Temas polêmicos sempre flutuam perante os grandes roteiristas do cinema e da TV, mas poucos são os corajosos em pegar um tema real que aponte o dedo na cara de determinado público e faça um filme com valor amplo, mostrando com firmeza a ideologia que deseja passar. E se tem um filme que certamente podemos colocar no topo máximo de coragem para desenvolver uma história real bem polêmica é "Spotlight - Segredos Revelados", que consegue mostrar apenas com boas interpretações e uma direção precisa, toda uma denúncia que a equipe Spotlight do jornal Boston Globe acabou ganhando um Prêmio Pulitzer e ainda revelou para o mundo todo o mundo sujo por trás da Igreja. Ou seja, se você é uma pessoa religiosa, talvez saia revoltada do cinema com tudo o que é mostrado, mas se você gosta de um bom filme investigativo, certamente essa é a pedida para o fim de semana, afinal o longa já está sendo premiadíssimo e provavelmente deva levar o Oscar.
O longa nos conta a verdadeira e fascinante história da investigação ganhadora do Prêmio Pulitzer feita pelo jornal Boston Globe, que viria a abalar a cidade e causar uma crise em uma das instituições mais antigas e confiáveis do mundo. Quando o time de repórteres da tenaz equipe "Spotlight" mergulha nas alegações de abuso na Igreja Católica, a investigação de um ano desvenda décadas de encobrimento nos mais altos níveis dos estabelecimentos legais, religiosos e governamentais de Boston, desencadeando uma onda de revelações ao redor do mundo.
Alguns longas possuem um conteúdo textual tão grandioso que poderiam ser feitos dentro de uma sala simples apenas que sairíamos felizes ainda com o resultado, e esse certamente é um deles, pois os roteiristas Josh Singer e Tom McCarthy foram expressivos na medida certa para que o filme não sobrepusesse a importância do que os jornalistas fizeram, e isso é algo raro dentro da história do cinema, pois em suma, os diretores e roteiristas preferem desenvolver algo novo e deixar o fato real apenas como bônus na trama, o que aqui não acontece, felizmente! O diretor Tom McCarthy também foi bem coeso aonde queria atingir, enaltecendo e muito o trabalho da equipe, fazendo com que cada ato fosse desenvolvido em conjunto (para não precisar ficar explicando cada execução de cada personagem), apresentando eles bem rapidamente durante a própria condução e com isso deixando o filme dinâmico, e principalmente, determinado com a proposta de agradar quem gosta de um bom longa investigativo. Claro que pra isso, assim como o jornal arriscou perder boa parte dos seus leitores que eram católicos, o filme também entra numa briga de gigantes, afinal em diversos países mais fervorosos pela Igreja, o longa tem sofrido represálias e não está sendo exibido, mas afirmo que mesmo quem acredita na fé e tudo mais, vai ficar muito indignado ao ver tudo que o longa proporciona, e dessa maneira volto a afirmar o que faz valer ver um longa que é diversão e informação, e aqui essa última vertente, vem com tudo, seja pelas mãos do diretor que soube dominar toda a situação, do roteiro bem escrito e completamente focado, do elenco maravilhosamente bem conectado ou até mesmo da edição dinâmica que foi trabalhada para que o longa não cansasse, ou seja, um trabalho completo e perfeito.
Como disse acima o elenco possui uma conexão incrível, que nem se fosse um romance meloso teríamos tanta química entre os personagens, de modo que é quase possível em algumas cenas, um completar a frase do outro sem que o texto precisasse estar por ali, e isso só é sentido quando tudo flui corretamente, então podemos ver que todos se doaram para a trama, e o resultado é um filme condizente com a força da proposta. De certa forma Michael Keaton é o líder da equipe com seu Robby, mas ele ao mesmo tempo que age exatamente como um bom líder deve ser, conseguiu sempre tocar a bola, ou no caso, o diálogo como uma luva para qualquer um que estivesse em cena com ele, e isso claro que mostra toda a experiência de muitos anos do ator, mas também o estilo que optou por colocar na personalidade do personagem, e isso é muito bacana de ver em todas suas cenas. Mark Ruffalo é daqueles atores que nunca vamos saber qual é o melhor estilo que pode interpretar, pois seja fazendo um herói ou um músico ou um jornalista sedento de informações, ele sempre vai imprimir seu estilo maluco repleto de expressões e que vai agradar a todos, então seu Mike Rezendes é interessante de ver e acompanhar, mesmo que para isso você quase não respire e nem pisque, pois diferente da idade do ator, o jovem personagem parece aqueles novatos na redação que não param nem para beber uma água. Rachel McAdams trouxe um estilo forte para sua Sacha Pfeiffer, mas sem perder a beleza e dinâmica característica de seus personagens, e se mostrando completamente interessada em todos os depoimentos que colhe, trabalhando na tonalidade das perguntas e somente mostrando suas angústias com olhares, a atriz acaba emocionando e envolvendo o público. Deram para Live Schreiber um personagem calmo demais, pois a personalidade do ator é algo mais explosiva e que confronte tudo, mas de certo modo, seu Marty Baron consegue chamar atenção. Vários outros atores também possuem boas cenas(Brian d'Arcy James como Matt, Stanley Tucci como Mitchell Garabedian, John Slattery como Ben Bradlee Jr., Neal Huff como Phil Saviano, entre outros), mas como disse acima todos estão ótimos, então vale a pena focar mais nos textos e nos protagonistas senão a chance de você sair do eixo é bem alta.
O conceito visual da trama não é o ponto forte do filme, mas souberam escolher bem as locações e criar outros locais em estúdios para representar bem a sala da equipe, aonde bons diálogos expressivos ocorrem, sempre mostrando muito material de jornal sobre as mesas para investigações, no melhor estilo jornalístico possível (o que agrada bem mais do que investigações policiais), sempre ao saírem para colherem depoimentos os locais também chamam atenção pelo visual mais antigo para manter a época do caso, mas sem que fossem chamativos demais, afinal a importância da produção cênica, como disse, não é em momento algum quem deve predominar, e isso fazem questão de elucidar mesmo quando estão em uma festa de gala. A fotografia trabalhou sempre num tom vivo, mas sem iluminar demais, para que a tensão fosse criada e ficasse sempre presente durante toda a cena, e quando era preciso apimentar com algo a mais, baixavam a luminosidade e o clima ia lá para cima, ou seja, um trabalho bem minucioso para segurar o texto, mas trabalhando também a temperatura cênica.
Enfim, um filmaço que vale muito a pena ser visto, que alguns podem reclamar de ser polêmico demais, com diálogos em demasia, mas isso é o jornalismo internacional bem investigado à ponto de mostrar uma notícia completa sem pestanejar e sair colocando algo no meio que possa atrapalhar o auge da matéria, e o filme seguiu o mesmo estilo para que tudo fosse mostrado sem necessitar forçar a barra ou apenas jogar ideias para que o público criasse na mente o que estava ouvindo, ou seja, um filme que dá o seu recado e mostra a opinião que quer que vejamos na tela. E dessa maneria com o tanto de elogios que fiz acima, é claro que recomendo o longa para todos, com a ressalva de que se você é extremista católico, vá ver sabendo que é um filme contra a Igreja em si, e se não gosta de coisas contrárias fique em casa. Fico por aqui agora, mas ainda tenho muitos longas para conferir no fim de semana, então abraços e até breve.
PS: Pensei em dar um 9 ou até um 9,5 caso tivesse, mas o filme me fez ficar vidrado na telona sem quase nem piscar, e ainda sair pensando revoltado com toda a situação apresentada, então vamos com 10 mesmo.
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