Aliança do Crime (Black Mass)

11/13/2015 01:01:00 AM |

Realmente devo estar me tornando um daqueles velhos chatos que querem uma resolução rápida de uma história ou que um longa tenha dinâmica suficiente para que não durma assistindo à sua trama. Felizmente ainda não foi dessa vez que um filme me fez dormir, mas "Aliança do Crime" possui tanta história, tantos personagens que foram apenas apresentados sem muito desenvolvimento, tantos diálogos alongados, que sua classificação de 16 anos por violência extrema se resume à umas cinco a seis cenas mais fortes, que nem são tão fortes assim, já que novelas e jornais mostram coisas bem piores na TV. E todo esse alongamento verborrágico acabou transformando um longa que poderia ser um policial completamente forte e dinâmico, em um longa cansativo que fez parecer seus míseros 103 minutos ter quase 6 horas de duração, e certamente só quem for realmente fã de histórias biográficas com muita conversa vai acabar gostando do que é mostrado, o restante corre sérios riscos de dormir se for em uma sala VIP por exemplo.

A sinopse nos mostra que na região sul de Boston nos anos 1970, o agente do FBI John Connolly convence o Mafioso irlandês James “Whitey” Bulger a colaborar com o FBI e eliminar um inimigo comum: a máfia italiana. O drama conta a história verdadeira desta aliança inusitada, que saiu do controle, permitindo que Whitey descumprisse leis impunemente, consolidasse seu poder e se tornasse um dos gângsteres mais cruéis e poderosos da história de Boston.

Se você leu a sinopse e ficou todo empolgado para ver um novo "Poderoso Chefão", mais moderno e dinâmico, cheio de violência e tudo mais, baixe a bola e volte para a realidade atual de filmes criativos e interessantes versus filmes com cara de Oscar que esquecem que o público hoje está cansado de enrolação. Digo isso devido à sintetização dramática que o diretor Scott Cooper deixou de lado e certamente está bem presente no livro em que foi baseado para criar um filme aonde os filósofos dos sindicatos do cinema e velhinhos votantes da academia de cinema vão se esbaldar com a quantidade de história que é colocada na tela, e principalmente sem se desenvolver muito. Não digo que um filme cheio de história seja ruim, mas que ela tenha uma dinâmica compreensiva e gostosa de acompanhar, usando como base o longa que comparei, no outro longa mafioso antigo temos muita história sendo contada, mas tudo tem ritmo, e os personagens são poucos, o que aqui optaram por um elenco cheio de estrelas que precisaram de tempo de tela (provavelmente por contrato) e com isso nem os dois protagonistas maiores chegam a ter grande destaque nas mãos do diretor, muito menos qualquer outro personagem chama a responsabilidade para que a história flua para seu lado, e assim sendo temos um longa que em momento algum podemos falar que é ruim, mas também está bem longe de ser algo que vamos lembrar daqui um tempo.

Sobre as atuações, com toda certeza podemos falar que Johnny Depp se entregou para o personagem James "Whitey" Bulger, de uma maneira tão diferente, que mesmo sabendo que ele sempre usa muita maquiagem para não mostrar sua "verdadeira" face, acabamos não reconhecendo ele logo de cara, e sem fazer tanta micagem ele acaba agradando bastante, só poderia ser o longa mais focado em tudo que ele fez e não no que não fez como acabamos vendo em diversas partes do longa, mas é fato claro que muitas cenas foram deletadas da versão final, e isso pode ter prejudicado a dinâmica também, porém o ator mandou bem novamente e quem sabe voltem a lembrar dele nas premiações. Joel Edgerton caiu bem no estilo de John Connolly, pois usou tanto a malandragem característica como boa entonação de atitude para fazer com que o personagem quase roubasse o protagonismo para si da trama, o que infelizmente (ao menos na minha concepção) foi muito errado, pois o filme era sobre Bulger e acabou recaindo bem para o nome nacional da Aliança dos dois. Dos demais atores cada um teve seu momento chamativo na tela, que volto a repetir foi quase que enfeite, já que não desenvolveu o personagem nem serviu de muita conexão para a história, mas dentre todos temos que certamente destacar Benedict Cumberbatch que ao fazer o Senador Billy Bulger deu grandes jogadas interpretativas e expressivas e até tentou chamar a responsabilidade em alguns momentos, e Jesse Plemons nem tanto pela importância de seu Kevin, mas pela quantidade de cenas que o ator está presente fazendo apenas caretas e socando as pessoas. Do lado feminino, Dakota Johnson faz bem a mãe do filho de Bulger (em momento algum mostra se eram ou não casados, aparentemente não), mas somente sua última cena é que é determinante e bem feita, pois a anterior que já está no trailer é mais fraca do que os míseros minutos que já apareciam no trailer, e claro que temos de destacar Julianne Nicholson pela cena de sua Marianne junto do protagonista, que muitos tremeriam na base bem mais do que ela, e sua expressão disse tudo.

Embora a equipe artística tenha arrumado alguns carros de época e vários elementos cênicos para representar como eram as investigações do FBI naquela época, faltou mais impacto visual nas locações, pois o filme poderia estar acontecendo em qualquer data com o que foi mostrado, e devido à isso precisaram enfatizar colocando em caracteres na tela os anos que são mostrados, o que não é muito legal de ser feito, mas como foi, poderiam ter trabalhado mais nos penteados e figurinos, pois ficou bem fraco nesse quesito. A fotografia certamente poderia usar referências de outros longas do gênero policial/mafioso para se inspirar e criar nuances mais chamativas de cores e sombras, mas tudo é tão chapado sem vida, que fico me questionando para onde foram os grandes diretores de fotografia de Hollywood que aqui a simplicidade é tanta que junto do tom acinzentado que colocaram na maioria das cenas, o sono acaba sendo aumentado.

Enfim, nem a trilha de Junkie XL conseguiu salvar o ritmo do filme e com dois meses já em cartaz nos EUA praticamente só cobriu seu orçamento, e dessa maneira a produção já pode começar a considerar o prejuízo do filme se no mercado internacional a trama não decolar (o que pode talvez dar certo é que por ter muitos atores conhecidos acabe chamando público afora). Ou seja, volto a ser repetitivo, não é um filme ruim, mas está bem longe de agradar, e dessa maneira só recomendo ele para quem realmente estiver com muita vontade de ver e de preferência em sessões diurnas, pois a chance de cansar é alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda falta a última estreia da semana no interior para conferir, então abraços e até breve.


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