Um Amor a Cada Esquina (She's Funny That Way)

10/17/2015 12:27:00 AM |

Sempre é uma grata surpresa conferir uma comédia romântica leve bem trabalhada nas interpretações que não necessite forçar a barra para fazer com que o público ria. Isso frequentemente ocorre com os longas franceses, mas ultimamente até que alguns diretores americanos tem acertado a mão nesse estilo e acabaram agradando o público mais exigente de história frente à escatologias para se divertir. E com "Um Amor a Cada Esquina", o diretor Peter Bogdanovich volta depois de um longo período fora das telonas com classe e boa sintonia junto da produção amalucada de Wes Anderson, resultando num filme delicioso de acompanhar conflito por conflito, que parece voar no tempo.

O longa nos mostra que tudo o que a garota de programa Izzy quer da vida é virar atriz. Um de seus clientes é Arnold, um famoso diretor de teatro, que lhe oferece US$ 30 mil para abandonar a prostituição. Mas, coincidentemente, ela consegue o papel de prostituta na peça de Arnold, estrelada por sua esposa (Kathryn Hahn), que, por sua vez, já teve um caso com um dos atores da produção (Rhys Ifans). No meio dessa confusão ainda aparece o produtor da peça (Will Forte), que se apaixona por Izzy, deixando a terapeuta de ambos com ciúmes.

Embora a confusão toda que o roteiro nos propõe embarcar foi feito para causar a diversão, mas a história sendo contada pela protagonista como uma entrevista só serviu para juntar tudo no final e termos a grata surpresa de uma participação especial inusitada, pois o longa funcionaria tranquilamente apenas como a história do passado, e certamente até agradaria bem mais por não ter quebras na história. Mas como cada diretor possui um estilo próprio, Bogdanovich junto de sua ex-esposa Louise Stratten escreveram juntos o roteiro dessa maneira, e mesmo quebrando o filme a todo momento para perguntas inúteis feitas pela entrevistadora, a trama se desenvolve de uma forma gostosa e clássica, como poucos filmes tem aparecido nos últimos anos, e assim sendo resulta em algo que o público que gosta de coisas mais bem trabalhadas ao invés de apenas desenvolturas de câmeras, vai sair bem satisfeito com os ângulos escolhidos e principalmente com a história contada e montada na tela.

Um fato que sempre é bem curioso de ver em produções cômicas aonde não temos o fator constrangimento ou escatologias, é que os atores assumem seus papeis como ponto máximo para divertir, o que acaba tornando os filmes em produções tão vivas que cada personagem passa a ser tão importante quanto a história em si, e dessa maneira as combinações múltiplas que o diretor optou fazer aqui até podem parecer história de cidade pequena que todo mundo conhece todo mundo, mas ainda assim é um espetáculo curtir a loucura de cada um. Já venho falando há um tempo que Imogen Poots é uma atriz de talento bem claro que quando lhe é entregue um papel com dinâmica, acaba desenvolvendo e agradando muito, e aqui sua Izzy possui momentos agradáveis e bem contextualizados dentro da proposta do filme, além de usar seu carisma para emocionar quando necessita, ou seja, pacote completo de beleza e atuação para resultar numa personagem bem encaixada. Owen Wilson precisa parar de inventar moda de querer filmes bobos para atuar, pois desde "Meia-Noite em Paris" ele já mostrou que comédias inteligentes é a sua praia e que sempre acaba bem encaixado, aqui como o diretor Arnold acaba misturando um lado cafajeste romântico que certamente existem diversos por aí enganando as mulheres e seus trejeitos caíram como uma luva para o papel, de modo que nos divertimos, e mesmo bagunçando tudo acabamos torcendo para ele. Jennifer Aniston sempre arrasa em papeis que pode incrementar loucura e aqui como a terapeuta Jane, ela quebrou todas as regras possíveis de segurar o personagem no ritmo da trama, parecendo estar ligada no 220 e divertindo como nunca, e sendo perfeita como sempre. Todos os demais deram o sangue por seus personagens e divertiram bastante, mas ficar falando de cada um até seria um pouco repetitivo demais, então vou optar destacar entre os demais Kathry Halm, pela esposa temperamental que aparentava estar tudo bem até descobrir tudo e pirar geral, e Rhys Ifans como um ator canastrão que já tem sua linha de roupas, perfumes e afins, e mesmo quase na terceira idade, ainda se acha o galã máximo, pois ambos além de divertir bem em seus momentos separados, ainda tiveram uma boa química para os momentos juntos, ou seja, agradam bastante em tudo.

No conceito visual, a equipe de arte tentou transformar o longa meio que num épico, usando cabelos e figurinos diferenciados, trabalhando alguns elementos mais antigos e principalmente escolhendo locações mais detalhistas de época, o que acabou dando um certo charme para a produção, mas certamente o filme funcionaria em qualquer época pela temática, mas como o roteiro foi escrito nos anos 90, acabaram optando por esse estilo mas ambientado para concluir a trama e trabalhar bem com o visual dos personagens. A fotografia não inovou muito, afinal como sempre digo, comédias tem de ter tons quentes para divertir e não ficar se preocupando com firulas, e foi isso que o diretor de fotografia nos entregou: um longa simples, bem iluminado em todas as cenas e agradável de acompanhar.

Enfim, se você é da turma que gosta de longas clássicos e bem divertidos, aonde a trama se mistura tanto com conexões improváveis para fazer rir, certamente esse é o longa que irá divertir muito o seu final de semana, agora se você prefere comédias forçadas, talvez saia um pouco decepcionado com o que verá. E dito isso, com toda a certeza acabo recomendando demais ele para todos verem nos cinemas, mas creio que muitos da turma da pirataria já devem ter até visto o filme em casa, afinal estreou no Festival de Veneza de 2014 e na maioria dos países lançou comercialmente no começo do ano, ou seja, como caiu numa distribuidora pequena no Brasil, só apareceu nos cinemas agora, o que é bem triste, pois é um excelente filme. Fico por aqui agora, mas ainda falta uma estreia da semana para conferir, então abraços e até breve pessoal.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...