Transformar séries de sucesso da TV em filmes é algo que já existe há tempos e geralmente costuma funcionar, mas a simples ideia de transformar um programa de esquetes cômicas em filme foi algo abusivo que infelizmente não funcionou para "Vai Que Cola", pois todos os atores pareceram perdidos em cena, fazendo seus personagens que na TV divertem bastante, mas que no filme, soltos de uma trama mais condizente, acabaram destoando e ficando apenas uma bagunça sem precedentes e lotada de gritaria, ou seja, muito longe de qualquer classificação como cinema mesmo. Claro que em alguns momentos o longa até recai para boas piadas, mas a sensação geral é de que ninguém sabe para que rumos o filme quer tomar e tudo vai rolando e enrolando tanto que ao final até temos um encerramento, mas se não fosse mais palavras ditas durante o crédito iríamos sair da sala pensando o motivo de termos pago para ver o filme.
O filme inicia nos mostrando que Valdomiro perde todo seu dinheiro ao ser envolver em um golpe na empresa da qual era sócio. Para fugir da polícia, Valdo se muda para a pensão da Dona Jô, no subúrbio do Rio de Janeiro, onde passa os dias reclamando da nova realidade e sonhando com sua antiga vida de luxo. Um dia, quando um ex-sócio aparece com um plano para recuperar sua cobertura de frente para o mar, Valdo acha suas preces foram atendidas, mas ele não esperava ter que leva toda a turma do subúrbio com ele.
Em suma não posso dizer que o roteiro é ruim, apenas devo dizer que ele é quase inexistente, pois volto a repetir, todos parecem estar fazendo o que estão com vontade de fazer na frente da tela, interpretando sua própria esquete e esquecendo do conteúdo geral da trama, a qual podemos ver pela sinopse, e que até em alguns momentos parece que vai acontecer realmente, mas dois segundos se passam, e novamente alguma bagunça está ocorrendo para que algo seja "engraçado" com a situação de algum personagem da trama. Ou seja, continuo afirmando que o resultado não é um filme, mas talvez um episódio mais alongado da série que ao colocar mais do que a quantidade de esquetes comuns do programa, não caberia para ser passada na telinha, e assim resolveram colocar nos cinemas, principalmente por ser uma das séries nacionais mais assistidas da TV paga. O diretor Cesar Rodrigues teve uma grande ideia ao se juntar com os roteiristas Leandro Soares (que escreveu diversos episódios da série) e Luiz Noronha (em sua estreia como roteirista, após produzir diversos grandes filmes): vamos fazer o longa como se fosse um filme do Woody Allen, aonde o protagonista quebra a quarta parede e fica "conversando" com os espectadores, meio que contando o que está achando do "seu" filme, e infelizmente isso que poderia ser um charme a mais para a trama se tivesse funcionado, acaba ficando falso na segunda tentativa e daí pra frente é só incômodo, ou seja, poderiam ter economizado nesse estilo e pensado em fazer com que o filme virasse cinema realmente, e a trama principal acontecesse sem necessidade de diversas esquetes, e aí sim teríamos uma comédia divertida realmente que valesse a sessão.
