Por mais maluca que possa ser minha próxima afirmação, digo que faltou enrolação para "Linda de Morrer" ser melhor e agradar mais do que o mostrado na tela! E não digo isso com uma felicidade estampada na cara, pois sempre fui contra filmes que fiquem enrolando para dizer a que veio, mas o novo longa é tão sucinto, que tão rápido o problema já acontece, ele já é resolvido, e o filme se encerra. Claro que tudo é bem divertido, é possível dar boas risadas, Glória Pires está sensacional, a história de Marcelo Saback é boa, a direção de Cris D'Amato é consistente, mas poderiam ter desenvolvido mais as subtramas do miolo, ou os espíritos atormentarem mais o personagem de Emílio Dantas para que ele fosse ajudar a protagonista, e assim sim o filme acabaria como uma excelente comédia, a qual foi proposta. Portanto, em momento algum vou dizer que o resultado do filme foi ruim, muito pelo contrário, é algo engraçado e que felizmente foge do tradicional clichê de roteiros de comédias nacionais que estamos acostumados, mas como diriam nos realities culinários: faltou tempero!
O longa nos mostra que a médica muito famosa, Paula descobre como resolver o drama das mulheres modernas: a celulite. Com o recém-criado Milagra, ela espera salvá-las deste “mal”. Porém, Paula toma o remédio e morre de um inesperado efeito colateral. Agora, seu espírito preso à Terra precisa denunciar o próprio remédio e salvar as futuras vítimas de seu inescrupuloso sócio, Dr. Francis. Para isso ela conta apenas com duas pessoas: o estabanado Dr. Daniel, que acaba de herdar o dom da mediunidade da avó, e Alice, sua filha com quem vivia às turras quando era viva.
Com a ideia original de Carolina Castro("Se Eu Fosse Você"), o roteirista Marcelo Saback, que tanto tem feito ótimas roteiros de comédia, e sempre agrada no que faz, aqui poderia ter explorado um pouco mais a síntese da história e ter feito algo com mais desenvolvimento de personagens. Não digo aumentar a duração do filme, afinal as quase duas horas de duração passam que nem um tiro com o ótimo ritmo que a diretora Cris D'Amato conseguiu imprimir, mas trabalhar alguns personagens e até mesmo conseguir tirar comicidade de alguns trechos que parecem perdidos na história, pois mesmo mostrando os efeitos colaterais em algumas mulheres, essas acabam sendo meros enfeites, de modo que poderiam ser eliminadas, e esse precioso tempo jogado mais em cima dos protagonistas para que aí sim, o filme ficasse tão vibrante como foi o primeiro filme da idealizadora da trama Carolina Castro. Cris D'Amato já vem mostrando uma solidez no estilo de direção de comédias, pois sempre inova seja em um estilo de filmagem, seja no teor cômico dos protagonistas, ou até mesmo no ritmo que gosta de colocar em seus filmes, e aqui ela até trabalhou bem com tudo o que tinha em mãos, usando alguns recursos bacanas no desenrolar da trama e sendo bem ágil com seus planos, não ficando muito presa ao conteúdo, nem à ideologia de religiões, que muitos poderiam lhe atacar, e isso foi bem agradável de ver e se tivessem feito como disse de segurar mais a trama somente na Glória e em Emílio, o filme seria um arraso.
Sendo bem breve sobre os protagonistas, não temos como não enaltecer Glória Pires, que qualquer papel que lhe for entregue vai conseguir desenvolver e agradar, seja ele cômico ou dramático, e aqui ela fez de sua Paula, uma mulher durona logo de cara, mas que vai se desenvolvendo e nos envolvendo de um tanto, que no final já estamos apaixonados por ela, e claro rindo muito de suas situações, poderiam ter apostado bem mais as fichas nela que ela dominaria e faria o gol. Emílio Dantas também caiu bem como um misto de psicólogo/médium com seu Daniel, só faltou ele estudar um pouco mais o personagem de Whoopi Goldberg em "Ghost" para detonar no personagem, mas claro que também quis fugir um pouco do clichê e com isso até foi bem trabalhado, mas faltou mais cenas dele com os outros espíritos para que ficasse mais cômico. Antonia Morais até foi bem simpática com sua Alice, mas mesmo sendo filha da própria Glória na vida real, faltou ainda uma química maior de mãe/filha para que seus dilemas envolvessem, claro que tirando a cena de homenagem que ficou bem comovente, mas no restante não agradou. É engraçado analisar o estilo de Suzana Vieira, pois há momentos que sua Lina fica perfeita, bem colocada, dinâmica e engraçada, mas em outros ela apela tanto que chega a passar como boba, vide sua cena incorporada no ritual falando de forma abobada, mas tirando isso, o papel lhe caiu muito bem. Outra que merecia ter sido melhor aproveitada no filme era Viviane Pasmanter, pois logo de cara sabemos o que vai acontecer com sua personagem, mas acaba sendo tão vago e necessário explicitar na tela para aqueles que não pegam a síntese que soa até que meio bobo, e daria um bom tino para a trama certamente. Falar então de Ângelo Paes Leme e Pablo Sanábio com seus Francis e Marcelo é quase que dizer que eles apareceram no filme e só, pois tirando o momento de incorporação de Paes Leme que ficou bem divertido, e o desespero abobalhado e atacado de Sanábio nas duas cenas que aparece, o restante é quase nulo seus atos. O restante é melhor considerar como figuração, então como disse, seria melhor que não tivessem nem insistido tanto nas cenas, pois não servem para quase nada na trama, mas se contarmos em tempo, acabaram deixando até que uns 10 a 15% do filme com essas cenas inúteis.
No conceito cenográfico e artístico, a equipe até que trabalhou bem alguns elementos para chamar atenção, como o remédio bem destacado nas propagandas, mas faltaram colocar mais objetos identificáveis como ambientação das locações, de modo que mesmo tendo de 4 a 5 boas locações, os cenários ficaram pobres cenograficamente falando, pois a clínica pareceu quase um clube com salas simples, a casa da protagonista até tem seu charme de mansão, mas é praticamente dois cenários apenas, a casa e a clínica do psicólogo é simples demais, valendo mesmo somente as boas tomadas do cemitério que foi bem valorizado em algumas cenas, senão passaria em branco também. Além desses detalhes também ficou pouco explorado a vontade e o modo de vida da garota, que tanto busca perfeição no modo simples de expressar das mulheres, e isso ser colocado apenas como um texto em determinada cena, acabou ficando faltando para a questão cênica. A fotografia trabalhou muito bem a nuance de sombras para não termos um fantasma "vivo" e isso agrada bastante de ver que o cinema nacional começou a se preocupar com esses detalhes, e além disso, não temos tons fortes destoando nas cenas, colocando somente o figurino da protagonista como um realce cênico, mas que em momento algum atrapalhou nos demais tons que quiseram passar de acordo com o teor de cada cena.
Enfim, é uma boa comédia, que até possui uma certa quantidade de defeitos, mas tem um ritmo tão gostoso, leve e que diverte, que acabamos gostando do resultado e saindo felizes da sessão com o que é mostrado. Quem não for tão exigente e apegado à detalhes é capaz de gostar até mais. Mas confesso que esperava bem mais, afinal muito das cenas mais risíveis já haviam sido mostradas no trailer, então isso poderia ter sido melhorado em algum momento, mas como falei para um amigo, já vi coisa bem pior no cinema, então vale recomendar o filme para quem gosta do estilo. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais estreias que vieram para a cidade, então abraços e até mais.
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