Sempre digo que frio é psicológico quando o povo com 20° já está enrolado nas cobertas e colocando duas blusas de frio, fico imaginando então essas pessoas na situação do filme, afinal a sensação de congelamento certamente é algo que não deve ser muito legal de sentir, e o psicológico com toda a certeza fica bem abalado nesses momentos. Digo isso, pois fazia tempo que um filme não me deixava tão triste como "Evereste" conseguiu deixar, pois ao mesmo tempo que é uma conquista alcançar o topo do lugar mais alto da Terra, também é uma loucura caríssima (em torno de US$65 mil para ir com alguma expedição) com um risco de que uma a cada quatro pessoas sobe e fica por lá, ou nem sobe, ficando pelo meio do caminho. E quem for aos cinemas conferir o longa que estreia daqui duas semanas, ou nas pré-estreias que terão nos próximos dias, certamente irá ficar agoniado com a situação extrema que o longa projeta, mesmo que o filme não chegue a ter uma história com muita ficção para acontecer, afinal é baseado como diz no pôster e no trailer, numa inacreditável história real.
Inspirado nos incríveis acontecimentos em torno da montanha mais alta do mundo, o filme documenta a inspiradora jornada de dois diferentes grupos de expedição que são desafiados além de seus limites quando são acometidos por uma das maiores tempestades já registradas no local. Com a coragem testada por um dos fenômenos mais severos do planeta, os escaladores terão de enfrentar obstáculos quase impossíveis em busca de sobrevivência.
É interessante observar a loucura que o diretor Baltasar Kormákur, que gosta de planos bem realistas, em seus filmes, fez ao levar os atores para gravar no próprio Monte Everest junto de uma grande equipe da Imax para que as tomadas fosse o mais próximo da realidade passada pelos alpinistas em que a história se baseia, e claro que isso foi de um grande sofrimento, não que eles tenham subido até o ponto máximo, mas como bem sabemos, ali eles realmente se meteram em grandes frias, enfrentando frio intenso, gravar com muito gelo na cara e principalmente entrando no clima tenso que o diretor tanto desejava nas expressões dos atores. E de certa maneira, isso acabou funcionando bem, pois ao menos pelo que mostra no filme, Jon Krakaeur acabou não chegando ao topo do Everest, mas retratou a situação de forma muito dura em seu livro "Into Thin Air: Death on Everest" que já gerou outro filme para a TV, mas aqui a equipe de roteiristas não aliviou o texto para lado nenhum, deixando que o diretor criasse um âmbito bem forte para a trama, e fizesse com que o público não saísse da sala do cinema empolgado de ter visto um longa envolvente, mas a expressão era de uma depressão incrível estampada na maioria. Claro que isso não é algo bom de se transmitir com um filme, mas aparentemente esse era o objetivo claro, ao retratar a história, então o acerto digamos que foi bem feito, e quanto aos enquadramentos escolhidos, digamos que ficaram incríveis com o que as câmeras conseguiram captar tanto em profundidade, quanto nos ângulos mais precisos para que nem os protagonistas ficassem de fora, nem a montanha ficasse deixada como coadjuvante, ou seja, impactante.
