Já Estou Com Saudades (Miss You Already)

12/29/2015 01:19:00 AM |

Tudo bem que "Já Estou Com Saudades" não é o melhor filme que envolva câncer já feito, afinal a temática quase sempre ronda os estúdios e cada diretor sabe o ponto aonde deve tocar e que conseguirá comover de maneira diferenciada, mas ao trabalhar com o câncer de mama que ultimamente vem pegando muitas mulheres que não fazem check-ups anuais, e unir isso com uma amizade de anos que acaba bagunçada, da maneira que a diretora conseguiu extrair das protagonistas, certamente é um mérito que deva ser levado muito em consideração. E com muitas cenas duras de quimioterapia, mastectomia, entre outras dificuldades que acabam completamente com a vaidade feminina, dificilmente não fará o mais desumano ser que estiver vendo o longa se emocionar, então se você é daqueles que chora fácil com qualquer coisa, leve um rodo para a sessão e ajude o pessoal que trabalha no cinema a lavar a sala, pois lencinhos serão poucos para muitas pessoas.

O longa nos mostra que Jess e Milly são melhores amigas desde a infância. Enquanto Milly se casou, teve dois filhos e construiu uma carreira de sucesso, Jess decidiu levar uma vida pacata ao lado do marido Jago. Após se submeter a um tratamento, Jess enfim consegue engravidar. Mas a notícia vem justamente quando Milly descobre ter câncer de mama e precisa passar por quimioterapia, o que necessitará do apoio não apenas da amiga, mas de toda a família.

Tudo bem que a diretora já fez um dos filmes com mais erros técnicos da história do cinema, e depois repetiu a dose com uma tentativa sombria de um clássico dos contos de fada, mas não morreu, nem mataram ela, apenas desapareceu por quatro anos dos cinemas, mas voltou com classe para comover, e felizmente, apagar de sua história "Crepúsculo" e "A Garota da Capa Vermelha". Digo isso, pois Catherine Hardwicke soube dosar o excelente texto de Morwenna Banks em um filme com toda sensibilidade e características próprias que até podemos já ter visto outros longas que trabalharam bem o tema, mas sempre que um diretor souber tocar no ponto chave entre amizade e doença, vai conseguir comover, emocionar e agradar todos que forem ver seu filme, e ela trabalhou no limiar do erro para que o filme ficasse entre o forçado demais e o sutil demais em diversos momentos, e graças aos deuses do cinema não errou para lado nenhum. Todos sabemos o quanto um câncer é devastador para qualquer pessoa, faz com que perca cabelo com a quimioterapia, tenha de viver frequentemente nos hospitais e clínicas, e muitas vezes o decreto final não é algo alegre de ser compartilhado com amigos e familiares, mas ultimamente o câncer de mama tem atingido demais o ego inflado de muitas mulheres que perdem seus seios com a mastectomia, e acabam não tendo mais a mesma relação de sentir-se atraente para os homens, claro que isso muito das vezes é psicológico delas, e a diretora foi precisa nesse ponto para mostrar que pode sim haver vida durante um câncer, e que podemos aproveitar de uma maneira boa ou se jogar no fundo do poço, e certamente muitos tirarão grandes lições do longa, além de lágrimas, principalmente pela diretora atingir em cheio nos nós que uma grande amizade representa.

