Se existe alguma coisa melhor que cinema na vida desse Coelho que vos digita sempre é comida! E se juntar as duas coisas então, um filme com muita comida, no estilo desses realities-shows gastronômicos aonde todo mundo fica gritando e que tanto gostamos de ver? A resposta já vem em forma de saliva, pois é uma combinação digamos que perfeita e que com uma dramaticidade interessante, boas mensagens morais e atuações dinâmicas, não teve como ter erro, ou seja, um filme para se degustar. Claro que o ponto chave dramático do banquete inteiro poderia ser mais forte, mas ainda assim o sabor do prato principal é bem interessante e vai agradar quem gosta do estilo.
O longa nos mostra que o chefe de cozinha Adam Jones já foi um dos mais respeitados em Paris, mas o envolvimento com álcool e drogas fez com que sua carreira fosse ladeira abaixo. Após um período de isolamento em Nova Orleans, ele parte para Londres disposto a recomeçar a carreira e conquistar a sonhada terceira estrela no badalado guia Michelin de restaurantes. Para tanto ele conta com a ajuda de Tony, que gerencia um restaurante na capital britânica, e recruta uma equipe de velhos conhecidos.
Ao mesmo tempo que o longa é bacana por todo esse vértice alimentício que tanto gostamos de ver, principalmente ao mostrar a rotina de alguns grandes restaurantes, o diretor John Wells foi esperto para conduzir uma trama que desenvolveu tanto uma pegada familiar, como um recomeço de vida conturbado que pode sim ser refeito em qualquer época da vida. E ao dar essa dinâmica dentro de uma proposta interessante, o longa flui rápido e agrada pelos ângulos escolhidos (a maioria em closes de comidas aparentemente deliciosas e lindas - nos créditos aparece até um food stylish) e a todo momento conseguimos ir nos afeiçoando mais à todos os protagonistas. Talvez para que o longa fosse melhor, o conflito pessoal e a reviravolta deveriam ser mais impactantes, mas acredito que isso tiraria a leveza do filme, o que não envolveria tanto os espectadores.
O bacana da trama é que todos os atores deram perspectivas interessantes para os seus personagens, e facilmente conseguimos ligar todos à seus momentos sem hesitar. Bradley Cooper caiu perfeitamente bem para o personagem de Adam Jones, pois galanteador e com gênio explosivo, o galã de diversos filmes entra com nuances claras de que abandonou completamente as drogas, o álcool e até as mulheres, em busca de seu objetivo maior, e claro que ao se tirar tudo de um viciado o principal ponto que ataca é o nervosismo, e o ator deu show nas cenas mais impactantes, e quando precisou mostrar o lado mais familiar da última fase do filme, também trabalhou olhares incríveis, ou seja, agradou demais. Sienna Miller apareceu com um corte de cabelo tão diferente para sua Helene, e interpretou a personagem com tanto nervosismo, que até aparecer seu nome nos créditos não sabia quem era a atriz ali, chutando até outros nomes, e de certa maneira isso é algo legal de ver, pois mostra sua incorporação de personalidade diferenciada, o que sempre vai lhe render papéis diferentes, e quase todos grandes momentos dela certamente foram nas diversas trocas de olhares com o Cooper, e claro nas com a pequena Lilly. Que Daniel Brühl é um excelente ator, todos sabemos há muito tempo, mas seu Tony foi um pouco forçado demais, e abusar desse estilo de trejeitos pode incomodar uma classe, claro que ele foi aumentando durante as diversas cenas, mas logo em sua primeira entrada no quarto já tudo é conectado, e nem precisaria da terapeuta falar com letras garrafais, pois o público não é bobo, mas ao trabalhar bem os olhares conseguiu mostrar personalidade e agradar. Omar Sy é um ator que sempre adoramos ver, mas seu Michel parece um pouco desconexo com tudo o que é mostrado, até claro sua grande cena, mas ainda assim ela funciona mais para o protagonista do que para ele próprio e isso não é algo comum de ver um ator fazer, ou seja, precisa voltar a ter menos longas e mais qualidade nas suas interpretações como fazia antes. Matthew Rhys trabalhou bem seu Reece, mas diferente do que é dito numa das cenas, ele não funciona tanto como um inimigo do protagonista, claro que sua fala seguinte revela tudo isso, mas o ator soube desenvolver bem e chamar a responsabilidade em duas cenas. Emma Thompson, Uma Thurman e Alicia Vikander deram mais seus nomes para a produção do que grandiosas cenas para o filme, tendo apenas um destaque maior para Thompson que por aparecer mais como a terapeuta dos protagonistas conseguiu emplacar alguns discursos motivacionais, mas só.
Cenograficamente, o filme tem um requinte monstruoso ao nos colocar dentro de duas cozinhas completamente diferentes, mas com charmes únicos de serem vistos. Claro que volto a repetir que quem já viu "Hells Kitchen" vai se conectar mais ainda com as cenas dentro da cozinha de Jones, inclusive estão usando os chefs tanto da versão americana quanto da brasileira para divulgar o longa, então isso já é um ótimo cartão de visitas para o currículo da equipe de arte, pois se conseguiram agradar eles, certamente é devido ao bom trabalho cênico que fizeram, e com isso toda a comida foi preparada de maneira ímpar para ser vista e até quase saboreada com os ângulos escolhidos. Poderiam ter abusado um pouco mais nas cenas dramáticas fora da cozinha, mas como a proposta do filme não era essa, vamos convir que poderiam também ter botado mais fogo nos conflitos internos ali dentro. No conceito fotográfico tenho certeza que se não deram muita comida para o diretor de fotografia ele saia das gravações e comia até a câmera, pois os ângulos, as iluminações de cada prato eram feitas até melhores que as com os personagens de carne e osso, ou seja, tudo com muita cor para dar fome mesmo.
Enfim, é um bom filme? Sim! Tem muitos defeitos? Tem! Mas agrada mais do que atrapalha, principalmente nas boas atuações e no visual interessante alimentício, do que no texto fraco de reviravoltas, afinal os conceitos morais são os mesmos de uma animação simples, então poderiam ter feito algo com censura mais dura que chamaria mais atenção. Claro que o filme terá um bom retorno, principalmente no Brasil, afinal muitos irão ao cinema para ver Cooper e outros devido adorar os realities gastronômicos que estão tão na moda, então a distribuidora está prontinha para vibrar com as diversas cópias ao menos nessa semana que antecede outro grande blockbuster do ano. Então recomendo o filme com essa ressalva, que se estiver esperando ver um grande drama, passe longe, mas se gosta de algo mais leve e gostoso de ver, coma muito antes de ir para o cinema ou se prepare para certamente gastar com um combo imenso, pois fome é um fato que certamente o longa lhe trará. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda tenho outros longas para conferir nessa semana, então abraços e até breve.
PS: Nota pela comida: 10, Nota pelas atuações: 8, Nota pela dramaticidade do roteiro: 3. Média abaixo.
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