Não me lembro de ter visto nenhum outro filme da Islândia até hoje! Aliás, vou dar uma olhada no mapa que nem sei direito aonde fica a Islândia, e mesmo parecendo um lugar bonito pelas montanhas no filme, me pareceu ser um lugar chato demais de se viver, só ovelhas, pastores de ovelhas, e reuniões para ver qual a ovelha com mais massa muscular para ser premiada!!! No longa "A Ovelha Negra", a premissa da trama é bem interessante, afinal diversas brigas de família acabam indo até limites inimagináveis, e ainda mais num lugar ermo, aonde a competição entre as ovelhas é o único passatempo anual entre os moradores. Mas ver que rumos tomaria a decisão de fazer algo errado, e até onde a loucura de dois senhores chegaria é algo que instiga o público e faz junto com os diversos conceitos de moralidade, chegarmos à diversas conclusões possíveis para a trama. Porém como estamos falando de um longa artístico feito para não ser tão comercial, infelizmente os diretores desse estilo preferem abandonar o fechamento com aberturas para que o público tire sua própria conclusão, ao invés de dar a deles, e isso certamente incomodou todos na sessão e incomodará à todos que forem assistir.
O longa nos mostra que na Islândia, a população de ovelhas é maior que a de seres humanos. Os animais têm grande importância no país, em boa parte composto por grandes fazendas destinadas a criá-los. Um dia, após ser derrotado no concurso anual do melhor cordeiro, o fazendeiro Gummi decide investigar o animal vencedor e logo desconfia que ele tenha scrapie, uma doença contagiosa entre os animais. Quando a ameaça se confirma, todas as fazendas das redondezas são obrigadas a matar suas ovelhas, o que para muitos é considerado uma verdadeira tragédia. Só que, decidido a proteger seus animais prediletos, Gummi elabora um plano para que eles escapem da matança.
Sem conhecer muito da cultura local, o filme pode até parecer um pouco bobo com o começo apresentado, mas logo que entra a ideologia crítica da briga familiar, o filme começa a tomar proporções tão impactantes, que vemos todo o trabalho do roteiro que o diretor Grímur Hákonarson teve para desenvolver cada momento da trama, e principalmente sem precisar ficar explicando cada detalhe, afinal como vemos logo de cara, os personagens não são muito de ficar dialogando. E com o mote sempre colocando o enfrentamento moral de estar fazendo certo ou errado, que pode ser vista pelo menos cinco vezes, o diretor cria perspectivas com rumos cada vez mais indecifráveis para aonde ele quer chegar, ou como ele vai finalizar sua trama, o que acaba empolgando o público com tudo, mas aí entra a tradição de filmes artísticos e que esse Coelho que vos digita havia esquecido, e ele fecha seu filme com uma cena completamente aberta para que você querido leitor que irá conferir o filme, tire suas próprias conclusões e fique feliz ou triste com seu próprio final!!! Confesso que isso quebra qualquer um, e poderia reclamar de diversas maneiras, mas vou preferir hoje deixar minha opinião sobre o final, depois deixem as suas, pois com certeza serão várias (pode até ser um quase spoiler, mas garanto que isso não é mostrado no filme, então pra mim, os irmãos se conciliaram no seu momento de quase morte, e ponto).
Sobre a atuação, os dois atores principais do filme poderiam facilmente fazer qualquer filme natalino, pois lembram muito o tradicional Papai Noel (não era da Islândia que vinha o Noel? Ou é muita coincidência?)... e com expressões bem fechadas, a rixa fica bem trabalhada com seus semblantes e acabamos se conectando com cada um, principalmente claro com Gummi, que é interpretado por Sigurour Sigurjónsson, afinal a trama fica bem mais focada nele, e assim sendo seu estilo nos leva a torcer de certo modo para que consiga fazer seus planos (mesmo que alguns maquiavélicos)... o destaque fica para seus momentos chamando o cachorro do irmão, e seu semblante triste em meio às ovelhas caídas. E quanto a Kiddi, que é interpretado por Theodór Júlíusson, seu jeito arrogante também consegue chamar atenção, e seu momento de maior feitio, tirando a cena final é a da espingarda que ficou muito bem colocada na trama. Os demais posso até estar enganado, mas são aqueles amigos da equipe que apareceram para dar uma forcinha no longa, pois vai fazer caras sem sal lá na Islândia, em um filme maior nem para figuração serviriam.
O contexto cênico da trama é bem simples, assim como o filme todo, e o maior acerto foi arrumar um lugar bem isolado (volto a afirmar que não sei se toda Islândia é assim, somente composta em maioria de campos de pastagem), com duas casinhas, alguns tratores grandes e pequenos, muitas ovelhas, bastante lã para as cenas mais tensas, e um bom marceneiro para construir e destruir os currais das ovelhas (que descobri se chamar aprisco, mas se colocasse isso no texto quase ninguém saberia o que é) após a doença, ou seja, nem precisaram ser muito minimalistas com o trabalho do filme, pois já era um longa simples e se enfeitassem demais, acabariam saindo do contexto geral. A fotografia é um caso a parte, afinal já disse diversas vezes que adoro o branco da neve nos filmes, e aqui temos branco até demais, mas souberam enquadrar de forma que a iluminação não ficou ofuscante, e assim sendo, os ângulos foram trabalhados no melhor estilo para que agradasse visualmente.
Enfim, é um filme bem interessante que vale muito a pena ser visto, claro se você não for daqueles revoltados que exigem um final para tudo (eu me incluo nesses, mas como nesse filme até consegui tirar vários, só reclamei por não saber a opinião do diretor/roteirista), pois a ideia moral é jogada de uma maneira tão legal de acompanhar, que mesmo esse detalhe acaba ficando em segundo plano frente à tudo o que é mostrado. Portanto recomendo sim, esse filme da Islândia, que foi o vencedor de uma das mostras de Cannes (e só por isso já merece muita atenção) e vamos torcer para que apareçam mais filmes de lá, para que não seja o único que vou falar quando me perguntarem se quais filmes conheço do país algum dia. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana bem agitada, mas a próxima vai ser mais curtinha infelizmente, afinal vem blockbuster roubador de salas, então o jeito vai ser se contentar com pouco. Fiquem com meus abraços e até breve com mais posts.
Meu caro Coelho, acho que você viu pelo menos mais um filme islandês: Sobrevivente.( http://www.adorocinema.com/filmes/filme-206116/ )
ResponderExcluirSe não viu, corra na locadora e veja-o. É bem interessante, baseado num fato real.
A Islandia também foi protagonista do documentário Trabalho Interno. Foi neste pequeno e inóspito pais insular que iniciou a crise financeira global de 2008.
Olá Yupaqui, faz tempo que não nos trombamos né... afinal o SESC deu uma brecada com os filmes!!! Em "Trabalho Interno" só faz parte a Islândia, mas é um filme americano, usando lá como lugar certamente já teve vários outros que já vi... agora esse outro vou tentar ver, que pra variar, não passou por aqui!!! Abraços e até breve, afinal logo devemos ter o Festival Melhores Filmes!
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