Se tem uma coisa que afasta já meio mundo de um filme é uma guitarra no pôster, e um trailer musicalizado, pois os anti-musicais já desistem, outros já falam que não vai prestar e por aí vai. Porém o que posso adiantar aos mais assustados é que "Ricki and The Flash: De Volta Pra Casa" não é um longa musical, pois o funcionamento das canções que já são bem conhecidas no mundo do Rock'n Roll, é mais para mostrar a banda como qualquer outra que toca em bares e não que as letras vão servir de base para a história. Dito isso, se você não curte o estilo musical, já pode ver o filme mais tranquilo, porém o filme vai servir mais para ouvirmos mesmo Meryl Streep cantando essas músicas que tanto gostamos numa nova versão, pois a dramaticidade da trama é fraca demais, e totalmente previsível logo na primeira cena, e quem ver o trailer então já saberá praticamente o filme inteiro, além de que estranhamente há um momento no filme que parece que teremos um ponto crítico de virada, e no corte sequencial já estamos em casa com tudo rolando muito bem calmo, ou seja, faltou alguma coisa para que o longa se desenvolvesse. Porém mesmo sendo uma sessão da tarde bem light, o longa se faz valer pelas boas canções, então quem curte, irá cantar junto com Meryl, vendo um filme bem levinho na poltrona do cinema.
O filme nos mostra que com mais de 50 anos de idade, Ricki é uma cantora de rock, que sempre se apresenta com a banda The Flash em um pequeno bar. A situação financeira é precária, e ela não vê os filhos adultos há décadas. Um dia, o ex-marido Pete liga para Ricki, avisando que a filha Julie foi abandonada pelo marido, e acaba pedindo ajuda para tirá-la de um estado depressivo. Reticente, a mãe retorna ao lar, e descobre que tanto Julie quanto seus dois irmãos têm muito ressentimento por causa do abandono quando eram crianças. Essa é a oportunidade para Ricki fazer as pazes e tentar ser mais presente na vida deles.
Antes de tudo é interessante observarmos a trajetória do diretor Jonathan Demme, pois depois de fazer longas de terror de arrepiar a espinha como foram "Silêncio dos Inocentes" e "Sob o Domínio do Mal", tendo no meio do caminho um "Filadélfia", acabou meio evaporado dos holofotes fazendo mais documentário do que ficção, e agora depois de tantos anos resolve cair sobre uma comédia dramática tão leve como essa é algo que não faz muito sentido, porém ainda conseguimos ver aqui ou ali, uma boa tomada mais impressiva aonde mostrou que tem domínio de estilo próprio, mas como disse acima, falhou no corte de determinadas cenas, que poderiam impactar mais, deixando a dramaticidade mais forte da trama oculta (é possível interpretar as cenas com o que ocorre, mas acabaram ficando de fora da versão final) para que o filme ficasse mais calmo e leve, o que não condiz com seu estilo. O texto da roteirista Diablo Cody segundo consta foi baseado em sua sogra que liderou uma banda, e até dá para se pensar na ideia pela cena de encerramento, porém o talento que teve para escrever "Juno" e "Jovens Adultos" nem passou perto do texto que fez aqui, pois até a situação em si é bacana, mas faltou determinação na linha que iria seguir, e principalmente colocar um clímax melhor do que a cena das duas mães no quarto, pois o filme tinha uma linhagem interessante que poderia agradar mais no conteúdo do que apenas ficar dependente para quem quer apenas ouvir as canções maravilhosamente interpretadas por Meryl.
