Visita ou Memórias e Confissões

11/29/2015 09:50:00 PM |

Vou ser curto no texto não pelo filme ser ruim, muito pelo contrário, "Visita ou Memórias e Confissões" é excelente, mas não há palavras que possa descrever esse misto de documentário com literatura. Digo isso, pois é quase como se estivéssemos lendo um livro sobre a casa que Manoel de Oliveira viveu por mais de 40 anos, e contado de uma maneira tão cheia de referências ao desaparecimento do personagem, no caso do próprio diretor, o longa acaba funcionando como um biografia póstuma criada por ele ainda em vida. E com uma grande expertise por parte dele, filmou em 84, e pediu que fosse lançado somente após sua morte, o que ocorreu neste ano, e facilmente seria um filme feito de homenagem para com todo seu estilo, trabalhando bem referências simbólicas da casa, no melhor estilo literário possível.

O longa nos mostra que um casal encontra uma casa aparentemente vazia no campo e, ao entrar nela, passa a explorar os cômodos do local. Em determinados momentos surge em cena o próprio diretor, Manoel de Oliveira, que explica o porquê de estar se mudando daquela casa, onde viveu por mais de 40 anos, e ainda faz um retrato de sua vida e carreira.

Logo de cara o diretor fala em off para a belíssima cenografia que o que veremos é um filme de Manoel de Oliveira sobre Manoel de Oliveira, ou melhor, sobre uma casa, e que até poderia ser considerado como algo egocêntrico demais, mas logo vemos que após atenderem seu pedido de lançar o filme somente após sua morte, o resultado é incrível, pois através da arquitetura maravilhosa da casa, junto com o texto magistral que é contado durante toda a exibição, com as devidas pausas para que o diretor fale também, tudo acaba se conectando e ficando incrível de conhecer um pouco da vida desse diretor que produziu até a beira de sua morte com 106 anos, e isso não é para qualquer um.

Então podemos dizer que foi uma grande sacada, de não precisar que outros fizessem um filme sobre sua vida, e muito menos contasse coisas que ele não quisesse contar, e para isso fez tudo com uma leveza ímpar e cenograficamente cada momento é tão bem decorado que ao juntar com a literatura do texto, se torna quase que uma leitura fantasiosa aonde o próprio expectador vai criando as nuances do quadro que a câmera nos emoldura, ou seja, um trabalho realmente lindo de se ver e sentir.

Enfim, é um documentário diferenciado que vai muito além do que poderíamos esperar, e principalmente funciona por agradar tanto aos fãs do diretor, quanto quem não gostava de suas obras, e ainda mais quem nunca viu nada dele, ou seja, vale para todos conhecerem mais seu estilo. E o principal, mesmo o ritmo sendo um pouco lento, acabamos não cansando de ver o que é mostrado, então é quase como um deslize poético. Fico por aqui agora, mas ainda hoje confiro outro longa da Mostra Internacional, então abraços e até breve.

PS: Infelizmente desse longa não foi feito trailer, então só quem for conferir mesmo saberá a beleza de tudo.



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