongar Fall que se fosse um longa americano certamente seria interpretado por Morgan Freeman, e a estagiária maluquinha que fez boas cenas interpretada por Izïa Higelin.

O longa contou com boas locações, mas sem desenvolver muito a cidade em si, mostrando locais diferentes da tradicional Paris que conhecemos de diversos filmes, e dessa forma colocando o filme como algo mais dentro da realidade que vivem as pessoas ilegais, meio que entre becos e lugares menos conhecidos para fugir realmente da movimentação policial e da imigração, e junto com isso trabalharam bem o conceito de elementos cênicos para principalmente caracterizar os personagens e seus meios de descontração, ou seja, não temos objetos precisos para que a cena desenvolva, mas sim que funcionem para conhecermos mais cada um dos personagens e seus jeitos, e isso é algo bem legal de observar. A fotografia usou de algumas cenas em plano-sequência para evidenciar principalmente a setorização de classes, já evidente logo na cena de abertura, e vemos isso em outros momentos mais tensos, e junto de uma iluminação mais escura e reclusa, também deram a mesma síntese que a equipe artística fez de meio que esconder a ilegalidade debaixo dos panos, e isso ficou realmente bem encaixado.

A trilha sonora do filme é outro ponto que vale muito salientar, pois deu um ritmo bem gostoso para a trama se desenvolver bem e não cansar o espectador, além claro de colocar músicas de Bob Marley, Gilberto Gil, Jorge Benjor, entre outros, funcionando para a linguagem do longa, e isso sempre é muito válido de prestar atenção. Claro que antes que me venham pedir, segue o link com todas as canções.

Enfim, é um filme muito gostoso e que vale com toda a certeza o ingresso, claro que os diretores poderiam ter descido do muro e decidido entre um filme ou totalmente leve ou algo que enfincasse a faca no coração para o público desabar, bem como a penúltima cena quase fez nosso coração parar, mas esse é apenas o único porém que não me fará dar a nota máxima para ele. Portanto repito, o filme estreia somente dia 09 de julho nos cinemas comercialmente pela Califórnia Filmes, e todos sabemos que ela não costuma fazer seus filmes rodarem muitas cidades, então quem for esperto e estiver com o Festival Varilux rolando na sua cidade, aproveite para assistir, pois depois vai reclamar certamente de não ter visto. Felizmente pude conferir ele na abertura para convidados feita pela Aliança Francesa da cidade, então agradeço o convite, e assim abro oficialmente minhas críticas dos 14 filmes que irão rolar durante os próximos dias no Cinépolis Santa Úrsula de Ribeirão Preto, mas o festival vai estar rolando também em 50 outras cidades, e podem conferir os horários aqui. Então abraços e até breve com mais textos.



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