Tem coisas que acontecem na nossa vida dentro dos cinemas que não dá para explicar, pois confesso que ao ver o pôster e o trailer de "A Esperança É A Última Que Morre" falei para uma amiga que estava com plena certeza de que o longa era uma furada imensa, que seria tosco ao extremo e que não iria ser nem um pouco divertido conferir esse filme. Portanto, utilizando da ideologia do filme, eis que solto aqui um provérbio (ou sei lá se é isso) para o meu texto: "não se deve julgar um livro pela capa", pois o filme é uma das melhores comédias que o cinema nacional já nos entregou, com uma direção de fotografia incrível por trabalhar planos perfeitos de cada cena, e principalmente pela sacada do roteiro que inseriu boas piadas e expressões para que os personagens, mesmo que não tão bem atuados, fossem incríveis e divertidos do começo ao fim. Ou seja, tivemos mais um daqueles presságios negativos, que já vou ao cinema pronto para tacar uma tonelada de pedras no filme, e volto mastigando elas com açúcar, afinal que delícia de filme, que recomendo com toda certeza, por mais absurdo que possa parecer.
O longa nos mostra que Hortência é uma repórter de TV dedicada, sonhadora, que alimenta a esperança de deixar de fazer reportagens fuleiras e tornar-se âncora do telejornal local, comandado por JP. Quando fica sabendo que Vivian, a âncora do jornal, está para ser detonada por seu chefe, ela se anima toda, mas a jornalista Vanessa também quer essa vaga. Agora, Hortência precisa arrumar um jeito de garantir seu novo posto, nem que para isso necessite criar um assassino serial de mentira, suficiente para garantir seu destaque diante da concorrência. Ela conta com a ajuda de dois amigos, que trabalham no Instituto Médico Local, mas essa mentirinha vai acabar saindo de seu controle.
Pesquisando um pouco mais sobre o longa, é fácil descobrir o motivo de o longa ter uma história tão bem encaixada, pois escrito por dois dos roteiristas nacionais que mais tem acertado ultimamente Patricia Andrade("Julio Sumiu", "O Canto da Sereia", "A Beira do Caminho", "Made in China") e José Carvalho("Faroeste Caboclo", "Elvis & Madona", "Sai de Baixo"), o filme certamente teria um bom tino cômico e pontuações precisas para divertir na medida correta, e é notável a preocupação das inserções dos provérbios com toda a sintonia de cada personagem criado para representar toda a história. E adicionado ao bom texto, foi escolhido o diretor "novo" Calvito Leal, que anteriormente só havia ganhado diversos prêmios com seu documentário sobre Simonal e feito da nova versão da novela "Saramandaia", uma série criativa e cheia de efeitos para impressionar a todos, ou seja, veio para o filme pronto para estrear na direção de uma ficção querendo explorar o máximo de belas tomadas que pudesse, e criar planos dinâmicos e bem trabalhados para cativar quem gosta de ver uma boa cena, mesmo que num filme de comédia, agradando tanto pelo conteúdo quanto pelo visual. E esse belo casamento resultou num filme extremamente interessante, que diverte e ainda consegue satirizar certos pontos tristes dos nossos governos com a mídia que só quer ibope.
