Classe! Essa é uma palavra que poucos diretores podem eximir o direito de falar que possui, e certamente um deles é Guillermo Del Toro, pois mesmo que "A Colina Escarlate" seja classificado como terror e tenha algumas cenas fortes de mortes e facadas, ele se preocupou tanto com a estética visual que somos transportados para uma época clássica, com figurinos belíssimos, casarões monstruosos e claro festas para a alta sociedade. E além de ser um bom filme, por não pegar tão pesado no terror, apenas usando seu estilo estranho diferenciado, pela primeira vez em anos, vi uma sala de 300 lugares quase lotada para um filme de terror. E dessa maneira, não posso dizer que alguém vai ficar com medo de algo que ocorre no filme e não irá dormir pensando nele, mas posso com toda certeza dizer que o Oscar de Figurino e Direção de Arte já tem um indicado!
O longa nos mostra que apaixonada pelo misterioso Sir Thomas Sharpe, a escritora Edith Cushing muda-se para sua sombria mansão no alto de uma colina. Habitada também por sua fria cunhada Lucille Sharpe, a casa tem uma história macabra e a forte presença de seres de outro mundo.
A sinopse em si é simples por ser um filme que nem dá para se falar muito, mas tudo tem algum sentido de estar na tela e deve ser visto cada detalhe em cada canto. O roteiro que Del Toro criou junto de seu parceiro de outros longas Matthew Robbins cria todo um suspense em cima de ilusões, e colocam os fantasmas não como monstros, mas sim elementos do passado que tentam mostrar algo para você, e juntamente disso coloca toda a visão crítica sobre a forma que a classificação hierárquica das classes contava para conseguir algo no passado. Com o roteiro em mãos, Del Toro partiu para o que mais sabe fazer no seu estilo de dirigir, trabalhar os elementos cênicos de modo que falassem por si, não necessitando explicar nada com frases prontas ou repetições cênicas, deixando que o público construa sua própria história ao ver os objetos estranhos espalhados pelo ambiente, no melhor estilo daqueles jogos de caça-objetos que tanto vemos pela internet. E para evidenciar cada um e criar ainda mais suspense, o diretor soube escolher cada ângulo de câmera mais impressionante que o outro, além claro de cobrar o pessoal da arte para colocar muitas paredes vazadas, dando uma movimentação incrível de câmeras para deixar os momentos subliminares mais incríveis ainda, afinal a estética criada pelo diretor em quase todos os filmes que botou as mãos são sempre fantásticas, e ainda botando algumas pitadas assustadoras ao mesmo tempo, não temos do que reclamar nesse quesito.
Quanto das atuações, um fato claro é que o trio principal se destaque frente aos demais personagens, e isso em parte foi bom para criar o suspense, mas o diretor também deu sorte de que os três se entregaram e incorporaram toda a responsabilidade que o filme pedia. Mia Wasikowska mostra que cresceu muito no seu estilo de atuar e aqui traz um semblante incrível que a personagem Edith pedia, criando nuances expressivas e mostrando seu jeito próprio de lidar tanto com os fantasmas, quanto com seu amor platônico pelo protagonista (a quem já teve uma quedinha em "Amantes Eternos"), e a química entre eles ficou bem interessante de ser vista, de modo que o resultado então pode mostrar que ela está rumando para chegar em breve num ponto ótimo da carreira superando todas as críticas que a bombardearam ao começar a pegar grandes papeis. Tom Hiddleston sempre vai ser conhecido pelo público como o eterno Loki, mas o ator vem trabalhando tão bem ultimamente que mostra que sempre se entregara aos personagens que pegar, e aqui trabalhou a serenidade que é sua marca clássica para chamar atenção no desespero amoroso de seu Thomas Sharpe contra tudo o que sua família estranha mantinha em casa, e isso é um dos grandes mistérios da trama que acabam agradando bastante de ver como ele interage com tudo. Claro que temos de aplaudir de pé Jessica Chastain que anda merecendo muito cada prêmio que tem ganhado, pois mesmo com um papel de coadjuvante, a atriz chamou a responsabilidade do longa para sua Lucille e a cada cena dava novos rumos para o suspense todo que a maioria já certamente havia chutado, mas acaba acertando com o brilho de uma amostragem maravilhosa que só uma grande atriz conseguiria, ou seja, só nesse último mês já tivemos duas grandes atuações suas, e logo mais deve aparecer algum que certamente irá transformá-la de indicação para vencedora do Oscar. Os demais personagens apenas funcionam bem como ligação da trama, mas os atores saíram tão icônicos em suas cenas que agradam demais quando aparecem, e dessa forma tenho de citar três grandes bons atores: Charlie Hunnam com seu Dr.Alan que se mostra desesperado pela protagonista e faz boas caras de paixonite aguda chamando atenção quando vai atrás de sua amiga amada, Jim Beaver caiu bem como o pai da protagonista e sua cena no clube podemos dizer que foi uma das mais fortes do longa sem dúvida alguma, embora seja completamente esperada. E para finalizar tenho de falar claro de Doug Jones, que mesmo não aparecendo como ele mesmo, caiu muito bem suas expressões nos dois fantasmas tanto da mãe de Edith quanto de Lady Sharpe, e como ele é especialista em trabalhar como fantasma, aqui junto de Del Toro, deu um show a parte.
No conceito cênico, o filme literalmente é incrível, afinal o diretor sempre preza por criar grandes cenografias em seus filmes e com isso representar tudo graficamente, e claro que nada é bem comum, afinal senão não seria um filme do diretor. Então claro que se todo o contexto visual criado não ganhar ao menos uma indicação para todos os prêmios possíveis podem falar que realmente tudo é roubado, pois foi perfeito cada elemento desde a mansão, a neve se misturando com a argila vermelha, os figurinos incríveis de época, a maquiagem e cabelo perfeitamente produzido para representar as cenas desde as mais tensas até as mais romantizadas, as cenografias de época perfeitas para mostrar os EUA no século XIX e tudo mais que daria para falar por horas. A equipe de fotografia soube escolher bem os ângulos que melhor combinariam toda fotografia incrível dos cenários junto de uma iluminação característica bem chamativa que desse sombras certas para cada momento e ainda incrivelmente agradasse demais em tudo na junção dos efeitos especiais que criassem os fantasmas, ou seja, quase truques simples de câmera, mas que deram toda a magia para o filme.
Um ótimo trabalho também recaiu na junção da trilha sonora densa com todos os barulhos de vento, rangidos e sons estranhos que trabalharam para compor a ambiência da trama, mas diferentemente do que costuma ocorrer em longas de suspense/terror, aqui tudo foi usado apenas de forma representativa e não forçando o público a se assustar, ou seja, ajudou a dar ritmo e a criar tudo que a trama necessitava.
Enfim, é um excelente filme de suspense que junto de muita simbologia e toda uma recriação de época consegue agradar muito, e por não ser tão assustador posso com toda certeza acabar recomendando ele para todos, pois até mesmo para aqueles que morrem de medo de ver um longa de terror, irão assistir tudo tranquilamente sem passar grandes apertos com o diferencial da trama. Portanto, vá em uma boa sala de cinema e confira o longa, afinal com o calor que está, nada melhor do que um bom filme numa sala de cinema com o ar condicionado bem fresco. Bem é isso pessoal, fico por aqui nessa semana cinematográfica, mas na quinta estou de volta com novas estreias, então abraços e até breve.
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