Conversando com várias pessoas, muitos possuem uma opinião bem formada sobre longas que mostram cotidianos, e ultimamente ando sentindo o mesmo que eles, não ficando muito confortável em ver algo que poderia estar acontecendo e apenas ficamos assistindo, de modo que se vamos ao cinema, gostamos de ver algo que fuja completamente de nossa realidade. E com "A Terra e a Sombra" o que nos é mostrado poderia estar ocorrendo tranquilamente em uma fazenda pobre de alguma das cidadelas aqui da região de Ribeirão Preto, pois vivemos no meio do canavial, sofremos com as queimadas da cana e suas cinzas tomando nossos quintais todos os dias, só não somos cortadores de cana, mas com certeza já vimos vários pelas ruas e conhecemos um pouco do que nos é mostrado de suas duras vidas nos jornais. Então o longa embora tenha uma fotografia dura e com nuances bem trabalhadas, não empolga como deveria, e principalmente não choca como deve acontecer em lugares que não vivem dessa realidade. Então se me perguntarem se é um bom filme, eu diria que sim, mas cansa mais do que empolga e dessa maneira não o recomendaria.
O longa nos mostra que Alfonso é um velho fazendeiro que retorna à casa para cuidar do filho, que está gravemente doente. Ao chegar, redescobre o antigo lar, agora habitado por sua ex-mulher, a nora e o neto. O local parece uma terra abandonada. Grandes campos de cana de açúcar rodeiam o imóvel, criando permanentes nuvens cinzas. Dezessete anos depois de os ter desamparado, Alfonso tenta encontrar o seu lugar ali para, assim, poder salvar sua família.
Em seu primeiro trabalho como diretor, o colombiano César Augusto Acevedo que possui apenas 28 anos, conseguiu traduzir bem uma realidade com suas lentes, e ao contextualizar toda a situação, tentou focar a volta de Alfonso como alguém querendo de volta o seu lugar para com a família, mas ao trabalhar com artistas mais velhos e que não possuem grandes expressividades para manter a carga dramática, ele acabou criando um filme morno que não chega a comover em nenhum momento, e isso de certa forma é bem ruim, pois ficamos com um filme bonito, com uma disposição fotográfica linda, uma carga dramática que poderia assumir rumos incríveis, mas não decola, ficando cotidiano demais. Claro que em países como a França, aonde o longa ganhou a Camera de Ouro e outros países ricos que sequer viram uma plantação de cana de açúcar de perto, quanto mais pobres se matando e deixando as próprias famílias para trás para tentar uma vida melhor longe da pobreza, vão se comover e emocionar com toda a situação, mas certamente no Brasil, e principalmente em cidades interioranas, vão ver o longa e nada vai lhe chocar.
No conceito da atuação, vou preferir nem citar os nomes para não queimar ninguém, e vou dizer simplesmente que algumas vezes é legal pegar pessoas sem muita experiência para dar uma carga mais real para sua produção, mas em outros momentos, fica faltando a expressividade que alguns atores de carreira conseguem imprimir para sua produção. Aqui até seria um grande acerto se o diretor também não fosse estreante, mas faltou dele exigir mais comoção nas expressões e em diversos momentos, tudo ali parece irreal dentro de uma situação real, e isso não convence.
A concepção cênica foi muito bem planejada por toda a equipe, e pasmem, a casa foi construída apenas para o filme no meio de um canavial, ou seja, quando se tem disposição de uma boa equipe de produção, não importa aonde o longa precisa ser filmado que dão um jeito, e trabalharam bem com detalhes singelos para mostrar a pobreza da família, botaram fogo realmente num canavial para não necessitar de efeitos especiais, e dessa maneira tudo ficou ainda mais crível de ver, e claro cotidiano como estou afirmando nos demais parágrafos. Outra equipe que trabalhou com minúcias arriscando todo o equipamento com certeza foi a equipe de fotografia, pois foram bem próximos do fogo, no meio de muita poeira dos caminhões e para simbolizar tudo utilizaram filtros com uma tonalidade completamente definida, o que agrada, mas ainda daria para clarear alguns momentos menos tensos para dar um tom romanceado nas cenas do avô com o menino.
Enfim, é um bom filme, e mostra que o cinema colombiano tem futuro, afinal se assim tão jovem, já batalhou por 8 anos para que seu filme de estreia chegasse à Cannes e ganhasse prêmios, certamente em breve vamos ouvir falar mais do nome de Acevedo. Claro que volto a frisar, que quem prefere ver algo completamente longe da realidade em que vivemos, esse não é um filme recomendado, pois pode cansar pelo ritmo calmo demais. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto mais tarde com o texto do outro longa da Itinerância da Mostra que vi hoje, então abraços e até daqui a pouco.
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