Só não posso dizer que o filme foi perfeito pelo único problema visível do filme: a atuação simples demais da protagonista. Não digo que Dani Calabresa não é engraçada e sabe fazer caras boas para divertir, mas não é uma atriz que sabe dominar um texto e interpretar quando é necessário, de modo que nas cenas que precisou ser engraçada, até foi bem, mas quando tinha de botar a expressão para jogo, literalmente tremia na base, e isso é algo que atrapalhou até no tom da voz, pois em alguns momentos fica completamente audível que tivemos muitas cenas dubladas depois de pronto o filme, para dar uma melhorada no timbre de voz de sua Hortência, mas como muitos nem vão notar esse problema técnico, posso dizer que no que ela se propôs a fazer, cumpriu e agradou como uma jornalista "fraca", que precisou de meios para conseguir crescer na emissora. Agora usando mais um provérbio ou expressão: "Há males que vem para o bem", e o atraso nas gravações tirou Leandro Hassum da produção do filme, e a substituição dele por Rodrigo Sant'anna foi a melhor coisa possível de acontecer, pois o personagem Ramon caiu como uma luva nas mãos do humorista que abusou de olhares, trejeitos e até impostou a voz para que cada cena sua fosse o mais incrível possível, e se tem um ator que pode salvar a comédia nacional, certamente esse é o nome que devemos ficar de olho, pois ele sempre detona em todos os papéis que faz. Danton Mello também foi uma ótima alternativa para substituir Gregório Duvivier, pois mesmo que ambos não sejam engraçados, Danton é ator e sabe como colocar carisma nas suas interpretações mais sentimentais, de modo que o seu Eric até chega a ser bem agradável nos momentos cômicos, e passa pena nas cenas mais emotivas, o que vai chamar a atenção de quem estiver torcendo pelo seu romance com a protagonista. Katiuscia Canoro já fez papéis bem emblemáticos no antigo "Zorra" que nem chamava ainda esse nome, como Lady Cate, mas aqui sua Vanessa é tão irritante que acaba sendo engraçada, mas ainda precisa melhorar seu jeito expressivo para o cinema, pois sendo mais acostumada com teatro, ainda usa de trejeitos forçados para chamar atenção, o que não era necessário para as cenas. Um dos atores mais experientes no filme, Augusto Madeira, tentou ser cômico com seu JP, mas ficou meio abobalhado demais, com trejeitos excessivos e de certo modo até cansativo por tudo o que fez, e em alguns casos vale até mais uma expressão que não é um provérbio, mas cabe bem aqui: "menos é mais", pois se não forçasse tanto acabaria ainda divertido e agradando mais no que mostraria. Dos demais praticamente só temos participações, aonde alguns possuem um pouco mais de falas, como Thelmo Fernandes com seu Major (outro personagem de encaixe bem fraco) e Márvio Lucio com seu Governador bobo demais.
Se os atores estavam um pouco perdidos em cena, não podemos dizer o mesmo de maneira alguma da equipe técnica envolvendo arte e fotografia, pois cada elemento cênico importante foi colocado para simbolizar cada provérbio de maneira divertida e bem emblemática, cada ator foi caracterizado bem com o que o personagem pedia, e cada cenário foi trabalhado para representar bem a cidadela de Nova Brasília, mesmo tendo sido inteiramente gravado no Rio de Janeiro, ou seja, um trabalho minucioso de pesquisa e detalhamento para que o filme tivesse vida própria e agradasse no que o roteiro pedia com a maior riqueza de detalhes possíveis para envolver e chamar atenção. E como já disse no começo do texto, e também em diversos outros textos que falei de Gustavo Hadba como diretor de fotografia, o cara é um gênio dos enquadramentos e da iluminação no Brasil, dando nuances em cada tom das cenas, trabalhando ângulos diferenciados que o diretor solicitava, e brincando com quem gosta de não ver o plano tradicional mal iluminado jogado na maioria das comédias, ou seja, pegaram alguém que está acostumado a fazer dramas bons para trabalhar uma comédia com classe, e isso deu muito certo.
Enfim, um filme muito bem feito, que usando de mais uma expressão popular "mata a cobra e mostra o pau", ao quebrar minha cara com um filme divertidíssimo que recomendo com toda certeza para quem gosta de uma comédia mais escrachada, que não se preocupa em ser novelesca (graças aos deuses do cinema) e também não apelativa como acontece na maioria das comédias nacionais, mas sim em ser um filme feito para divertir e fazer o público rir, ou seja, vale a pena ser vista com muita certeza. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, agradecendo mais uma vez ao pessoal da Difusora FM 91,3Mhz pela parceria e principalmente por trazer essa super pré-estreia com 10 dias de antecedência para a galera que lotou a sala e se divertiu muito com o filme, ou seja, fiquem ligados na rádio, que em breve certamente tem mais pré-estreias para conferir. Então abraços pessoal, e até quinta, pois essa próxima semana vem quente.
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