É estranho quando fazem uma montagem em cima de um clássico, pois o livro de Jane Austen é uma obra de vários anos, diversas vezes adaptada para as telas do cinema e da TV, com diferentes nomes e perspectivas, mas sempre mantendo a essência amorosa numa época conturbada, daí quando outro escritor resolve incorporar nessa situação os seres da moda, zumbis, e ao acharmos que viraria algo improvável de gostarmos, é aí que acabamos nos enganando, pois o livro foi um dos mais vendidos da atualidade, e o filme baseado nele "Orgulho e Preconceito e Zumbis" ficou algo muito interessante de acompanhar e se divertir, de modo que com um pós-crédito dando a intenção de um segundo filme, poderemos com certeza torcer para que façam, pois será sucesso também.
A sinopse do filme nos conta que um surto de zumbis se abateu sobre a Terra nesta releitura do conto clássico de Jane Austen que trata das relações e enlaces amorosos entre amantes de diferentes classes sociais na Inglaterra do século XIX. A resoluta heroína Elizabeth Bennet é mestre em armas e artes marciais; e o belo Mr. Darcy é um feroz assassino de zumbis e símbolo máximo do preconceito inerente às classes superiores. Mas à medida que o surto zumbi se intensifica, os dois devem deixar o orgulho de lado e unir forças no campo de batalha encharcado de sangue, a fim de acabar com o exército morto-vivo de uma vez por todas.
Confesso que não sou o maior aficionado por longas e séries de zumbis, mas com toda certeza é um nicho que possui um público bem cativo e que gosta de sangue espirrando para todo lado, e o acerto do filme é não ficar com mesquinharia frente a isso, pois temos boas cenas de monstros que são facilmente fatiados pelas lindas mulheres armadas do longa. O diretor e roteirista Burr Steers ("17 Outra Vez", "A Morte e Vida de Charlie") conseguiu pegar os bons elementos do livro de Seth Grahame-Smith e transformar numa aventura bem produzida e cheia de gags cômicas que empolgam e divertem na medida certa o espectador. Claro que pra isso ele necessitou usar de artifícios tradicionais do estilo, então não espere ver muita novidade na tela, mas sim um apanhado costumeiro de outros filmes, adaptados para o gênero de zumbis (se é que já podemos classificar como um novo gênero, já que tem saído tantos filmes com a temática), e você deve estar perguntando se isso funciona bem, e por mais estranho que possa parecer a resposta é sim, funciona e bem, pois temos quase que uma sociedade pré-disposta a combater os mortos-vivos e que está preparada para isso, então tudo o que ocorre no formato casual é que acaba parecendo estranho dentro do contexto, mas que trabalhados em sincronia acabaram tendo uma agradável e singela montagem, e de certo modo empolgam todo o andamento.
No quesito interpretativo, ficou algo meio que embaraçoso, pois em determinados momentos, o longa fica parecendo uma paródia com atores caricatos, mas em outros aparentam estar fazendo algo realmente sério e bem feito, então apenas essa dúvida poderia ser melhor dirigida para agradar mais, pois o restante é bem interessante de ver. O estilo de Lily James é algo interessante de ser observado, pois como é uma atriz que varia bastante de gêneros e personagens, ela consegue incorporar bem a essência que cada personagem pede com sua personalidade própria, e aqui sua Elizabeth Bennet é daquelas mulheres fortes que pro cara namorar com ela vai precisar ser um guerreiro de primeira linha, senão vai apanhar em casa, e a atriz trabalhou com olhares, e claro, com muita ação cada momento do filme, chamando a atenção em tudo o que fazia. Embora tenham tentado colocar Sam Riley como um galã arrogante no papel de Darcy, talvez falharam na escolha, pois o jovem ator não é alguém bonito de se ver, mas encarou bem a personalidade imposta e até agrada no estilo que fez com boas interpretações e tudo mais, mas certamente outro ator chamaria mais atenção. Matt Smith foi o responsável pelo personagem mais caricato da trama, e embora seu pastor Parson Collins se encaixe bem no contexto, ficou abusivo a personalidade que ele quis fazer. É engraçado ver o personagem Wickham, interpretado por Jack Huston, pois ideologicamente vamos torcer por ele e quando se dá o ponto de virada, ainda continuamos torcendo pelo estilo que o ator consegue mostrar, mas ele muda completamente sua força na entonação e por bem pouco não vira o protagonista da trama, quem sabe no segundo filme. Os demais atores até fizeram bem seus papeis, mas sem muito destaque acabaram bagunçando mais do que servindo de algo para chamar atenção.
Agora um bom filme de zumbis tem de ser bem trabalhado no visual, e aqui ao juntar com uma trama de época, com toda certeza capricharam bem nos figurinos e na cenografia, colocando uma Inglaterra clássica e florestas/cemitérios recheados de mortos-vivos bem caracterizados com maquiagens carregadas e sem ficar falso demais. Ou seja, um trabalho minucioso para que cada cena ficasse oscilando entre o clássico da trama tão conhecida com o estilo dos monstros, e assim criando seu próprio ambiente. No conceito fotográfico, a trama trabalhou bem com cenas escuras, usando bastante o artifício de luzes falsas da lua, e muito uso de velas para dar o clima pesado da trama, também é visto o exagero no tom cinza para dar contexto e isso agrada com toda certeza.
Enfim, é um filme bem non-sense que ou você vai amar, ou vai odiar tudo o que é mostrado, mas com toda certeza chama a atenção por trabalhar dois estilos se complementando ao mesmo tempo na tela, e por incrível que pareça deu química. Na minha concepção recomendo ele para todos, mas alguns podem estranhar um pouco, principalmente pelo estilo de zumbis que não é algo que todos gostam. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já que agora é sentar na poltrona e aguardar a premiação do Oscar, mas amanhã estou de volta com mais posts das estreias, então abraços e até lá.
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