Embora Christian Bale tenha ficado de fora por motivos de agenda, acredito que até foi melhor sua saída, pois o longa seria mais centrado nele, e o resultado certamente seria outro, enquanto aqui, praticamente todos tiveram seus momentos expressivos bem pontuados e chamaram a responsabilidade para si, quando a câmera lhes enquadrou. Claro que o destaque fica por conta do protagonismo de Jason Clarke que colocou seu Rob como uma pessoa bem serena e interessante de ver na tela, mas o excesso de calma que o ator colocou no personagem quase fez com que seu protagonismo desaparecesse, afinal se o diretor resolvesse contar somente sua história, teríamos um longa muito chato de ver, claro que isso foi premeditado para mostrar a preocupação e carinho do personagem com os demais do grupo, e o ator fez bem esse papel, mas convenhamos que num lugar aonde está quase rolando uma competição econômica por quem leva mais pessoas até o topo, não devia ser tão calmo assim. Invertendo a forma calma, colocaram Jake Gyllenhaal como um Scott que é aventureiro nato, disposto a tudo e que encara o frio como seu maior "amigo", mesmo que isso lhe custe muito, e o ator foi tão bem despojado e interessante de ver que chamou muito a atenção tanto pelo visual completamente diferente do que estamos acostumados a ver, quanto pela dinâmica que criou nas cenas, e isso é algo que merecia mais tempo de tela para ele, o que acabou não ocorrendo. Muitos reclamam que Josh Brolin é canastrão, possui sempre uma expressão forte e não perde nunca sua pose de mal nos filmes que faz, então nada melhor do que lhe entregar o papel de Beck para que ele incorporasse o personagem à sua maneira e agradasse demais com boas expressões e até uma pitada de humor negro bem interessante, ou seja, agrada bastante quando está em tela. Sam Worthington está aproveitando seus últimos momentos antes de entrar nos próximos 50 Avatar que Cameron vai lhe impôr para trabalhar papéis menos impactantes, e aqui seu Guy até tem boa participação nos momentos finais do longa, meio que trabalhando expressões de dor emocional de uma forma bem pontual, e isso é legal de ver em um ator, claro que no restante do longa ficou um pouco apagado, mas quando precisou, fez bem. Envelheceram tanto John Hawkes para o papel de Doug que mesmo já sendo velho, aparentou estar mais acabado ainda, e claro que suas cenas foram bem emocionantes, não só por tudo o que demonstrou na história, mas pela expressividade que o ator conseguiu por na tela, ou seja, ainda tem muito gás para gastar e agradar. No lado feminino da história, tivemos quatro boas atrizes mandando muito bem no que foi pedido, a começar por Emily Watson com sua Hellen, que trabalhou bem as expressões tanto que acaba comovendo nas atitudes mais simples que seriam comuns de ver, e isso mostra o cuidado da atriz em não pesar caras e bocas, mas sim envolver na situação. Keira Knightley pôs sua Jan como alguém bem importante no longa, mesmo não estando lá no Everest, e também trabalhando um lado mais emotivo, acabou comovendo o público com o que faz nas cenas ao telefone, mas demonstrando expressão no que está fazendo. Também longe do frio, Robin Wright fez de sua Peach, uma mulher forte e determinada a conseguir o que precisava, não sei se a história real dela mostra sendo alguém importante, mas agradou principalmente no momento da notícia ruim. E para fechar esse parágrafo imenso, vale dar um último destaque para Naoko Mori que assim como Hawkes aparentou ser muito mais velha e na chegada ao topo de sua Yasuko conseguiu também ser bem expressiva, agradando e dando conteúdo na forma que já havia expressado na mesa de entrevistas.
