Grace de Mônaco

10/30/2015 12:49:00 AM |

Algumas vezes que me perguntaram o que achava de filmes biográficos ou que se baseavam em personagens conhecidos do público, dei uma resposta fria e conclusiva: que deveriam se prender completamente ao carisma que o personagem tinha e com isso desenvolver uma história cativante, emocionante e que mostraria a alma artística do personagem, ou então esquecer tudo o que a pessoa fez e focar numa história paralela aonde apenas a pessoa fizesse uma leve participação de modo que o filme não fosse sobre a pessoa de maneira alguma, apenas aparecesse ou marcasse em algum momento. Mas infelizmente temos alguns diretores que acabam ficando na dúvida e ficam totalmente em cima do muro, fazendo um filme que não ataque para lado algum e dessa maneira também não agrade ninguém, e o do momento (ao menos no Brasil, já que na maioria dos países foi lançado em Maio de 2014) é "Grace de Mônaco", em que Nicole Kidman até chega a comover pela personalidade que incorpora, mas a história acaba ficando tão cansativa em seu miolo, que por bem pouco esse Coelho que vos digita não acabou dormindo na sala (salvo pelo alimento que levei para a sala!)

O filme nos mostra que o casamento de Grace Kelly e o príncipe Rainier III foi considerado um conto de fadas na vida real quando aconteceu, em 1956. Entretanto, cinco anos mais tarde e com dois filhos, a verdade é que Grace está insatisfeita com a vida no palácio e o distanciamento do marido. A chance de novamente sentir-se útil surge quando seu velho amigo, o diretor Alfred Hitchcock, a convida para retornar ao cinema como protagonista de seu próximo filme: "Marnie - Confissões de uma Ladra". O problema é que Rainier é terminantemente contra e, ainda por cima, está envolvido com uma ameaça vinda do presidente francês Charles de Gaule: caso Mônaco não pague impostos à França e acabe com o paraíso fiscal existente, o principado será invadido em seis meses. Em meio às inevitáveis tensões, Grace e Rainier buscam resolver seus problemas tentando evitar que eles causem o divórcio.

Pronto, basta ler a sinopse acima e você nem precisa assistir mais ao filme, pois está tudo o que irá ocorrer minuciosamente nos 103 minutos de duração da trama, ou seja, 10 linhas que são enroladas calmamente não levando praticamente a lugar algum, e colocando tantos atores para parecer algo mais filosofado sobre questões políticas que realmente acabam esquecendo do título do filme. Um ponto interessante nessa análise seria de quem a culpa, do roteiro que não focou tanto em Grace ou do diretor que superestimou a capacidade de Kidman em chamar a atenção para si no meio de conflitos que não foram tão interessantes (ao menos da forma que foi mostrada)? Como Olivier Dahan conseguiu sair-se muito bem em "Piaf - Um Hino ao Amor", posso apostar minhas fichas que a culpa ficou em meio aos roteiristas e claro um pouco a produção por querer mostrar questões políticas num filme biográfico, ou seja, o filme brecou e o diretor não pode ser criativo como gostaria, e sempre que tentou por algo a mais se perdeu no restante, de modo que sem dúvida alguma o grande ponto da trama é a última cena, e esperar todo esse tempo para uma única cena não é algo que faça o público pagante muito feliz, e assim sendo, alguns países optaram por lançar diretamente o filme em home-vídeo e outros nem isso fizeram.

Sobre as atuações, todos sabemos muito bem que Nicole Kidman é uma excelente atriz, e qualquer papel que lhe for entregue vai ser bem feito, mas Grace Kelly foi um marco muito grande tanto para o cinema, quanto ao virar princesa e ter diversas tarefas sociais e políticas para resolver, e se a atriz não adentrar completamente ao personagem, qualquer uma acabaria ficando fora do que o público iria esperar de alguém que fizesse o papel, ou seja, faltou que a direção entregasse o filme em suas mãos e ela optasse por quebrar todas as regras para fazer tudo o que sabe e agradar, mas para isso, teria de ter outro roteiro em mãos, então que façam outro longa homenageando a princesa que certamente vai sair um bom filme. Tim Roth também é um bom ator, mas seu príncipe Rainier ficou tão fraco e sem opinião formada, que se realmente o governante foi desse jeito, certamente se nossa governante fosse mais jovem poderia dizer que ela é uma reencarnação dele, ao menos a caracterização ficou bem feita. Roger Ashton-Griffiths apareceu apenas quatro vezes, mas podemos dizer que sua incorporação de Hitchcock ficou melhor que todos os outros atores que tentaram em filmes próprios sobre o diretor, impostando voz e caracterização bem próxima do que sabemos sobre ele, ou seja, se fizerem outro filme sobre a vida de Hitch, já sabem quem chamar. Outro ator que mandou muito bem, mas com pouquíssimas cenas foi Frank Langella, mas isso nem precisaria dizer, afinal nunca vi um filme que ele tenha falhado, e seu Padre Tucker ficou tão bem colocado, que várias de suas cenas acabaram chamando mais atenção que o filme todo.

Visualmente, tirando as maquiagens e caracterizações, o longa trabalhou bem pouco a questão cenográfica de um palácio, aparentando um baixo orçamento para a equipe de arte, pois tudo parecia focar mais numa sala de discussões e em varandas, tendo uma ou outra cena que expressasse o luxo da realeza tão característica de Mônaco, e sendo assim o filme acaba ficando fraco nesse quesito que ao menos poderia apagar os erros de roteiro com uma produção ao menos mais grandiosa. Quanto da fotografia, usaram boas cenas com luz natural para realçar alguns tons mais vivos, e nas cenas internas procuraram deixar tudo num cinza mais fechado para criar o conflito político, mas como estamos falando de um longa que mostra uma determinada época poderiam ter trabalhado mais com tons puxando para o sépia que ao menos mostraria algo mais clássico, e não só ficar tentando a todo momento algo que não era possível, outra grande ideia seria jogar o longa inteiro para preto e branco, que certamente viraria algo cult e chamaria muita atenção.

Enfim, é um longa que tentou diversas coisas sem conseguir nenhuma, e volto a repetir minha tese de que se o filme demora mais do que 6 meses para ser lançado mundialmente, certamente é uma bomba que ninguém vai fazer questão de ver, ou seja, não tenho como recomendar o filme para ninguém, pois vai ser algo que não vai envolver como ficção, não vai mostrar nada historicamente importante e que valha a pena ser visto na telona. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas foi apenas o início dessa semana cinematográfica curta, então abraços e até breve meus amigos.


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