O estilo documental as vezes consegue nos surpreender quando mistura causas políticas e religiosas como base e meta de interesses. E ao mesmo tempo em que "Guerreiro Tibetano" trabalha o argumento de luta em prol da independência do Tibete, ele consegue com a calma e ideologia religiosa que pregam transformar um filme que poderia revoltar e indignar as pessoas contra a China, fazer com que tivéssemos compaixão por tudo que fazer e de certo modo deixar que o objetivo seja aguardado e refletido em prol da não violência.
Há mais de 60 anos os tibetanos lutam contra a opressão chinesa. Porém, a resistência pela não violência parece ter sido em vão. Atualmente, os tibetanos encontraram uma nova forma de protesto pacífico, imolando a si mesmos. Loten Namling – um músico tibetano exilado na Suíça – está profundamente perturbado com essa ação autodestrutiva. Ele se lança em uma ação individual, indo da Europa para a Índia, e durante o percurso encontra políticos, especialistas e jovens radicais. Ele mesmo se radicaliza pouco a pouco, quase optando pelo protesto violento. Finalmente, acaba no quartel-general de Dalai Lama, na Índia, para buscar o conselho do líder tibetano.
O bacana do filme é ver que não pesaram a mão nem em promover em excesso a causa do protagonista e nem em transformar o longa em algo mais jornalístico, pois logo de cara se vê que o filme poderia rumar tanto para cada um dos lados e isso estragaria a essência e não comoveria como um todo. O designer gráfico Dodo Hunziker, que desde 2006 resolveu ser diretor de documentários conseguiu trabalhar o longa com uma mão bem interessante, e ao acompanhar o protagonista durante toda sua jornada, mostrou uma certa dinâmica para que seu documentário, mesmo que com uma cara imensa de ter sido encomendado, agradasse e envolvesse, e isso fez valer os diversos estilos de planos escolhidos pelo diretor.
Não costumo opinar sobre os temas de documentários, mas a jornada de Loten me envolveu pela ideologia de tentar chamar a atenção com música, ao invés de armas como fazem o povo da Síria, ou botando fogo no corpo como seus compatriotas, ou fazendo passeatas malucas como acontecem em diversos outros países, então seu canto de guerra atraiu de certo modo a imprensa para sua causa, e ele pode ir nas votações do congresso, conseguiu acesso para falar com o líder religioso, e claro que com o documentário rodando, muitos outros países vão entrar à favor de sua causa, ou seja, um acerto bem trabalhado e que por ter sido muito bem feito, não ficou forçado, o que diferiu completamente do outro filme suíço que vimos do Femen.
Outro ponto interessantíssimo sobre a técnica do filme, foi além de usar as canções do próprio protagonista para dar a temática em tudo que rolava, o diretor optou por uma iluminação de preenchimento em quase todas as cenas, ou seja, além da iluminação natural dos locais aonde o protagonista dá entrevista e vai conversando com as pessoas, certamente mais uma ou duas pessoas usaram de refletores para rebater e colocar Loten como destaque do plano, de modo que não olhamos para as locações laterais, que muitas vezes nem eram tão bonitas, e isso é algo incrível que costuma falhar demais em documentários, pois acabamos nos distraindo com tudo o que ocorre do lado e esquecemos do que a pessoa estava falando, e aqui isso não ocorre nenhuma vez, nem mesmo nos materiais externos de gravações que foram inseridos para dar base controversa na trama.
Enfim, um documentário muito bacana que agrada e recomendo para todos que desejam a guerra para derrubar líderes, países e tudo mais vejam uma maneira diferenciada de chamar atenção sem ser por arruaça, e claro mostrar também que um pouco de compaixão faz bem para o espírito e pode salvar o mundo um dia. Infelizmente acabou o Festival Suíço do SESC, mas foi algo muito bacana de conferir nessas quatro semanas, espero que volte mais vezes. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com as estreias da próxima semana, então abraços e até breve.
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