Cenograficamente, o excesso de branco pode ser deveras cansativo e incomodar bastante nas sessões 2D, pois como os óculos das sessões 3D tiram um pouco do brilho da tela, ainda assim em alguns momentos mais longos chega a cansar a vista, então quem não for ver o longa com a tecnologia tridimensional, depois venha falar aqui nos comentários se houve o incômodo. Dito isso, posso dizer com certeza, que a loucura do diretor em gravar na locação exata dos fatos foi embora uma maluquice em termos de levar equipamentos, equipes e tudo mais para o Nepal, mas por um outro lado, o resultado não ficou artificial de maneira alguma, conseguimos sentir o gelo, o frio, e tudo mais que os personagens passaram, usaram figurinos condizentes (mesmo que a moda em 96 possa ter sido outra, na neve, o tradicional casaco é o de praxe), bons elementos cênicos para representar cada momento, como barracas nas bases e postos de parada, os cilindros de gás e tudo mais que foi colocado à prova para representar bem cada ato do filme, e inclusive nos mais religiosos, souberam simbolizar de maneira interessante e agradável de ver, sem forçar a barra para algum lado, ou seja, um grande acerto artístico. Particularmente, sou um amante do charme de filmes na neve, pela ótima fotografia que acabamos tendo, e aqui souberam dosar os efeitos para as cenas mais fortes não ficarem tão desfocadas, o que é um agrado incrível, além disso, como o branco do cenário é extremamente forte, não foi necessário uma iluminação de preenchimento mais comum de longas diurnos, e nas cenas a noite e internas, a opção de pequenas iluminações deram um charme a mais para o resultado final. Sei que muitos irão reclamar do 3D do filme, afinal o pessoal lê 3D e já acha que tudo vai voar em sua direção, e não é bem assim que acontece aqui, afinal foi filmado muitas cenas com as câmeras Imax e isso acabou dando uma excelente profundidade para o espaço do filme, temos até alguns momentos com forte nevasca que parecemos estar junto dos protagonistas no meio da neve, mas nada que seja impressionante nesse quesito, mas como disse os óculos devem amenizar o branco forte e claro mostrar boas cenas com a profundidade que quiseram impôr.
No quesito sonoro, claro que tivemos diversos momentos aonde a trilha foi usada para comover, o que é um fato no estilo, mas as melhores cenas foram aonde o silêncio dominou, aí o funcionamento da trilha entra na sequência para complementar ainda toda a ausência de som impressionante que teve antes e comove ainda mais, ou seja, um excelente trabalho de Dario Marianelli que soube compôr cada ato, exatamente como uma orquestra deve acompanhar sua ópera.
Enfim, um filme muito interessante e bem feito que mesmo trabalhando mais o lado documental e emocionante da escalada, ainda pode trabalhar bem um pouco algumas nuances ficcionais para comover e trabalhar com o sentimento do público. Como disse, o 3D não é algo que vai ser deslumbrante, mas agradará quem gosta de ver boas profundidades de campo. Quem não gosta de filmes mais lentos, talvez reclame um pouco do ritmo, que demora a ser atacado, mas tudo funciona muito bem para que não fique nem monótono demais, nem acelerado, e isso é interessante para que o público se envolva a cada momento. Portanto, com certeza recomendo bastante o filme para todos, mas certamente sei que aparecerão muitos do contra que preferem coisas mais clássicas. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, ainda tenho mais um longa para conferir da semana passada que ficou para trás, então volto em breve com mais um post. Por enquanto deixo meus abraços e um até breve com vocês.
4 comentários:
Gostei do filme, senti muito frio assistindo, era uma sessão normal, mas parecia 4D.
Me surpreendi ao ler a sua crítica e descobrir que o filme foi feito algumas parte lá no Evereste.
Olá Wesley, até falei isso pro gerente, podiam ter aumentado o ar no talo pra ser quase um 4D, mas se teve nego reclamando até do som da sala Imax pra ele durante os trailers, imagina o que iam falar do ar... povo ultimamente tá chato demais nas salas, acostumaram com VIPs da vida e acham que tudo tem de ser blasé! O diretor é louco mesmo de gravar lá, mas ele curte realismos, então mais loucos são os atores que caem no conto do vigário junto rss... Abraços!
Boa tarde!
É verdade todos são loucos, inclusive eu, pois se fosse ator, também aceitaria. Gosto de assistir filmes que foram gravados em locais reais, efeitos práticos, dá uma sensação a mais para todos, para o ator que está interpretando e até para nós que estamos assistindo.
Os efeitos especiais digitais são bons também, mas a sensação de ser o personagem é muito maior.
Rsss... você é do time dos loucos então Wewe!! Eu também prefiro quando vão mais para locais reais, do que nossos amigos fundos verdes!! Mas aqui o cara pirou total, li outro dia o diário do fotógrafo que perderam 5 câmeras com equipamentos de cristais líquidos que congelaram, então imagina o povo!!! Abraços!
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