Pois bem, enfim a lenda saiu da produção e apareceu na telona! Digo isso, pois quem não conhece a história do filme, não a que se passa na telona, mas a que rolou durante 20 anos desde que Guilherme Fontes começou a captar dinheiro para o seu longa "Chatô: O Rei do Brasil", teve suas glórias despedaçadas no auge da carreira de ator, precisou provar que não deu sumiço em dinheiro para um governo que roubou bem mais que acusavam ele, e tudo mais, finalmente apareceu nos cinemas! Muitos diziam ser apenas uma lenda a existência do filme, que nunca iria passar, muitos atores morreram desde quando atuou no longa, diretores assistentes se tornaram grandes nomes do cinema nacional, e se ficarmos falando de tudo vai horas. Mas vou ignorar todo o problema que o jovem diretor teve, e vou focar no que deve ser focado: o filme! E vos digo, se o longa tivesse estreado na época em que estava previsto hoje não teríamos tanto desses filmes nacionais novelescos que pintam todo mês nos cinemas do Brasil, pois ele mostrou que com muita capacidade de edição, uma história que daria uma novela de muitos capítulos pode virar um filme incrível no formato clássico de cinema e ainda agradar com muita subjetividade apontando na cara que o governo depende da mídia, e a mídia depende do governo para existir, ou seja, um longa feito em 1995 que fala exatamente o que anda ocorrendo nos dias atuais.
O longa nos mostra que o magnata das comunicações Assis Chateaubriand é a estrela principal de um programa de TV chamado "O Julgamento do Século", realizado bem no dia de sua morte. É nele que Chatô relembra fatos marcantes de sua vida, como os casamentos com Maria Eudóxia e Lola, a paixão não-correspondida por Vivi Sampaio, como manipulava as notícias nos veículos de comunicação que comandava e a estreita e conturbada ligação com Getúlio Vargas, que teve início ainda antes dele se tornar presidente.
O mais interessante da produção é ver toda a dinâmica do programa funcionar com flashbacks sem que para isso precisassem ficar parando toda a situação, e dando agilidade no conceito todo, o diretor conseguiu trabalhar o livro biográfico que conta muita coisa real, num misto fantasioso e bem resolvido cheio de elaborações claras, mas que não incomoda ninguém. Claro que Fontes pecou em querer fazer algo gigantesco, usou co-produção com a empresa de Francis Ford Coppola, e cada cena que vemos é composta de tantos atores, tanta dinâmica, tantos elementos cênicos que certamente o valor captado foi pouco para fazer metade das cenas. Mas prometi não entrar nessa briga, então olhando pelo lado crítico, o filme ficou muito grande e bem feito, num misto de produção hollywoodiana de grande orçamento com algumas novelas mais dramatizadas, o que é bom, pois não ficou algo engessado, e ainda digo mais, se não tivesse ocorrido toda essa bagunça fiscal, certamente Fontes pegaria um longa atrás do outro, pois o que fez em seu primeiro trabalho frente à direção foi digno de num próximo longa colocar no pôster as frases malucas que tanto gostam de colocar: "do visionário diretor". Claro que há defeitos, e o principal se chama edição, pois com a quantidade de cenas que filmaram, volto a repetir que daria para fazer uma novela de muitos capítulos com toda a história, e acabaram pecando na concepção artística de uma montagem um pouco confusa, que quem realmente não grudar os olhos na tela, vai acabar se perdendo no meio de tanta bagunça, de atores novos, atores velhos e tudo mais, mas quem prestar bastante atenção vai montar na cabeça a trama certinha e vai ficar bem feliz com o resultado total.
No quesito atuação, vou me conter a falar dos que reconheci, pois certamente muitos atores mudaram em 20 anos, e eles também não foram tão protagonistas ao ponto de necessitarmos falar deles. Sempre achei Marco Ricca um ator que consegue prender nossa atenção, e seu Chatô ficou ao mesmo tempo caricato e impactante, cheio de trejeitos, mas que convencem pela dinâmica proposta e claro pelo ótimo ritmo que ele ditou ao personagem. Paulo Betti também conseguiu chamar bastante atenção para seu Getúlio, o engraçado é que usou um sotaque bem diferente do que vimos no Getúlio de Tony Ramos, mas ainda assim, conseguimos ver uma personalidade forte e que o ator sempre consegue mostrar alguém completamente diferente a cada papel, o que é ótimo. Andréa Beltrão parece que não envelheceu uma ruga nesses 20 anos, está do mesmo jeitinho, atuando maravilhosamente bem, incorporando seu lado sedutor no nível máximo e ainda fazendo caras e bocas no melhor estilo de atuar, sem ser artificial, ou seja, sua Vivi Sampaio foi perfeita. Outra que também não envelheceu nada é Letícia Sabatella, continuando maravilhosa, uma pena que seu papel seja de cenas bem breves, pois seu estilo de atuar é ainda um dos que mais gosto de ver na TV e no cinema, então ela certamente arrasaria no papel de Maria Eudóxia. Agora foi engraçado ver Leandra Leal bem mocinha, nos primórdios de seus trabalhos, claro que hoje ela é um mulherão, mas naquela época era apenas um rostinho bonito na tela, e infelizmente seu papel não era algo que chamasse tanta atenção, mas ainda assim ela representou bem Lola. Embora não seja um dos protagonistas do filme Gabriel Braga Nunes entregou para seu Carlos Rosemberg, uma personalidade tão forte e cheia de conotações, que por bem pouco ele não roubou o filme para esse personagem, claro que o ator já fez diversos outros bons papéis depois que gravou o filme, mas olha, ele foi melhor há 20 anos atrás do que é hoje.
Sobre o conceito visual, volto a repetir que o orçamento foi até pequeno pela quantidade de detalhes cênicos para recriar época com figurinos, muitas pessoas sempre em cena, ambientes com muitos objetos e tudo mais que uma produção comum nem pensaria em ter, e claro que com isso a equipe de arte sofreu deveras para criar cada cena, mas o trabalho final (mesmo que depois de 20 anos) certamente vai ser reconhecido. A fotografia trabalhou muito bem as nuances de sombra, desfoques interessantes e sempre procurando abstrair o visual cênico completo, o resultado das luzes usadas deram uma classe incomparável para a trama.
Enfim, é mais um longa nacional que certamente vale o ingresso, claro que vai ter aqueles que não vão gostar do estilo, outros que vão ficar batendo na tecla do dinheiro público gasto, e todo o blábláblá que conhecemos, mas é inegável os esforços do diretor para que finalmente fosse lançado e dessa maneira torço para que todos assistam e com a bilheteria ele consiga apagar seu nome de todos os registros negros que acabou ficando. Portanto fica a dica para quem quiser conhecer um pouco mais duma época aonde a comunicação midiática praticamente inexistia e que foi revolucionada por um louco com apoio do governo. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas hoje ainda confiro mais um longa, então volto em breve com mais posts no site, fiquem com meus abraços e até breve.
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