Faz tempo que estão nos prometendo longas de terror que almejam qualidade e requinte, sem se preocupar com que o público saia horrorizado com o que verá, aonde seja trabalhado algum estilo simbólico envolvente de muita religiosidade, e que de certa forma cause algum estilo de impressão mais artística do que os longas feitos para assustar somente. Porém, "A Bruxa" foi tão bem vendido pelo marketing, que sinceramente esperava sair horrorizado, com todos os pelos ouriçados e com pensamentos impuros após a sessão, e cá estou tomando um milkshake tão tranquilo quanto tivesse visto "Os Ursinhos Carinhosos". Não digo que algumas cenas não sejam fortes e tal, mas garanto que você irá sair bem tranquilo da sala, mesmo que veja na sessão da meia-noite no shopping, e o estacionamento esteja completamente escuro para procurar seu carro.
O longa nos situa na Nova Inglaterra, no ano de 1630, aonde o casal William e Katherine leva uma vida cristã com suas cinco crianças em uma comunidade extremamente religiosa, até serem expulsos do local por sua fé diferente daquela permitida pelas autoridades. A família passa a morar num local isolado, à beira do bosque, sofrendo com a escassez de comida. Um dia, o bebê recém-nascido desaparece. Teria sido devorado por um lobo? Sequestrado por uma bruxa? Enquanto buscam respostas à pergunta, cada membro da família seus piores medos e seu lado mais condenável.
Um ponto inegável sobre o filme é o do diretor e roteirista Robert Eggers ter estreado nos cinemas com algo tecnicamente perfeito, pois embora o longa não assuste, o filme usou e abusou de uma fotografia incrível e uma cenografia mais perfeita ainda, colocando a trama dentro de situações altamente de vislumbre para que quem quisesse se envolver com a ambientação, conseguisse sair bem feliz com o que verá na telona, e certamente isso que apaixonou os críticos que gostam de mais simbologia do que passar medo em filmes de terror. Pois assim como outros longas que procuram mostrar rituais e seitas, o filme é forte para quem acredita nisso, e diferentemente de outros terrores psicológicos e que acabam assustando você por algum motivo, o filme não vai fazer com que perca o sono, e muito menos apavore com algo mostrado (claro que o choque nas cenas aonde nos induzem a imaginar pedofilia é algo apavorante, mas já tivemos coisa pior nos cinemas) e assim sendo, mesmo o diretor tendo acertado a mão no estilo de conduzir a trama, ele poderia ter feito algo mais assombroso e que fizesse o público se borrar de medo. Mas... como o marketing do longa está sendo tão imenso, a sala de uma sessão de fim de tarde estava abarrotada, e conversando com o pessoal do cinema, ontem na estreia também lotou as duas sessões com um público bem curioso para um longa de terror, e a maioria comum sai reclamando do que viu.
Sobre as atuações, o que posso dizer de antemão é que arrumaram uns atores no mínimo curiosos e que por falarem tanto de religião durante o filme inteiro, acabam nos assustando com seus semblantes e devoções. Anya Taylor-Joy conseguiu transmitir bem a personalidade da jovem Thomasin, e trabalhando com expressões de espanto frente à tudo que ocorria, seus momentos acabaram sendo cruciais para segurar a tensão da trama, claro que se o filme seguisse de onde acabou seria algo muito melhor, mas aí teríamos um longa somente dela, e a coisa seria bem outra. Ralph Ineson fez de seu William, um daqueles personagens tradicionalíssimos de época, de modo que certamente se viajássemos no tempo e aparecêssemos no ano de 1630 encontraríamos diversos Williams preocupados com sua fé e com sua plantação, sempre orando para que a família seja salva de seus pecados, e o ator incorporou isso como mote de seu semblante e agradou bastante no que fez. Kate Dickie chega a ser incômoda frente aquelas mulheres que preferem não acreditar no que está na frente dela, mas acredita no impossível, e trabalhando de forma mais contida, a atriz tem uma ou duas cenas para tentar algum destaque para sua Katherine, e por incrível que pareça ela consegue chamar atenção nas suas duas últimas cenas. Agora se temos de dar algum destaque para alguém do filme, com toda certeza é Harvey Scrimshaw, pois o jovem segurou um semblante misterioso e forte em todas as cenas de seu Caleb, e no momento que precisou dar seu show de expressão, acabou fazendo algo que poucas vezes vimos um ator tão jovem fazer, e sendo praticamente sua estreia, podem marcar seu nome, pois veremos muito mais proveniente dele. Quanto dos gêmeos no filme, Mercy e Jonas, interpretados por Ellie Grainger e Lucas Dawson, o que posso dizer é que mesmo que o filme falasse que eles não foram amaldiçoados, certamente ninguém falaria que eles eram normais, pois estavam com o demo no corpo de tão agitados que foram em todas as cenas.
Como disse no começo do texto, o ponto forte da trama sem dúvida alguma é o visual da trama, pois arrumaram uma locação perfeita bem próxima de um bosque e com uma casinha bem simples, alguns animais, tudo iluminado à base de velas, figurinos típicos da época bem volumosos feitos à base de peles de animais, objetos cênicos estranhos, animais não muito amigáveis e tudo mais, acabaram contribuindo para uma trama densa e bem própria do que o filme pedia. E aliado à isso, a equipe de fotografia usou o tom cinza quase que em teor predominante para deixar o filme quase que envolto em uma névoa densa, mas sem usar do artifício de fumaça, o que foi um grande acerto, e claro que o contraste das velas fez com que o filme acabasse trabalhando uma perspectiva alaranjada em diversos momentos, o que agrada bastante.
Assim como todo longa de terror que se preze, o filme trabalha e muito com a sonoridade da trilha subindo o tom nas cenas que acreditam ser mais fortes, então do nada a trilha vai ficando mais alta até você acreditar que algo forte vai rolar, e nada acontece!!! Mas no geral, ao menos serviu para termos um bom ritmo, pois mesmo não assustando, o longa não cansa o público.
Enfim, não é um filme ruim, muito pelo contrário, a trama consegue envolver bem, mesmo que não assuste nada. Sendo assim, novamente, um filme vendido mais pelo marketing em cima dele do que realmente pelo que vale. Recomendo ver só se gosta de filmes de época, pois se for com sede de ver algo aterrorizador, vai sair bem frustrado da sessão, mas indo ver um suspense de época é capaz que saia feliz com o resultado. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para uma outra sessão, e amanhã cedo publico o que achei do outro filme, então abraços e até breve.
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