Alguns filmes conseguem trabalhar com uma proposta um pouco diferente de estilos, e acabam misturando gêneros que raramente vemos sendo trabalhado em conjunto, como foi o caso de "Tapete Vermelho", aonde o diretor suíço misturou um documentário sobre uma comunidade que tem vontade de fazer um longa-metragem, mas optou por contar isso na forma de um road-movie ficcional. E dessa maneira a trama acaba fluindo bem gostosa ao mostrar que mesmo quem não tem sequer educação básica e vive num meio de drogas e violência, também pode almejar sonhos mais altos, e conseguir fazer um filme seu ser vendido em Cannes se dado a devida ajuda e atenção, mas muito além disso, o diretor quis mostrar como uma amizade pode ser construída com conhecimento e respeito entre as partes, desde que se ouça e tenha paciência com o outro.
O longa nos apresenta um assistente social que trabalha com um grupo de jovens insolentes do subúrbio de Lausanne. Ele os ajuda a escrever um roteiro de cinema e faz todo o possível para ajudá-los a realizar esse sonho. Um road movie que coloca em xeque todas as certezas do assistente social e do grupo de jovens que precisam de orientação.
/Acho bem bonito quando diretores dão essas oportunidades ao empreendimento social, e conseguem trabalhar um roteiro que tecnicamente poderia ser feito tanto quanto um documentário sobre a vida dos jovens da comunidade que desejavam fazer um filme e como era o conflito entre eles para que tudo virasse algo, bem como poderiam ter trabalhado a história que os jovens fizeram sobre suas próprias vidas como um longa ficcional tradicional, mas aí seria algo completamente comum, e não chamaria tanta atenção, mesmo que fosse bem feito. Aí entrou a experiência de Frédéric Baillif para trabalhar com as duas coisas em sintonia e entregar um filme único, aonde a esperança, amizade e até os conflitos passam a ser parte da trama, e incrivelmente mesmo os jovens não sendo atores realmente, ao contarem suas próprias histórias conseguiram agradar e comover a todos que presenciaram a ideia completa da trama, com planos mais introspectivos e voltados para relatar tudo de uma maneira mais interessante de ver na telona.
Falar das atuações é algo até engraçado nesse caso, pois tirando o assistente social interpretado por Frédéric Landenberg, não temos atores na produção, mas sim as próprias pessoas da comunidade que atuam fazendo os seus próprios papéis, e por incrível que pareça, possuem marra e estilo de atores de grande porte, mas claro que não possuem a expressão necessária e talvez atores profissionais conseguiriam dar um tom mais dramático para a história, não que isso tenha atrapalhado no teor do filme, mas certamente seria algo mais forte ainda. Frédéric por sua vez, conseguiu dar algumas certas pontadas boas e até chamar a responsabilidade para si em diversos momentos, mas o que foi lhe pedido, certamente era para apenas instigar os rapazes para que eles se conflitassem e gerassem as polêmicas que o diretor desejava para o andamento do filme, e isso foi muito bem feito e agradou, e digo mais, o ator conseguiu certamente se passar como assistente social muito bem, de modo que quase podemos falar que ele não era ator, e isso é um ponto bem positivo pelas expressões que fez.
No conceito visual da trama, por se tratar de um road-movie, escolheram uma van que poderia até dar mais histórias lá dentro, mas optaram por usar os lugares "culturais" que visitaram como ponte da viagem e determinar nesses locais as situações da trama, e de certo modo não sei o trajeto de Lausanne a Cannes se é tão fraco de pontos para se visitar, ou se a produção acabou cortando mais cenas do filme, mas faltou um pouco mais de elementos de road-movie para envolver, e isso é um defeito da direção de arte junto com a produção. Porém no quesito fotográfico, certamente os câmeras sofreram demais com o pequeno ambiente para dar a iluminação mais adequada e agradar no teor do filme, mas felizmente conseguiram em quase todas as cenas, marcar contrastes e dar o tom de emoção que pedia o roteiro, culminando na última cena com uma das fotografias mais bonitas de praia que já vi, ou seja, um trabalho bem interessante e agradável.
Enfim, um filme bacana, que agrada bastante pelo estilo diferenciado, mas que poderia ser melhor. A trilha sonora exagerou na maneira mais melódica para comover e isso é algo de praxe nesse estilo de filme, então aqueles que se emocionam muito acabam até entrando mais no clima com a dramaticidade musical empregada. O filme certamente vale a pena ser visto por todos, afinal é de certa modo uma lição de vida, pois mesmo aqueles que não possuem nada na vida e vivem em locais, que parecem ter sido excluídos do mundo, podem conseguir alcançar quando a ajuda vem, e assim sendo o resultado da trama acaba bem interessante. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na terça com o último filme do Panorama Suíço, então abraços e até lá.
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