Se algum dia você for roteirista de um filme, ou de uma peça da escola, ou até mesmo se for escrever um texto com determinado tema, por favor sigam uma dica do tio Coelho, não fique repetindo o título mil vezes pra enfatizar como o filme/peça/texto chama, é o absurdo máximo que muitas vezes vemos no cinema nacional, e com "Ninguém Ama Ninguém... (por mais de dois anos)", quando resolvi contar por já estar de saco cheio de ouvir os personagens falando isso, contei 5 vezes, mas acho que teve mais. Deixada essa dica, e ao mesmo tempo reclamação, o que posso adiantar sobre o longa é que longe do que pensava, não é um filme de todo ruim, tem boas lições, situações interessantes e até mesmo alguns bons diálogos dentro da história, mas basicamente a estrutura novelesca, aliada ao tradicionalismo(putaria pura) dos textos de Nelson Rodrigues, funcionaria bem mais numa minissérie ou algo do estilo do que propriamente no cinema, ou caso ainda quisessem realmente fazer um filme, que deixassem a preguiça de lado e adaptassem mesmo o texto para uma época mais atual com conflitos modernos, que aí sim, chamaria a atenção para o trabalho do diretor. Portanto, quem gosta desse estilo novelesco, certamente vai gostar do que verá com vários subtramas, muitos personagens e o contexto quase que único sobre traição.
O longa acompanha as histórias de cinco casais que vivem, paralelamente, no final dos anos 1950 e início dos anos 1960 no Brasil. Em uma sociedade cheia de moralismo, os desejos de homens e mulheres se manifestam de maneiras diferentes, porém, com liberdade, em suas vidas íntimas.
A sinopse em si é bem básica, pois não temos muito o que falar sem revelar a história de cada personagem, mas quem leu os contos da coluna "A Vida Como Ela É" de Nelson Rodrigues publicadas entre 51 e 56 vai poder ver na telona o retrato daquilo que foi escrito com minúcias cênicas. Claro que você não precisou viver naquela época para ler, afinal a coluna já foi tema de diversas provas e até de algumas adaptações na TV, inclusive a história final que envolve Ernani Moraes tenho certeza de já ter visto adaptada, exatamente da mesma forma, mas não lembro aonde para citar, afinal a cabeça desse Coelho anda cada vez mais esquecida. O diretor Clovis Mello não quis também arriscar muito e ao trabalhar a época do filme foi bem seguro dos planos, usando ao mesmo tempo crítica aos trejeitos da sociedade e junto da sensualidade sem muito exagero para contrabalancear bem e não deixar o filme pesado para nenhum dos dois lados. Claro que os textos do Nelson sempre trabalharam muito com o erotismo, pontuam muitas tramas machistas e isso não foi deixado de lado, mas souberam dividir bem as cenas misturando as cinco histórias para que nada chocasse logo de cara o público, e sendo assim, o resultado da direção até que foi bem feita, mas volto a frisar, se ousassem mais com uma adaptação mais moderna, o longa seria genial.
Quanto das atuações, foram bem maldosos com os críticos vestindo as mulheres quase que com o mesmo figurino/cabelo e até mesmo a forma de interpretar foi bem semelhante, ou seja, quem não for acostumado com as atrizes é capaz de achar que a mesma mulher está traindo até mais vezes do que já vem acontecendo na história. Como são muitos personagens, vou destacar apenas alguns para que o texto não fique chato, afinal tudo foi bem trabalhado no conceito interpretativo e poucos cometeram alguma gafe. Gosto muito quando Ernani Moraes trabalha no misto drama/comédia com seus personagens, pois ele é um dos que sabe ser enfático e demonstra facilmente na cara o desespero da cena com seu Juventino, claro que teve também alguns momentos bobos dentro do bar, mas no geral agrada mais do que decepciona. Marcelo Faria deixou seu personagem Asdrubal bem mais mineiro do que carioca, pois sempre parecendo não querer fazer as coisas, mas fazendo pelos cantos resultou em algo bem dúbio de ver, porém o ator sempre entrega boas expressões nos personagens que faz, e aqui não foi diferente, então agrada também. Michel Melamed e Pedro Brício, respectivamente com seus Eusébio e Orozimbo ficaram bem em cima do muro com suas expressões, sendo que o primeiro inicialmente parecia que ia mostrar bastante serviço, mas foi acalmando bem e nem a cena clímax entre os dois conseguiu ser impactante, o que é uma pena, pois os personagens tinham potencial. Gabriela Duarte também aparentava ser a protagonista da trama toda com sua Elvira, mas ao trabalhar bem seu jeito fogoso deu mais boas nuances sensuais do que uma interpretação ativa para a personagem, ou seja, agrada sem chamar a responsabilidade e nem ter a atuação do ano. Agora falando em sensualidade Lidi Lisboa e Branca Messina deram um show nas suas cenas solo e se tivessem mais cenas levariam o longa no peito, literalmente.
A cenografia de época é algo que sempre souberam fazer bem no Brasil, e dessa maneira certamente a equipe de arte mesmo tendo grandes trabalhos souberam dosar cada cena dentro de suas proporções para que o filme convencesse e agradasse sem que o orçamento fosse esbanjado, claro que você não vai ver uma frota de carros antigos no estacionamento, mas um só sozinho foi apelar demais, e além disso outros momentos poderiam ser evitados para não cometer gafes simples que até com câmeras mais próximas dos personagens agradaria e simplificaria cada momento. No conceito fotográfico, algumas cenas ficaram iluminadas demais e outras estranhas para a ambiência que o diretor desejava, de modo que sem necessitar, usaram focos distorcidos que não tiveram linguagem alguma e até destoaram das cores que o filme estava seguindo, então de certo modo o filme saiu mal trabalhado na técnica, o que não chega a ser defeituoso, mas também não vai agradar tanto quem for mais exigente com a produção.
Enfim, não é um filme ruim, mas também não é nada que vamos sair comemorando como uma grande aposta nacional, volto a repetir que como série agradaria bem mais do jeito que foi feito, e se arriscassem mudanças do texto para um contexto mais moderno caberia bem como filme, então até posso recomendar a trama para quem gosta do estilo de texto do Nelson Rodrigues, mas deixo claro que quem não curtir situações machistas e símbolos de traição é melhor passar bem longe. Bem é isso pessoal, deixo dessa maneira minha recomendação do longa, mas ainda tenho muitos outros para conferir nessa semana, e olha que a maioria nacionais, então abraços e até breve.
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