sábado, 16 de janeiro de 2016

A Grande Aposta (The Big Short)

Conheço muitos que poderiam ficar na dúvida se classificaria "A Grande Aposta" em comédia dramática ou terror financeiro, pois ao trabalhar de uma forma sarcástica e divertida com algo que foi tão duro e forte tanto nos EUA como no mundo todo, o filme nos mostra o quanto alguns malucos que jogam literalmente com números bem grandes podem tanto se dar bem ou mal, como podem acabar com a vida de diversas pessoas, apenas com um estalar de dedos, e de uma maneira bem gostosa e divertida de ver (para quem gosta de economia/investimentos), o filme se desenrola tão cheio de boas quebras que passa voando a hora e mesmo sabendo como foi feio o estrondo da bolha imobiliária nos EUA, o filme acaba passando coisas novas e interessantes para todos. E mesmo com muitos jargões da bolsa no longa, conseguiram passar tranquilamente mesmo para quem nunca ouviu sequer um dos termos, pois aí é que entra a grande sacada do diretor, ao colocar de uma forma bem-humorada personalidades explicando ao seu jeito de viver, o que significa tudo aquilo que tem nome estranho, e aí é que a sacada muda o ponto de vista e envolve todos na sessão.

O longa nos mostra que Michael Burry é o dono de uma empresa de médio porte, que decide investir muito dinheiro do fundo que coordena ao apostar que o sistema imobiliário nos Estados Unidos irá quebrar em breve. Tal decisão gera complicações junto aos investidores, já que nunca antes alguém havia apostado contra o sistema e levado vantagem. Ao saber destes investimentos, o corretor Jared Vennett percebe a oportunidade e passa a oferecê-la a seus clientes. Um deles é Mark Baum, o dono de uma corretora que enfrenta problemas pessoais desde que seu irmão se suicidou. Paralelamente, dois iniciantes na Bolsa de Valores percebem que podem ganhar muito dinheiro ao apostar na crise imobiliária e, para tanto, pedem ajuda a um guru de Wall Street, Ben Rickert, que vive recluso.

Um fator interessante na direção de Adam McKay é que ele quis trabalhar de uma maneira leve, mas desafiadora, ao colocar alguns personagens como "contadores" de sua própria história e personalidade, então não se assuste se de repente você está lá curtindo sua cena, e o ator enquadrado resolver parar a cena e vir falar algo para a câmera, pois esse recurso que já foi usado em diversos outros filmes costuma funcionar ou muito bem, ou ser um desastre completo, e aqui felizmente fez um papel diferenciado para a trama, pois ao colocar tantos personagens em um único filme, a trama pode ser que acabe confundindo o espectador menos atento aos principais nomes, e essas quebras fazem com que, mesmo sendo um alívio diferencial (cômico em sua maioria), possamos respirar em meio à tantos termos técnicos que nos é jogado. Claro que por ser baseado em um livro totalmente voltado para administradores e economistas, o filme acabe chamando mais atenção desse público, mas quem não for da área pode até curtir a trama, ficando um pouco confuso claro, mas certamente irá se divertir com tudo, já que as explicações de alguns termos são o ponto mestre do longa. Outro ponto bem forte do longa fica a cargo da edição, que ao inserir diversas cenas fora do contexto completo da trama, para ilustrar alguns pensamentos, conseguiu dar um tom artístico tão bacana que tudo acaba compensando e agradando bastante, ou seja, uma montagem épica e diferenciada para os padrões de dramas/comédias.