Sobre as atuações, é fato marcante que Toni Collette se dedicou demais à sua personagem Milly, trabalhando na entonação de cada frase, sendo exuberante nos momentos fortes de sua personalidade e dando uma vivência ímpar para todos as cenas que eram necessárias, e claro que para isso raspou seu cabelo para dar o impacto correto que a cena pedia, ou seja, uma atriz que merece sempre ser lembrada e agrada demais na maioria dos filmes que faz. Drew Barrymore caiu meio que de paraquedas na produção do filme, pois seu papel era para ser de outras duas atrizes que desistiram, e embora seja uma atriz que sempre se dedique bastante nos papeis que faz, aqui sua Jess pareceu sempre com expressões não tão marcantes, o que de certo modo é uma falha, afinal o ponto de vista completo da trama é visto sob o seu olhar, e de certa maneira, acabou atrapalhando um pouco na dinâmica geral do longa, claro que não é uma bomba que estrague o filme inteiro, mas poderia ser anos-luz melhor o que ela fez em diversas cenas. Dominic Cooper até trabalhou bem suas cenas como Kit, mas não foi explorado tanto a relação dele com a esposa após o casamento, ficando mais preso somente ao seu passado nas lembranças de Jess e depois aparecendo em alguns momentos marcantes para trabalhar o lado do tesão no relacionamento, claro que ele foi correto no que fez, mas seu papel mereceria mais destaque e mais cenas para chamar a atenção. Paddy Considine é quase que um mero objeto de cena com seu Jago, pois apenas como reprodutor forçado, o ator não empolgou em cena alguma, e isso é algo que atrapalhou e muito no vértice aonde Drew poderia chamar alguma atenção sem errar, o que infelizmente não acaba acontecendo, ou seja, poderiam ter mandado ele logo na primeira cena para o mar e mais nada importaria. Para fechar o parágrafo das atuações, não poderia esquecer de dizer o quão velha está Jacqueline Bisset, que ao fazer a mãe maluquete e atriz de Milly, conseguiu agradar, mas não impactando muito mais pelas besteiras que sempre diz e comovendo quando acertadamente resolve seguir seu instinto de maluca, ou seja, agrada bem, mas também poderiam ter desenvolvido mais o relacionamento dela com as protagonistas para chamar mais atenção.

No conceito visual, acabaram escolhendo boas locações para representar tanto as lembranças, como a vida das garotas, com Milly tendo uma casa interessante de acordo com a profissão marcante do casal, e Jess toda ambiental e preocupada com o mundo morando em um barco-casa(ainda não entendi muito a referência cruzada dessa ideia, mas quem sabe um dia), além disso quando decidem viajar, escolhem um ambiente fantasioso e muito interessante que remete aos livros que leram no passado e ainda traz outras surpresas, tanto visuais quanto sensoriais para a trama, e para finalizar quando vai para uma casa de repouso também optaram por um lugar muito bonito de se ver, ou seja, tiveram boas referências de escolhas nas locações que não precisaram tanto trabalhar com elementos cênicos duros para representar cada local, o que é um bom feitio, mas ao colocar a cena da perfuradora no mar em meio a uma tempestade acabou ficou tudo tão artificial, que chega a dar dó de quem teve essa ideia. Outro grande destaque se deve à maquiagem, cabelo e figurino para representar a doença da protagonista, pois usando de elementos bem fortes, conseguiram chamar atenção do público para tudo de pior que a doença pode causar. A fotografia abusou de tons densos para provocar comoção e chamar bem as lágrimas dos espectadores, e felizmente isso funciona muito no cinema, pois nas cenas que impregnava o sentido da amizade o colorido vinha na tela, mas logo em seguida quando precisava enfiar a faca no peito do público, lá iam escurecendo e pronto todos caiam.

É interessante também pontuar que em diversos momentos, as canções em off, e até mesmo as que são colocadas com legendas na tela, referenciam bem os momentos da trama, e isso é algo bem interessante de ver quando funciona. Destaque para "Loosing My Religion" do R.E.M.

Enfim, um bom filme que poderia ser bem melhor se não tivesse cometido algumas gafes conforme disse acima, mas ainda assim vai levar muita gente às lágrimas nas sessões dos cinemas, e certamente também vai fazer com que muitas mulheres façam check-ups para evitar tudo de ruim que é mostrado no longa. E assim sendo, tenho que recomendar esse filme que encerra minhas atividades dentro dos cinemas nesse ano de 2015, com os olhos suando de tanto exercício. Portanto, fico por aqui hoje, mas volto em breve com a Retrospectiva que tanto gosto de escrever, então abraços e até lá.


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