Corrente do Mal (It Follows)

8/30/2015 03:10:00 AM |

Bem, cá estou novamente indo contra as diversas críticas da internet que vinham colocando "Corrente do Mal" como um dos melhores filmes de terror de décadas. Claro que muitos viram o filme baixado na internet há meses, pois como sempre acontece no Brasil com o gênero terror, demoram uma eternidade para lançar um filme, mas como esse Coelho aqui só assiste as coisas no cinema, ficou para trás, completamente curioso com o que veria, afinal se existe um estilo que gosto é o tal do terror, para ficar com medo depois da sessão e ir buscar o carro no estacionamento olhando para todo lado! Mas agora após assistir ao filme, mesmo com o estacionamento inteiramente apagado e meu carro lá no fim do mundo, fui mais de boa do que se tivesse visto algum desenho animado, pois ao contrário do que o gênero terror exige, que é passar medo, dar nojo, causar pânico, assustar, arrepiar, e diversos outros sentidos possíveis, o filme não causa nenhuma sensação, somente a raiva pela música alta a todo momento e bizarrices cênicas de nível trash dos filmes B que passavam na Bandeirantes de madrugada há muitos anos atrás, ou seja, filme que você hoje revê e fala, como eu podia ficar com medo disso. Ou seja, longe do filme assustar, a ideia principal de algum tipo de doença que mata através de relações sexuais, e isso ser passado como algum tipo de monstro, é até que muito bem pensada, além da tentativa de colocar o puritanismo americano como sexo ser um bicho de sete cabeças também é bem inteligente, mas esqueceram que o público desse estilo anda bem exigente e quer ficar com medo, senão pagar pelo ingresso acaba sendo um martírio, como alguns vários clientes têm reclamado na bilheteria em apenas 3 dias de exibição.

A sinopse do filme nos mostra que a jovem Jay leva uma vida tranquila entre escola, paqueras e passeios no lago. Após uma transa, o garoto com quem passou a noite explica que ele carregava no corpo uma força maligna, transmissível às pessoas apenas pelo sexo. Enquanto vive o dilema de carregar a sina ou passá-la adiante, a jovem começa a ser perseguida por figuras estranhas que tentam matá-la e não são vistas por mais ninguém.

Ao pararmos para analisar cada ato separado do filme, o ponto principal que nos vem em mente é a ideia brilhante do diretor e roteirista David Robert Mitchell, pois a estrutura narrativa em si é bem elaborada e não preza tanto pelos clichés tradicionais dos longas de terror, ficando com algo dentro de uma proposta mais clássica das antigas e ainda envolvendo todo um simbolismo interessante dentro da cultura americana. Mas até aí tudo bem, caso fosse o filme classificado como drama ou até mesmo suspense trash, como eram os filmes mais toscos dos anos 80/90, mas não como um terror, afinal como disse no primeiro parágrafo, para um longa ser terror, ele necessita assustar o público, fazer com que fiquem com medo, pois mais absurdo que possa ser, conheço pessoas que até hoje tem medo do Chuck, ou do Fred, e até mesmo de ideologias satânicas envolvendo Fofão, mas ter medo de um estranho esquisito que lhe persegue porque você transou? Duvido que alguém tenha essa paranoia e saia da sessão com algum temor de dormir e sonhar com isso, e dessa maneira, mesmo que o diretor tenha feito excelentes planos abertos durante o dia, sem precisar ir para cenas noturnas tradicionais de longas de terror, o filme acaba tão vazio quanto iniciou, e repito, com uma das trilhas sonoras mais irritantes que já ouvi em anos.

Além de não assustar, foram escolhidos atores sem expressão nenhuma, daqueles que olhamos e não conseguimos conexão de interação e acabamos nem torcendo para que se livrem do mal e nem que morram logo, como costuma acontecer nossa torcida quando algum personagem de longas de terror fica chato e vibramos quando o ser maléfico pega a pessoa, ou seja, meros enfeites de prateleira que foram escolhidos para interpretar o texto e sequer sabiam o que estavam falando nas cenas. A protagonista Maika Monroe, claro que é a melhorzinha, afinal sua Jay até possui alguns momentos em que tentou expressar o medo frente ao desconhecido, nas boas cenas iniciais, logo que é informada pelo jovem que agora a treta está com ela, mas depois entra num desânimo tão monstruoso que sua cara é que acaba sendo apavorante e não todo o restante. Ainda estou procurando uma utilidade para a personagem de Lili Sepe, que fez Kelly, a irmã de Jay, e é apenas isso, nada mais, não tem uma expressão, uma frase, um nada para lembrarmos dela daqui a 30 minutos, ou seja, foi o cachê mais mal pago de um filme do mundo. Olivia Luccardi fez de sua personagem alguém que torceríamos para morrer logo, pois sua Yara sempre com um leitor de texto em formato de espelhinho de maquiagem incomoda mais pela chatice do que por qualquer outra coisa, e isso até pode ter uma simbologia bacana, mas precisaria de uma atriz melhor para passar isso. Dos homens da trama, somente Keir Gilchrist com seu Paul consegue mostrar algum sentimento na sua expressão, o de que é apaixonado pela protagonista e faria qualquer coisa por ela, mas faz tantas caretas que não sei que escola de atuação o jovem fez, mas seus professores certamente estão bem decepcionados. Do restante é melhor ignorar, senão o nível do texto vai decair demais.

Visualmente, a escolha cênica foi até bem trabalhada, pois uma cidadela de classe média bem trabalhada e que daria completamente para ser assombrada e ficar ainda mais assustadora caso quisessem aprofundar a história, mas tirando esse teor estranho de bairros isolados e feios, o filme não usou quase nenhum outro elemento cênico para envolver, tirando a cena da piscina que colocaram muitas coisas "úteis" ali para pegar o monstro, de restante só o sexo acaba sendo elemento para o filme e os figurinos quase inexistentes dos monstros que assombram os protagonistas, ou seja, trabalho fraco da equipe de arte que poderia ter sido mais criativa. A direção de fotografia foi uma das poucas coisas que se salvou no longa, pois ao trabalhar bastante com a câmera aberta em planos bem cheios de cenografia, tiveram de iluminar muito bem tudo, e claro que nesse caso deram preferência para as cenas diurnas para termos a sensação de perseguição melhorada, e quando os personagens estavam nas cenas noturnas ou dentro de casa, sempre uma TV ligada ou a lua no seu estado maioral, ajudaram a criar a falsa iluminação necessária para que a cena tivesse envolvimento.

No quesito sonoro, abusaram demais do aumento de volume para representar a coisa chegando próximo dos protagonistas, e isso é um dos clichés máximos de filme de terror e que incomodam demais, mas quando conseguem colocar ao menos algo mais envolvente para dar ritmo e agradar conseguimos ficar felizes com o que ouvimos, o que não é o caso aqui, que trabalhou umas melodias mais antigas e cansativas.

Enfim, um longa que até possuía um excelente potencial pela ideia, mas que partiu para rumos estranhos e não conseguiu atingir objetivo algum, vários críticos se apaixonaram pelo longa colocando toda uma filosofia sobre a cultura americana, sobre sexismos e tudo mais, mas longe de ser um bom filme de terror, esse Coelho que adora o gênero mais assombroso vai afirmar que não gastem um real para ver esse filme, e dessa maneira não o recomendo nem para meu pior inimigo. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda falta uma estreia para conferir nessa semana, então abraços e até breve.


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