Agora se eu for falar de todos os atores que agradaram em seus papeis, meu texto vai acabar virando quase de uma monografia de 100 páginas, pois temos muita gente boa fazendo expressões interessantes e trabalhando muito bem no filme, então vou me ater à alguns nomes, mas saiba que qualquer um que você escolher acompanhar na trama, vai acabar se divertindo e gostando demais do que vai ver. Christian Bale, o famoso homem elástico que muda tanto de visual ora engordando, ora emagrecendo para seus papeis que logo mais não vamos mais saber quem é ele em algum filme, e aqui seu Dr. Michael Burry está incrível, com uma personalidade completamente aquém do que já vimos ele fazer, e principalmente de conhecer alguém assim na vida, quase um devorador de números, mas totalmente maluco que consegue nos envolver no olhar e com uma personalidade única e interessante de acompanhar. Steve Carell trouxe uma personalidade ímpar para seu Mark Baum, de modo que suas cenas em Las Vegas são tão empolgantes que mesmo sendo inteligentíssimo para vivenciar cada momento com uma expressão diferenciada, o ator que costuma fazer caretas demais em seus longas, aqui mostrou que pode ser simples se bem trabalhado a ideologia da causa. Ryan Gosling ficou bem bacana com o oportunista e praticamente um apostador nato da situação Jared Vennett, que a cada ato só impactava mais na incrementação de seu personagem e de uma forma bem agradável conseguiu chamar atenção. Mesmo estando mais recluso, por ser também o produtor do longa, Brad Pitt conseguiu chamar atenção em algumas cenas com seu Ben Rickert, e como sempre quando ele é sutil, acaba desenvolvendo bem o carisma do personagem, de modo que ficamos interessados nas suas loucuras. Como disse todos foram muito bem nos devidos papeis e para não alongar muito tenho de dar mais um destaque para Jeremy Strong que foi impactante com seu Vinnie chamando atenção pelo jeito forte que desenvolveu o personagem, de uma maneira pouco incomum de ver na bolsa.

A equipe artística foi muito esperta no desenvolvimento do filme, pois ao trabalhar somente com salas fechadas, e um ou outro momento em locais mais amplos como salões lotados, puderam trabalhar a cenografia de um modo clássico sem precisar apelar visualmente cada ato, além claro de manter o filme datado da época em que tudo ocorreu. Claro que a perspectiva visual nem é algo que chame atenção, afinal o filme todo é desenvolvido nos diálogos e situações, mas para representar bem algumas cenas, foram abusados, principalmente quando a equipe vai visitar algumas casas em condomínios de luxo. Certamente o maior trabalho da equipe de arte foram nas cenas soltas cômicas, como na da cozinha, e também para montar a sala de Michael Burry, afinal o cara era maluco com bateria e muita coisa diferente espalhada pela sala. A fotografia trabalhou com nuances mais fechadas para manter um tom mais sério na trama, afinal tudo foi dramático no contexto completo, mas quando jogava para o ar satírico, sempre havia tons mais coloridos ao redor para contrastar, o que é bem legal de ver.

Enfim, aliado à boas canções, principalmente canções de rock clássico, o filme se desenvolve bem rápido e agrada bastante. O longa concorre à cinco categorias no Oscar(filme, ator principal com Christian Bale, direção, roteiro adaptado e edição), mas confesso que somente edição teria uma chance mais provável. Talvez o maior erro foi usar demais termos técnicos e se voltar completamente para quem entende um pouco de economia, pois alguns que não forem tão fãs desse meio, vão acabar rindo de diversas cenas por serem engraçadas, mas no restante do filme vai acabar perguntar para alguém o que é, ou vai ficar boiando completamente com a situação, o que não é muito legal, então embora seja um bom filme, não recomendo ele para todos, mas para os amigos da área de finanças é mais um longa para por na lista de ver e usar nas aulas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com o último longa que estreou por aqui nessa semana, então abraços e até breve.


2 comentários:

  1. É um filme bem interessante para entender a crise subprime dos EUA. Independente de ser familiarizado com o mercado financeiro todos deveriam se interessar pelo assunto uma vez que uma crise destas afeta muitos empregos, casas, aposentadorias e poupanças.

    Outros filmes interessantes são o excelente doc "Trabalho Interno" sem gracinhas e mais técnico a abrangente e "O Capital" de Costa-Gravas. Este último enfoca o mundo capitalista com sua ganância e luta pelo poder.

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  2. Olá Yupaqui... você falou a mais pura verdade, afeta demais todo mundo, se fosse por aqui acho que o rombo seria mais feio ainda com o tanto de corrupção...
    Sobre os filmes que falou adoro ambos... e tem crítica aqui no site:
    O Capital: http://www.coelhonocinema.com.br/2013/10/o-capital.html
    Trabalho Interno: http://www.coelhonocinema.com.br/2011/08/trabalho-interno.html

    Abraços!!

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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...