É interessante quando algum filme possui uma temática forte baseada na sobrevivência frente à fúria da natureza, e alguns profissionais tentam verter o longa para um rumo diferente. Em "Horas Decisivas", certamente a ideia principal do filme é a sobrevivência dos homens no imenso barco tanque, e dos homens no barquinho que vai tentar salvar os sobreviventes do barcão, mas por algum motivo (talvez o selo Disney) acham que o romance fraco entre um casal que se conheceu de maneira inusitada, se apresentam em duas cenas romantizadas, mas com nada demais para ter uma química monstruosa, é algo mais importante para ser mostrado. E dessa maneira o filme até cria uma tensão bem bacana, mas não envolve como poderia, e nem cria uma dramaticidade impactante para que o público torça pela salvação dos diversos personagens (que até aparentam ter boas histórias, e no livro devem ser contadas, mas aqui foram cortadas), e assim o filme passa de uma forma que até a comoção final acontece, mas com muita pena iremos esquecer dele em breve.
O filme nos mostra que em 1952, uma grande nevasca uma tempestade atinge dois navios petroleiros, lançando 84 tripulantes ao mar. Enquanto a tempestade dificulta a sobrevivência do grupo, uma equipe de guardas costeiros tenta resgatar as vítimas.
Embora o filme não possua grandes nomes na equipe técnica, o filme pode ser considerado uma obra bem interessante no conceito produtivo, pois trabalha bem a cenografia, e claro muitos efeitos digitais, além de muita água aonde foi gravado (é daqueles que certamente ver o making of vai ser interessante, e pra isso irão vender bem as mídias depois) para que o realismo funcionasse. O diretor Craig Gillespie ("A Hora do Espanto", "Arremesso de Ouro") trabalhou bem o contexto geral, mas o grande problema da trama ficou por conta do roteiro adaptado de livro embasado em fatos reais, mas que certamente contém muitas histórias paralelas (para mostrar a vida de cada membro importante, o que ele está fazendo ali, porque faz tais atitudes, o que ocorreu no passado com ele para ser assim) e no filme isso não cabe ser colocado, pois viraria uma fraca série, já que alguns personagens não vão ser importantes e nem são atores famosos contratados para desenvolver isso. Então o resultado não avança nem para um romance aonde alguém deseja incomensuravelmente voltar para os braços da amada, já que tiveram uma ótima noite romântica, e nem se prende tanto ao drama que as pessoas estão jogadas em alto mar no meio de ondas imensas, prestes a morrer nas horas seguintes, e isso acaba dando o mote fraco para a trama, e o diretor apenas seguiu calmamente o que estava escrito nos papeis.
Sobre a atuação, temos também um erro de escolha diria, pois Chris Pine é bem mais acostumado à fazer heróis e mocinhos, mas com uma perspectiva bem menos dramatizada, e claro que sem mostrar à fundo os motivos que deram tanta insegurança para seu Bernie, ele acabou ficando com expressões não tão boas frente às câmeras, claro que trabalhou muito bem, mas confesso que outros atores dariam mais impacto para o personagem e chamaria mais atenção, mas como a velha história de que precisam sempre de um mocinho bonito para chamar público, acabaram escolhendo o bonito errado. Da mesma forma Cassey Affleck até combinou com o seu personagem de alguém sem família e determinado à comandar um navio que ele conhece como ninguém, mas seu Sybert acaba ficando sem dinâmica aparente na história, e valeria demais aprofundar sua história no navio, e tudo o que fez ali com mais tempo, pois ele tiraria de letra e chamaria muito mais atenção, não que tenha feito algo errado, mas seria um filmaço com ele como um protagonista mais forte. Eric Bana literalmente estava perdido em cena como um comandante perdido da guarda costeira, nas duas cenas em que aparece, os demais tomam praticamente as decisões que querem, e ele simplesmente faz algumas caras e bocas, não sei se no livro mostrava o capitão Cluff dessa forma, mas ficou um personagem bem aquém do que estamos acostumados a ver ele interpretando. Holliday Grainger com toda certeza atrapalhou e muito o andamento do filme, não pelas expressões fortes de sua Miriam, mas pela personagem não ter conexão forte alguma com o protagonista, tudo bem que ela pediu ele em casamento, e no final é dito mais coisas importantes sobre a história deles, mas no trecho selecionado para a tela, é algo que não necessitava aparecer de forma alguma, e ficou ruim todas suas cenas para o contexto geral da trama. Os demais possuem poucas cenas importantes, e fica evidente que no livro eles são importantes, pois estão em cena quase que no tempo integral, mas sem falar muito, ou cortaram tudo na edição final, ou apenas quiseram ter as pessoas ali.
O conceito artístico da trama foi muito bem trabalhado para que o navio tivesse muitos elementos cênicos representativos, o quartel da guarda costeira fosse simples, mas bem feito, as casas e bares aonde tivessem alguma cena sempre contando com objetos chamativos para dar close (no livro a foto do marido morto certamente foi algo bem marcante, senão não dariam 3 closes no quadro), ou seja, tudo bem feitinho para manter o tom da época dos anos 50, principalmente com os veículos que aparecem bastante, e claro com os figurinos interessantes puderam ter um charme a mais dentro do contexto geral do filme. Uma coisa que funcionou muito bem, principalmente utilizando a tecnologia 3D foi a neve e a água, pois mesmo o longa não tendo sido filmado com a tecnologia, souberam dosar os momentos impregnando bem os efeitos, e em diversos momentos, essa ideologia acaba ficando sufocante como pensaram na criação do roteiro. E dito isso, a fotografia foi bem trabalhada usando muito alguns tons mais escuros como marrom e preto nas cenas com excesso de branco da neve (que sempre arrasa em qualquer filme rodado na época de muita neve), e mesmo nos momentos quase sem iluminação alguma procuraram utilizar iluminações falsas para não apagar completamente os personagens da tela, e embora soe falso, alguns elementos cênicos foram bem trabalhados para dar a condição favorável no meio de tanta chuva. Ainda sobre o 3D, tiveram alguns momentos em que a perspectiva de câmera funcionou melhor, mas é um filme que poderia abusar mais do âmbito claustrofóbico com a tecnologia, e são poucas cenas em que gastaram um pouco mais na conversão, e duas cenas que trabalharam algo vindo em direção ao público, o que não vai empolgar tanto quem gosta de filmes 3D.
Enfim, é um filme bacana, que certamente vai emocionar o público com o final, mas você vai acabar comovendo com os personagens nessa cena, irá sair da sessão, verá alguma outra coisa, e se perguntarem pra você que filme viu, é capaz de nem lembrar mais nada. De uma certa maneira recomendo ele, mas que vejam sem muita empolgação, pois não é um filmaço como poderia ser, e claro quem não gosta de água, passe longe, pois a fobia é possível. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda tenho mais alguns longas para conferir nesse final de semana, então abraços e até breve.
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