domingo, 16 de agosto de 2015

O Pequeno Príncipe em 3D (Le Petit Prince)

Diferente do que costuma acontecer no cinema de animação, o longa francês "O Pequeno Príncipe" certamente irá levar aos cinemas muitas pessoas mais velhas do que crianças que desejam ver um desenho na telona. Digo isso, pois muitos adultos leram o livro na infância, releem trechos em determinados momentos e sempre conseguem novas e maravilhosas interpretações para cada uma das metáforas e abstrações que Antoine de Saint-Exupéry colocava em seus textos. E o mais interessante do filme é que conseguiram pegar toda essa simbologia e criar um filme não totalmente fácil, mas que envolve, recria as sensações que tínhamos no livro e de uma maneira gostosa ficamos comovidos com o que vemos, ao pensar o quão simples pode ser a vida ao enxergar tudo com outros olhos. Claro que a história que nos é mostrada no filme não chega nem perto da comovente história que o livro possui, sendo algo completamente diferente que foi trabalhada numa versão menos complexa, mas que com certas simbologias presentes na estrutura, certamente vai agradar mais quem não conhece a história do que os que são realmente fãs do livro de Saint-Exupéry. Portanto é certo que muitos adultos verão ciscos passando pela sala e batendo em seus olhos, enquanto as crianças que forem ao cinema junto talvez nem entendam o porquê de seus pais estarem tão emotivos, mas daí surge a oportunidade de que eles leiam e entrem nesse mundo mágico que o livro tinha e ainda agrada a tantos.

O longa nos mostra que uma garota acaba de se mudar com a mãe, uma controladora obsessiva que deseja definir antecipadamente todos os passos da filha para que ela seja aprovada em uma escola conceituada. Entretanto, um acidente provocado por seu vizinho faz com que a hélice de um avião abra um enorme buraco em sua casa. Curiosa em saber como o objeto parou ali, ela decide investigar. Logo conhece e se torna amiga de seu novo vizinho, um senhor que lhe conta a história de um pequeno príncipe que vive em um asteroide com sua rosa e, um dia, encontrou um aviador perdido no deserto em plena Terra.

É interessante ver a preocupação do diretor em trabalhar com diversas linguagens e tecnologias no mesmo filme, pois seria muito mais fácil utilizar a computação gráfica na íntegra que chamaria atenção da mesma maneira, mas certamente deixaria o longa mais pobre em questões afetivas, então Mark Osborne optou pelas cenas sequenciais do filme usando computação tridimensional, nas cenas do pequeno príncipe botou stop-motion com um tom diferenciado mais disforme, e em alguns momentos iniciais trabalhou com a animação 2D tradicional para representar os desenhos do escritor. E muitos vão se perguntar qual a real necessidade disso, além de um simbolismo maior, a resposta fica clara nos últimos atos, para que a vivência simbólica tão característica da história do livro fosse transpassada para o filme e de certa maneira mostrasse cada momento do filme como único, não interligando os fatos logo de cara. Além desse grande mérito de escolha de tecnologia, alguns podem até ficar bravos de o filme não ser exatamente o livro transpassado para a telona, como já foi feito no filme de 1974, mas o grande acerto do diretor e dos roteiristas foi em captar a essência bonita que a história do livro tem e colocar na vida conturbada da garotinha para que ela aprendesse o que realmente é essencial para a vida dela, e dessa maneira o longa acaba comovendo muito e emocionando com o que é mostrado.

Sobre a dublagem do longa, vou falar em dois momentos, um hoje aqui no texto mesmo sobre a francesa, já que vi legendado hoje, e volto na terça para falar nos comentários sobre como ficou a versão nacional que irei conferir junto de amigos. Como o filme foi produzido na França, ficou bem interessante o objetivo de mostrar como crianças e pais disputam vagas em escolas renomadas, e o modo impostado da voz de Florence Foresti como a mãe da garotinha representa muito bem a forma que foi criada a personagem, claro que ela aparece em poucos momentos, senão o filme acabaria se tornando mais um drama do que algo leve que propunham. A modelagem da garotinha com olhos grandes e vivos foi algo muito bem pensado para representar as descobertas, a busca pelos objetivos e até mesmo o aguçamento da curiosidade, e o tom que a estreante Clara Poincaré emprestou para a personagem foi algo muito doce e bonito de se ver, de modo que embarcamos junto dela. O jovem estreante Andrea Santamaria também soube dublar com pausas pensantes a voz do Pequeno Príncipe que de uma maneira bem rústica acabou sendo modelado de forma bem simbólica, não tendo um traço que nos envolvesse tanto, claro que no quesito sonoro somos quase que transportados para dentro do desenho, mas visualmente assusta um pouco. Em compensação, o desenho do aviador foi tão bem feito que quase desejamos estar junto dele para se aventurar naquela bagunça de casa e com a maravilhosa voz de André Dussollier quase pedimos para que contasse inúmeras histórias para nós, ficarei certamente na torcida para que façam mais desenhos com histórias do príncipe para que ele nos conte. Guillaume Canet está fazendo tantos filmes esse ano, e que vem aparecendo por aqui, que já quase só de ouvir sua voz remetemos à sua personalidade, então ao aparecer no filme como uma personificação adulta do protagonista, é tão chamativo que quase vemos ele ali, e isso embora seja bom para o ator, descaracteriza um pouco o personagem, pois ele poderia ter impostado melhor a voz para algo mais próximo do outro ator que faz o restante inteiro do filme. Agora em termos de fofura visual, a modelagem da raposinha, certamente vai fazer com que muitas crianças queiram uma pelúcia do filme, e isso vai ser aproveitado pela equipe de marketing para vender mais o filme, e até é engraçado ver que como disse de Canet que falhou no quesito dublagem, aqui Vincent Cassel colocou um tom muito bem forte e interessante para a frase mais tradicional do livro que conhecemos.

Por trabalhar bem o conceito visual, tanto na modelagem tridimensional dos personagens da nova história, quanto no stop-motion mais simplista do conteúdo do livro, podemos dizer que a equipe artística teve um certo trabalho em ser minuciosa com cada detalhe para que o filme tivesse uma vivência bem interessante, e junto com a equipe de fotografia, trabalharam bem as cores para que os sentimentos presentes em diversos momentos do livro, como amizade, alegria, amor e contrapondo solidão, tristeza e rigidez, fossem bem simbolizadas com cores vivas e nos demais momentos a escuridão predominasse, e isso é bem bonito de ver no filme. Além disso, o tom bem amarelado na maioria das cenas do livro chamaram bem a atenção e resultaram num visual incrível. Agora um detalhe que poderiam ter explorado bem mais é a tecnologia 3D, pois se tivemos umas 6 cenas aonde a profundidade de campo ou algo saiu da tela, foi muito, no restante só não é possível assistir sem óculos, devido embaçar as letras da legenda, mas quem for ver dublado, certamente e quiser ver o filme sem óculos vai conseguir tranquilamente.

Enfim, é um bom filme, que emociona e cativa, mas poderia agradar muito mais pela alta expectativa que muitos que leram o livro esperavam dele. Recomendo mais pelos sentimentos simbólicos que quem captar a essência do filme, poderá refletir mais, mas para a garotada em si, talvez falte um pouco mais de comicidade e brilho para contagiar elas com a história. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica curta, mas volto na terça aqui mesmo nos comentários para falar sobre a dublagem nacional do longa e quinta com mais estreias, então abraços e até breve.


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