Quanto dos atores, até que mesmo na bagunça completa que foi o longa, a maioria caiu bem para seus papeis e até que ficaram interessantes. Claro que sempre vamos esperar muito do humorista Paulo Gustavo, afinal ele é um dos melhores no quesito diversão no país, mas o seu Valdomiro funcionou pouco na maior parte do longa, cansando demais ao ficar repetindo todo momento seus trejeitos e tentando conversar com o público, o que acabou deixando bem de lado as boas piadas que poderia colocar e pontuar como fez em diversas cenas, aonde o público acaba rindo, ou seja, mal aproveitado demais. Samantha Schmütz é outra grande comediante que merecia mais cenas no filme, pois sua Jéssica em todas as cenas que aparecia, roubava a tela só para ela com muita diversão e claro abusando do estilo sensual estranho que faz, e isso para o filme funcionou muito bem, de modo que de todos é a que mais funcionou. Embora o personagem de Marcus Majella, Ferdinando, seja bem estereotipado e divertido, ele grita demais, e isso acaba incomodando tanto, que quando faz sutilezas diverte e agrada bem mais, ou seja, poderiam ter mantido o estilo menos afetado que o sucesso seria bem maior. Cacau Protásio já mostrou em novelas e séries que sabe fazer seu serviço de interpretação muito bem, mas aqui com sua Terezinha, tudo acabou ficando tão grotesco que chega a assustar mais do que divertir, e certamente se fosse algo mais sútil, ela chamaria a atenção e divertiria ainda com a mesma pegada. Catarina Abdala teve até que um certo trabalho no longa, afinal está presente na grande maioria das cenas com sua personagem Dona Jô, e possui bons trejeitos, tentou usar uma comicidade mais tradicional, mas o filme não pedia isso infelizmente, e logo era apagada por alguma barbaridade, ou seja, mesmo estando em 90% do filme, muitos daqui a alguns dias nem vai lembrar que ela fez o filme, o que é bem triste. Fiorella Mattheis com sua Velna só temos que dizer que assim como na sua cena na praia que já está no trailer para o trânsito, nas cenas restantes em que aparece sempre de biquini, só serve para parar o filme com os olhos voltados para ela, mas ainda estou procurando saber se ela falou alguma coisa. Werner Schünemann ainda deve estar contando o dinheiro que ganhou de cachê para fazer o filme, pois não é sua praia a comédia, e com toda certeza era claro no filme que estava perdido sem saber para onde atacar, e como seu estilo sempre foi de grandes interpretações, o seu Quaresma, até que ficou bem encaixado, mas imóvel frente a bagunça que foi jogado. Oscar Magrini até se soltou mais com seu Brito, mas nada que ficasse muito chamativo e em diversos momentos apenas funcionou como enfeite cênico, o que é nada agradável de ver. Falei até que muito dos atores, e praticamente citei todos que apareceram no filme, portanto é melhor deixar de lado Emiliano D'Avila e Fernando Caruso, pois esses foram mais enfeites que o Magrini.
Sobre a cenografia, basicamente só temos duas locações, a periferia colorida do Meier e o luxo cinzento do Leblon, e a equipe artística foi bem clara em montar os ambientes e pesar a mão no figurino dos personagens para representar isso, não que alguém necessite reparar, afinal o protagonista faz questão de falar em alto e bom som isso, mas no geral, a direção de arte e de fotografia, foram os que mais prezaram a ideologia de cinema e agradaram bem no que fizeram, inclusive colocando muitos atores conhecidos como objetos cênicos também, e trabalhando a iluminação com toda classe possível para realçar cada detalhe, ou seja, prezaram pelo menos nas questões técnicas para que parecesse um filme realmente.
Enfim, é algo que até conseguimos rir e se divertir em alguns momentos, mas está totalmente longe de ser algo que podemos chamar de filme, e isso é algo que infelizmente tenho de pesar a mão tanto na nota, como na recomendação para quem quiser ir ver nos cinemas, pois repito que é algo mais próximo da série com uma pegada mais alongada e explicativa de diversos momentos, e que por manter o estilão bagunçado, acabaram esquecendo de desenvolver melhor a trama e aí sim divertir com boas piadas e até inserindo as esquetes cômicas boas do programa. Portanto, só vá ao cinema se tiver muita certeza de que deseja ver isso que falei, senão a chance de rir somente em alguns momentos e sair decepcionado com o que verá é bem alta. Fico por aqui hoje, mas ainda nessa semana cinematográfica tenho dois documentários musicais para conferir, então abraços e até breve pessoal.
PS: Pelos momentos divertidos e pela boa concepção artística a nota será 5 coelhos, mas facilmente daria para dar bem menos pelo resultado geral.
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