Não sei se todos que leem minhas críticas sabem, mas vale sempre como curiosidade, é que os americanos odeiam ler legendas em filmes (acho que o povo do Cinemark aqui fez a mesma pesquisa pra colocar só longas dublados), mas diferente do que ocorre aqui que dublam tudo, lá eles são mais rebeldes e os filmes que acham incríveis (depois de assistir legendado claro), eles vão lá, reescrevem o roteiro e filmam com os grandes atores deles, ou seja, pra que dublar com nossas vozes se podemos fazer algo semelhante com nossos atores aparecendo? E isso tem ocorrido com grande frequência já há muito tempo, inclusive temos um brasileiro que já está quase para sair a versão americana! Curiosidade dita, vamos falar um pouco de "Olhos da Justiça" que é a versão americana do ganhador do Oscar de Filme Estrangeiro de 2010, o argentino "O Segredo dos Seus Olhos", pois quem não assistiu o original certamente sairá da sala roendo as unhas e desesperado com toda a tensão passada, mas quem viu certamente irá ficar comparando cena a cena, e com as devidas proporções também sentirá a tensão do longa, afinal souberam trabalhar bem com os fatos, criando sua versão própria e colocando alguns elementos fortes para que não ficasse uma cópia exata, e ainda conseguisse emocionar mesmo quem já conhecia tudo e ficou impressionado na época. Ou seja, as duas versões são boas de assistir, cada uma com sua particularidade.
O longa nos mostra que a vida dos investigadores do FBI Ray e Jess e da procuradora Claire é severamente abalada pelo assassinato da filha adolescente de Jess. Treze anos após o crime, Ray continua buscando pistas e finalmente parece ter encontrado um caminho para solucionar o caso. A verdade é chocante e os limites entre justiça e vingança tornam-se imperceptíveis.
Billy Ray é bem mais conhecido pelos ótimos roteiros que escreve/adapta do que pelos longas que dirige, mas não é nenhum amador nessa arte, já tento outros dois longas razoáveis, mas claro que a forma que o longa argentino mexeu com nossas cabeças em 2010, ele não escreveria o roteiro para que outra pessoa dirigisse senão ele próprio, e olha que mesmo seguindo a cartilha completa de um bom suspense policial, e repetindo claro diversas cenas fortes do original, o diretor saiu bem nos trâmites e acabou convencendo, principalmente quem não viu o original, que a tensão toda seria resolvida de maneira menos impactante, e não é bem assim que vai ser o fim. Gosto muito de longas com final aberto de maneira proposital, mas o original embora fique bacana, deixa um gosto um pouco amargo que poderia ter um pouco mais, o que aqui foi corrigido com mais uma cena que agrada até que bastante. Ou seja, a base em si é a mesma, mas a proposta foi até que bem desenvolvida e ajustada com os acontecimentos americanos, e com toda a certeza, tirando o fechamento, com o que aconteceu no 11/9 muitos policiais dos EUA ficariam do lado de um assassino que estaria ajudando a pegar alguns terroristas do que prender ele por ter matado alguém conhecido. No geral a direção foi correta, nada de grandioso, nem nada de errado, mas ainda assim comove, e mais para baixo falarei alguns defeitos da trama.
É difícil errar quando se tem grandes atores à frente de seu projeto, e foram bem sábios ao fazerem uma mudança nítida no rumo da história, colocando uma mulher forte no lugar de um homem (claro que Darín é insubstituível, mas Julia Roberts é ótima quando quer, e aqui ela quis) e mudar de esposa, que muitos julgam algo que mesmo muito romanceado não seja algo que os homens em geral busquem justiça, por uma filha, a qual uma mãe extremamente conectada certamente picaria um assassino. E com essas mudanças fortes, vamos falar primeiramente dela, Julia Roberts, que nem é tanto a protagonista da trama, ficando bem em segundo plano na maioria das cenas com sua Jess, mas sempre sendo a base de tudo, e ao deixar suas expressões naturais (sim ela está velha, e vamos se acostumar com isso) conseguiu impactar de uma maneira ímpar quando vamos para o fechamento da trama, e claro que na maioria de suas cenas solo, deu um show de interpretação, mostrando que ainda tem muito combustível para queimar com dramas também. Chiwetel Ejiofor vem crescendo cada vez mais com os personagens que lhe são entregues, e claro que sua indicação ao Oscar só fez bem para que não ficasse jogado à somente papéis secundários, aqui seu Ray é basicamente a alma do projeto, mantendo sempre um ar desesperado tanto de paixão por Claire como de afeto para tentar ajudar a amiga Jess, e seu último ato é o símbolo de maior amizade que alguém poderia demonstrar, ou seja, deram tudo para que ele mostrasse personalidade e agradasse bastante em todas as cenas que apareceu, e ele não desperdiçou. Nicole Kidman foi a que mais trabalharam no conceito visual da maquiagem para envelhecer, afinal vai ser linda até os 1000 anos se viver até lá, e a solução da mudança de cor de cabelo de sua Claire foi algo bem interessante, claro que ela poderia ter sido mais expressiva em diversos momentos, mas a personalidade de seu personagem era alguém mais politizado do que forte nos atos, mas sua cena dentro do interrogatório foi muito bem feita, e certamente vai agradar a todos que forem ver. Dos demais, a maioria possui cenas mais espaçadas, e isso não é algo que vai fazer com que lembremos deles, mas vale destacar os olhares do jovem Joe Cole como Marvin na cena do interrogatório, e Dean Norris por toda a empolgação nas cenas de seu Bumpy.
Agora se temos um ponto a discutir que os argentinos mesmo com um orçamento bem mais enxuto deram um baile nos americanos é no conceito cênico, pois aqui o departamento de polícia foi mais mascarado impossível, com caixas mais jogadas que Fórum de cidade do interior do Brasil, poucos figurantes e um digitalzão bem forçado na cena do estádio, que claro em devidas proporções até agradaram visualmente de relance nas cenas de correria, mas que foi forçado demais, isso foi. Na fotografia também embora o longa original seja tão sujo e escuro quanto esse, as nuances eram pretensiosas, e não apenas escuras para criar tensão somente como foi o caso deste, mas ainda assim ambos funcionaram para representar o que os diretores queriam, e assim sendo acabam agradando. Mas convenhamos que com um orçamento bem maior, que isso não temos dúvida alguma que foi, poderiam ter trabalhado visualmente com cenas mais fortes e impactantes, para causar mesmo e aí o filme ir para outro nível.
Enfim, o argentino vai continuar sendo um clássico, e esse vai ser sempre alvo para estudos de comparação, afinal é um dos que mais vai mostrar a sede dos americanos por querer copiar tudo que acham bom. É um filme que causa tensão de certo modo, e isso já faz valer o ingresso para os fãs do estilo, e claro merecer uma boa nota, afinal como sempre digo se o longa cumpre com o papel que foi classificado, ele vale a pena ser visto. Então recomendo que todos vejam, e quem não viu o original assista, afinal além de poder comparar, o argentino é bom demais. Fico por aqui hoje, mas volto no Domingo com alguns longas da última semana Mostra Internacional, então abraços e até breve.
PS: Ainda não tinha o site quando vi o argentino, mas se tivesse que dar uma nota para ele seria 10 com louvor!!
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