Ultimamente só tenho falado bem de longas franceses, por conseguirem dar nuances, viradas fenomenais e um tino cômico na medida certa, mas e quando entra em jogo um romance meio que shakespeariano aonde a dramaticidade é tão forçada que sem ritmo ainda consegue quase que praticamente dobrar a duração de um filme? Dá para falar bem dele? Até que dá, mas "Três Lembranças da Minha Juventude" que foi traduzido realmente ao pé da letra, não se preocupa em mostrar bem as três boas lembranças, e olha que as duas primeiras eram bem interessantes de se ver e dariam ótimas histórias, mas sim ficar quase que 90% em cima da última lembrança, claro a amorosa, e acaba cansando tanto e ficando tão monótono que sinceramente você vai achar que nunca o filme vai acabar. Ou seja, não veja esse filme a noite em poltronas confortáveis, pois a chance de dormir e ser acordado pelo pessoal da limpeza do cinema é altíssimo. Por sorte vimos em cadeiras no SESC então sem chance de dormir.
O longa nos mostra que Paul Dédalus se prepara para deixar o Tajiquistão. Ele se lembra da infância em Roubaix, do ataque de loucura da mãe, do laço que o unia ao irmão Ivan, uma criança devota e violenta. Lembra-se de fazer 16 anos, da viagem à URSS, onde, em uma missão clandestina, deu a própria identidade a um jovem russo. Lembra-se também de si mesmo aos 19 anos, da irmã Delphine, do primo Bob das festas com Pénelope, Mehdi e Kovalski, o amigo que ainda o trairia. Lembra-se dos anos como estudante em Paris e da vocação para a antropologia. Acima de tudo Paul se recorda de Esther, o coração da sua vida.
A proposta em si do longa é interessante, e se observarmos a sinopse se tivessem dividido exatamente como proposto seria genial e agradaria muito, mas o diretor Arnaud Desplechin preferiu focar no amor inesquecível do rapaz por Esther, e assim como aqueles dramas melodramáticos que estamos acostumados a ver em óperas, a trama não anda e acaba sendo desgostosa de ver, cansativa de acompanhar e sai de nada para lugar algum na condução total. Esse deslize fez do filme algo que teve uma produção impecável, boas atuações, criatividade no conteúdo total, mas o público certamente vai sair da sessão falando que foi chato demais de ver, isso para aqueles que ficarem até o final, pois mesmo sendo exibido em uma Mostra aonde o público tradicionalmente está acostumado com longas mais enrolados, ainda tivemos algumas fugas antes do final do longa, e isso diz muita coisa. Ou seja, é aquele doce maravilhoso que colocam na mesa, e ao comer você vê que não tem gosto de nada.
Na questão de atuação, podemos dizer que as várias versões do protagonista foram bem interpretadas, mas claro que o foco, por esquecerem que as outras também eram importantes, se deve ao garoto na fase dos 19 anos, que foi feito por Quentin Dolmaire, e ele manteve a responsabilidade que devia para que todos momentos fossem bem expressivos, mas todo mundo que me lê aqui já passou pela fase dos 19 anos, e sabe o quão chato é o romance nessa época, mesmo que cheio de aventuras, tudo é motivo para drama, novidades são até bem vindas, mas cansam, e ver isso na tela do cinema por quase duas horas sem nenhuma intempérie mais envolvente é algo que não temos como dar alguma premiação para o jovem por melhor que tenha feito tudo. E falando em melodrama, Lou Roy-Lecollinet fez de Esther algo que nem novela mexicana faria tão bem, tudo é vou morrer, todos me desejam, sou a tal, gente, tenho certeza que nem a atriz mais desejada do mundo se acha tanto quanto a personagem, e fazer isso foi ao mesmo tempo erro do roteiro, da direção e da jovem atriz em não tentar ser diferente. Mathieu Amalric apareceu numas cinco cenas como Paul mais velho, mas suas cenas sempre são bem rápidas e não teve tanta expressividade para falarmos que ele resolveu o problema todo do longa, valendo mais seu epílogo na boa cena do bar que todo o restante.
No conceito visual posso dizer que foram impecáveis, criando bem a época tanto em figurino quanto na boa escolha de cada locação para que tudo encaixasse na medida, deixando elementos à mostra para representar cada elo do filme, mostrando as diversas épocas e anseios dos jovens nas festas e principalmente mostrando tanto o mundo da capital e do interior da França na época, que eram bem distintos, ou seja, volto a repetir, que como produção o longa foi perfeito. Além disso, trabalharam bem as iluminações para criar climas, deram tons avermelhados nas cenas que envolviam paixão, amarelados quando queriam passar uma dramaticidade mais funcional e muito marrom para criar a época, ou seja, sem erros também na fotografia, claro que poderiam ter dado alguns tons mais pastéis não ficando tão forte e cansativo, mas isso com dinâmica no roteiro e na edição funcionaria bem mais do que na luz.
Enfim, é um filme ruim? Não, tem muita coisa boa para ver, mas cansa tanto que quem não tiver muita paciência para longas mais alongados vai sair no meio do filme com toda certeza, e digo mais, não vai perder nada, pois o final não foi mais interessante do que o conteúdo todo. Ou seja, um filme que mesmo tendo boas ideologias, não vale o tempo perdido, e garanto que vai parecer ter gasto bem mais do que duas horas. Portanto, só recomendo ele mesmo para quem não tiver nenhuma outra opção mesmo para ver, e ainda assim for bem paciente. Encerro aqui essa semana cinematográfica, que foi bem recheada, já me preparando para a próxima que vai ser mais agitada ainda, então abraços e até breve pessoal.
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