O Presente (The Gift)

12/05/2015 01:30:00 AM |

Costumo reclamar muito quando atores resolvem que não vão mais apenas atuar, mas escrevem um texto e também vão dirigir, por dois simples motivos: primeiro por ser um exagero uma pessoa querer fazer as três principais coisas de um filme (isso quando não produzem também e ficam com quatro funções, aqui foi um desses casos!) e segundo devido que não dá para ser bom em tantas coisas. Mas com "O Presente", o grande ator Joel Edgerton conseguiu entregar uma boa história, dirigir com primor criando a famosa pulguinha na orelha do espectador que sai da sessão querendo mais, produziu um filme bem trabalhado em locações e tudo mais, e até mesmo ao colocar seu personagem Gordo como um "secundário" acabou agradando nas expressões simples e que deixaram o papel curioso, ou seja, alguém botou as mangas de fora e trabalhou pra valer num terror/suspense de nível até que bem bacana.

O longa nos mostra que Gordon nunca foi popular na escola e era conhecido como Gordo, o Esquisito. Ele reencontra um colega da época, Simon, e começa a lhe enviar presentes, aparentemente enigmáticos. Logo, Simon e sua esposa, Robyn, se sentem ameaçados com a presença de Gordo, que simplesmente não esquece o passado e faz de tudo para Simon também não esquecer.

A história que foi criada não é algo que digamos assustadora ou forte o suficiente para deixar o público horrorizado com o que é mostrado, mas a situação de terror em si é algo impactante que acaba deixando você agoniado com todas as possibilidades. Claro que em alguns momentos ocorrem sustos repentinos de bater mais forte o coração, mas bem mais do que um longa cheio de sangue, espíritos e situações grotescas, aqui o que o diretor e roteirista Joel Edgerton quis fazer foi trabalhar com um terror bem mais palpável e que se "bem" feito aterroriza a vida de muita gente, que é o bullying, a mentira e a vingança, ou seja, algo que caso ocorra nenhum pastor, padre ou qualquer outro tipo pode salvar a pessoa, e isso é o grande acerto da trama. Já tivemos outros filmes desse estilo, então não podemos parabenizar o estreante pela originalidade, mas podemos sim pelo fato de conseguir trazer a realidade para algo mais atual e que muitos sofrem quase que diariamente com isso, e de um modo bem amarrado o filme nos convence e acabamos mudando a torcida no meio do jogo para aí sim o longa esquentar, pois até a metade do filme a chance de que muitos fiquem cansados com a dramaticidade bem leve é bem alta. Claro que Edgerton que já foi dirigido por grandes mestres do cinema conhece muito bons ângulos de filmagem, e sabe aonde deve forçar a mão para capturar o público, e dessa forma sua mão mesmo sendo o primeiro longa veio bem calibrada para não cometer gafes.

No quesito atuação, Jason Bateman sempre foi um ator bem expressivo, e aqui ele trabalhou diversos momentos de uma forma tão enigmática, trabalhando bem cada interpretação, que assim como sua esposa disse em determinado momento do filme não conseguimos saber quem ele realmente é, e dessa maneira seu Simon acaba saindo perfeito, ou seja, já pode começar a esquecer um pouco as comédias e trabalhar em outras áreas. Rebecca Hall sempre oscila demais em seus personagens e muitas vezes não consegue empolgar, aqui sua Robyn parece meio perturbada, e não sabemos se é falta de uma pegada melhor do diretor ou se ela trabalhou o papel de uma maneira que parecesse dopada demais por remédios antes da mudança, e assim o resultado expressivo não agrada tanto quanto deveria. E claro que temos de falar da atuação do diretor, e Joel Edgerton entregou uma personalidade ímpar para o seu Gordo, deixando ele tanto misterioso quanto assustador em algumas cenas, e dessa maneira acabou acertando ao ser coadjuvante e entrar somente em cenas que fossem cruciais para a trama, e assim cada cena sua era um misto de nervosismo com curiosidade. Os demais podemos chamar de enfeites de cena, pois praticamente nada do que falaram teve alguma boa importância, ou seja, o foco mesmo ficou entre os três protagonistas.

A trama praticamente toda ocorre dentro da casa dos protagonistas e claro que como todo bom filme de terror/suspense com assaltantes/assassinos, é quase que inteira feita de paredes de vidro, para que possamos ficar vendo as pessoas do lado de fora e não ter como se esconder, esse acerto foi algo muito bem bacana, pois tradicionalmente se o cara aparecesse em uma casa normal, fingiríamos não ter ninguém em casa e a pessoa iria embora, mas não aqui você tem de abrir a porta sempre, afinal a pessoa te vê lá de fora, portanto jamais construa uma casa com paredes de vidro! E claro que a equipe de produção liderada por Jason Blum que é especialista em longas de terror, acertou em colocar diversos elementos marcantes para deixar a tensão correr solta, fazendo barulhos virarem elementos cênicos, sombras e tudo mais possível para que o filme se conectasse com o espectador, e o destaque claro fica para o sonho. A fotografia usou de fumaça de banho, luzes baixas e claro sombras para criar efeitos sombrios e diluir a tensão até o momento em que o suspense era revelado para assustar ou trabalhar ainda mais a trama, de modo que poderiam até colocar mais impacto em algumas cenas, mas o resultado geral agrada bastante.

Enfim, certamente não é o melhor filme de terror/suspense que já vimos, mas foi uma excelente estreia de Edgerton na direção e no roteiro, e o longa consegue atingir bons resultados de tensão, que é algo que podemos medir para ver se um filme desse gênero é convincente. Claro que temos muitas daquelas situações improváveis que alguém faça, e isso é algo que precisam mudar, afinal é cliché demais, mas não incomoda tanto. Portanto é um filme que quem gosta do estilo vai acabar gostando e vale ser recomendado. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na segunda com mais posts por aqui, então abraços e até breve.


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