Antes de falar dos atores do filme, temos de dar os parabéns para todos os músicos que tocaram realmente junto com os protagonistas, Joe Vitale na bateria, Bernie Worrel nos teclados e Rick Rosas no baixo, formando uma banda de verdade, então antes que atirem pedras, eles não estão ali para fazerem caras e bocas, mas sim para ser a banda The Flash da Meryl, e tocar muito as excelentes canções escolhidas. Agora falando um pouco sobre os atores principais, Meryl Streep como sempre detona em tudo que faz, e sua roqueira é perfeita, descolada, sem dinheiro, cheia de trejeitos e claro sútil quando precisa ser forte, além de mandar super bem na interpretação, a nossa grande atriz ainda aprendeu a tocar guitarra com Neil Young para não fazer feio junto da banda, aonde botou a voz para todas as músicas, afinal depois de tantos musicais, ela já está acostumada, e fez muito bem como sempre, transformando sua Ricki/Linda em um mito do rock. Rick Springfield podemos considerar mais como músico, afinal já ganhou diversos prêmios com isso do que ator, pois só anda fazendo pontas em seriados, então nem é tão expressivo assim, mas seu Greg saiu-se bem tanto na guitarra quanto nos momentos em que precisou botar a interpretação para jogo, e assim fechou o filme interessante. Pra quem não sabe Mamie Gummer é filha real de Meryl e portanto não se assuste se acabar achando que Meryl está fazendo dois papeis no filme, pois Julie é sua versão mais nova e menos bonita, e a atriz de 32 anos possui muita expressão em seu perfil, fazendo caras fortes e determinadas para suas cenas, mostrou para a mãe que não estava para brincadeira no longa, e quem sabe logo desponte mais em papeis mais imersivos e certamente vai agradar, afinal se puxar só 10% do talento da mãe já deve ao menos ser indicada ao Oscar. Kevin Kline já fez papeis melhores, e aqui pareceu meio que desanimado para com seu Pete, pois em quase todas as cenas, ele está meio que de lado, fugindo da câmera, e isso não é comum para um ator, então ficou meio falso seus momentos em que demonstrou mais afeto, e assim atrapalhando em parte o estilo que o filme pedia. Audra McDonald veio com tudo com sua Maureen, aparecendo somente em três cenas, mas logo na segunda já colocou as luvas de boxe e quase nocauteou a protagonista com classe, muito boa expressão e interpretação do texto que lhe foi dado, soando perfeita. Sebastian Stan como Josh, Nick Westrate como Adam e Hailey Gates como Emily foram praticamente enfeites de cena, aparecendo somente em duas ou três cenas cada para não fazer quase nada pelo filme, e isso é algo estranho, já que são filhos da protagonista e despontam no final como algo até que importante.
No conceito visual, o bar aonde a banda toca ficou muito bem feito, e embora com pouquíssimos figurantes, todas as cenas foram bem desenvolvidas e tiveram todo charme possível para que o longa se encaixasse perfeitamente ali, com bons elementos cênicos e uma clareza bem típica de bares aonde bandas tocam por muitos anos para frequentadores fiéis da casa. O supermercado aonde a protagonista trabalha serviu apenas para uma cena que ela fala de códigos de barra e da sua vida inútil que muitos músicos são obrigados a ter para se manter, afinal a profissão de artista é algo que não é valorizado, e a simbologia até foi bem trabalhada, mas se quisessem cortar não atrapalharia quase nada. A mansão de Pete foi muito bem trabalhada nos elementos para que tudo ali servisse para culminar nas diferenças dos personagens e ficou bem bacana de ver. Já o estilo de casamento do final, ficou um pouco bobo demais, embora esteja na moda essa onda verde. Ou seja, praticamente 4 ou 5 cenários que conseguiram desenvolver bem a história e agradar com todo o trabalho feito pela direção artística. Já a direção de fotografia trabalhou bem pouco com cores, sombras e símbolos, afinal estamos em algo bem leve e que o tradicional por si só já supre tudo, mas certamente poderiam ter dramatizado algumas cenas para agradar mais, colocando alguns tons mais escuros para algumas cenas ficarem densas e assim teríamos uma dramédia melhor.
Claro que como disse, por ter muitos problemas na história e ficar leve demais, o que faz valer o filme é a excelente trilha sonora, que interpretada maravilhosamente por Meryl, Rick e banda, não tem como não se envolver e ficar dançando e batendo os pés durante toda a sessão, portanto eu não seria maldoso de não deixar aqui o link para ouvir todas as canções que foram escolhidas na medida para agradar. Aqui todas da banda: link e aqui todas do filme, inclusive as que não são interpretadas por Meryl: link.
Enfim, um filme razoável que pode ser visto tranquilamente em qualquer horário, mais para um relaxamento do que por ter uma trama envolvente e bem desenvolvida, mas que repito, vale muito pelas performances, ou seja, quem estiver de boa e gostar desse estilo mais leve, certamente vale a pena conferir. Portanto, acabo recomendando ele com essas ressalvas, pois não vá esperando ver um longa dramático, cheio de histórias e reviravoltas, que esse não é o que foi feito, e se tivessem trabalhado isso seria algo genial, mas como não foi, com muita certeza os críticos que gostam mais de história do que de produção, vão reclamar horrores do longa. Bem é isso pessoal, esse foi apenas o primeiro de uma semana lotada de estreias, então abraços e até breve com mais posts.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...