Se existe uma coisa que o cinema francês sabe fazer muito bem é a tal da comédia romântica, pois conseguem trabalhar nela diversos temas que qualquer outro faria de uma maneira pejorativa, ou até mesmo apelativa, e entregam um filme gostoso de assistir, que entretém e que faz com que nos ligássemos aos personagens de uma maneira ímpar de se imaginar. E com "Sexo, Amor e Terapia", tinha quase a certeza de que veria um longa forçado e cheio de intempéries sexualistas, mas muito pelo contrário, o tema até funciona de uma forma quente, mas sem ficar em cima marcando tudo como algo importante, desenhando-se num molde bem livre para pensamentos e entregando a comicidade de uma maneira bem leve e interessante de ver.
O filme nos mostra que Lambert perdeu o emprego de piloto após descobrirem que é viciado em sexo. Decidido a deixar essa vida para trás, ele começa a trabalhar como terapeuta de casais. Judith é uma ninfomaníaca, mas ao contrário de Lambert ela adora esse apetite sexual excessivo. Ela está desempregada e consegue um emprego onde Lambert trabalha. A atração entre os dois é instantânea e Judith parte para cima. Mas Lambert só quer saber de uma relação sem sexo a partir de agora.
É interessante ver a forma que a diretora e roteirista Tonie Marshall trabalhou, pois conseguiu unir um tema que até seria vergonhoso e difícil de falar como é o sexo exagerado, e colocar ele dentro ainda duma terapia de casais, aonde tudo pode ser dito para que as relações voltem a fluir, mas ela saiu com uma precisão tão incrível que inclusive dá para pensar que ou ela já foi terapeuta antes ou já visitou alguns com certa frequência. Mas além da transparência na forma de colocar a terapia em pauta, a diretora soube sabiamente encaixar a comicidade dentro de toda a perspectiva, divertindo do começo ao fim com situações bem colocadas e engraçadíssimas, de modo que o público que lotou a sala riu a todo momento sem parar, e isso é algo que raríssimas comédias conseguem fazer, portanto um acerto total. E aliado à bons planos, souberam dar dinâmica para a trama, envolvendo sempre na sala de terapia com a câmera mais proximal, mostrando apenas os dois casais de cada lado da mesa, e ao trabalhar os demais locais foram optaram a abrir a câmera para dar uma sensualidade a mais para os personagens.
No quesito da atuação, o resultado da química entre os protagonistas é algo que chega a ser mais do que perfeito, pois ambos possuem uma conexão incrível tanto com as câmeras, quanto com eles próprios, de modo que quase era possível que um completasse a fala do outro e se encaixassem num ritmo preciso de dialogar, ou seja, excelentes interpretações. Sophie Marceau já está com quase 50 anos e ainda está lindíssima e sedutora como nos seus primeiros longas, e como a personagem pedia muito de que fosse insaciável, ela ainda deixou sua Judith de uma maneira incrível e bem conectada com todos os problemas que uma relação pode ter, ou seja, fez encaixes tanto na forma visual da personagem quanto na forma de expressar, e isso foi um show a parte dentro do longa. E Patrick Bruel não deixou por menos, colocando o desespero de um longo período de abstinência sexual aparentar em todas as suas expressões de Lambert, que de uma maneira muito bem caricata e bem pontuada esse acerto mostra que o ator é um dos grandes atores da França atualmente, pois como disse ele foi um dos poucos que salvou no "Os Olhos Amarelos dos Crocodilos" mesmo aparecendo pouco, e aqui sendo o longa quase que inteiro seu destruiu com muita vontade todas as cenas impactando e agradando em tudo que fez, inclusive jogando hockey. Os demais personagens da trama apenas aparecem para dar algum contexto e divertir nas sessões de terapia, mas temos de destacar as boas lições e expressões da mãe de Lambert, interpretada por Sylvie Vartan, e também pelo tio de Judith, interpretado por André Wilms, pois ambos serviram na conexão maior com os protagonistas.
No conceito visual a trama não foi muito desenvolvida, afinal o que mais importava era claro que os diálogos e as interpretações, mas poderiam ter elaborado um pouquinho mais para agradar nesse quesito também, já que colocaram um consultório bem simples de terapia, alguns bares e boates, o congresso abusaram com algo muito mal feito, tendo maior expressividade apenas na cena da casa do tio de Judith que por ser alguém que trabalha com aromas, teve todo um rigor mais caprichado, ou seja, poderiam ter trabalhado com isso. Agora no ponto figurino, já não decepcionaram de forma alguma, afinal queriam impor a sedução e conseguiram nesse quesito, e claro que abusaram também de alguns nus para fantasiar o pensamento da moça, mas sem ficar forçado, afinal não era essa a intenção da trama. A fotografia do longa trabalhou sempre com muita iluminação, não dando espaço para desenvolver algo mais intimista e dessa maneira a comicidade ficou mais aflorada, e poderiam também ter desenvolvido um pouco mais de ângulos para contrastar as personalidades, mas isso não foi algo que atrapalhou o filme, portanto, sem problemas.
Enfim, um filme que tinha tudo para dar errado, e acabou sendo uma das mais gratas surpresas do Festival Varilux, pois mesmo contendo alguns defeitos, ainda divertiu demais de uma maneira sólida e bem feita, o que pra uma comédia romântica é algo que raramente vemos nos cinemas. Portanto deixo mais do que uma boa recomendação para quem estiver pensando em ver esse longa, vá e se divirta com toda a certeza de que vai sair contente com o que verá. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou me preparar para a próxima sessão do Festival Varilux, então abraços e até mais tarde.
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