Algumas vezes somos surpreendidos com produções pequenas, mas que conseguem passar mensagens bem grandes para o público que acaba assistindo, e "Little Boy: Além do Impossível" é um excelente exemplo disso, pois a produção mexicana trabalhou tanto o simbolismo de fé, imaginação e motivação que o resultado final acaba sendo tão comovente que certamente a trama acabará marcando nossas lembranças de um filme gostoso de assistir e que agrada sem forçar nada religioso, muito menos apelativo para qualquer lado, sendo muito bem feito e envolvendo o público com uma boa cenografia, uma atuação dinâmica tanto do garotinho quanto dos demais personagens, e principalmente com uma direção firme para trabalhar o imaginário além do que qualquer um simplesmente faria.
O longa nos situa nos anos 40, em O'Hare, Califórnia, onde vivia o pequeno Pepper de 8 anos. Alvo de brincadeiras com outras crianças da cidade devido a sua baixa estatura, o único amigo do Little é seu pai James. A vida de Little Boy é marcada quando seu pai vai para a Guerra e perde o seu grande parceiro de emoções. Inspirado pelo seu herói, com sua imaginação Little Boy crê que consegue fazer com que o seu pai volte da guerra.
É interessante observar que este é apenas o segundo longa do diretor e roteirista Alejandro Monteverde, e que ele trabalhou uma sensibilidade incrível na composição de cada personagem da história para que ela realmente comovesse e passe as lições familiares, de fé e de amor ao próximo, de modo que cada ponto do filme vai nos envolvendo com a doçura do jovem garotinho e fazendo com que assimilássemos cada ato dentro de um contexto maior. E esse trabalho bem feito fez com que o público se emocionasse, alguns mais que os outros, mas realmente duvido que alguém não se comova com as três últimas cenas, ao ponto de pelo menos dar uma engasgada, independente de ter fé ou acreditar em algo. E essa simbologia que souberam dosar tão bem é o ponto chave para que a trama funcionasse dentro de um ritmo gostoso, e principalmente não recaísse sobre qualquer religião, no caso aqui o garotinho vai conversar com um padre, e nos diálogos do padre com o japonês sempre tratam Deus como um amigo imaginário, o que pode até ser considerado ofensivo por alguns, mas poderia ser qualquer outro cunho religioso que o filme manteria a mesma essência interessante de envolver pela alta crença imaginária que existe na mente de cada criança, e que qualquer adulto que abrir sua mente para ir fundo na mesma simbologia vai acabar conectado com a trama.
Sobre as atuações, um fato curioso e bem interessante é que Jakob Salvati foi apenas acompanhar seu irmão nos testes para o protagonista, não pretendendo fazer o teste, e acabou sendo convidado para tentar a chance, e o resultado quem for conferir o longa vai ver que seu Pepper/Little Boy é incrível, cheio de doçura e completamente carismático, trabalhando expressões com naturalidade e incorporando cada cena com uma delicadeza única de se comover com ele, ou seja, um jovem talento que já apareceu bastante em séries e agora certamente vai decolar no cinema, por méritos próprios. Emily Watson entrega para sua Emma, uma personalidade materna forte e bem colocada, fazendo as expressões exatas que cada momento exigia, e por mais incrível que pareça segura a trama sem exagerar na dramaticidade, o que é algo que vale a pena ser notado, claro que não é à toa que já teve diversas indicações à prêmios, pois sempre consegue emocionar, e aqui além de ser forte nos momentos devidos, comoveu quando a sensação real bateu à sua porta. Passei uma boa parte do filme pensando em que filme já havia visto David Henrie atuar, e agora conferindo sua ficha não localizei nada que possa ter me marcado, mas como seu semblante é bem tradicional talvez tenha confundido ele com outro ator, principalmente pelo jeito seco que deu para seu London, tudo bem que todo jovem americano nos anos 40 desejava ir para a guerra, e sentia imensa revolta dos japoneses, mas seu semblante em diversos momentos parecia de alguém perturbado e não simplesmente alguém bravo, ou seja, acabou exagerando um pouco nas expressões, e talvez agradaria mais com sutilezas, como a que fez na penúltima cena. Cary-Hiroyuki Tagawa fez um trabalho incrível com a perspicácia que entregou para seu Hashimoto, de modo que não tem como acabar envolvido com o personagem e seus trejeitos bem feitos, certamente a química dele com o garotinho é algo que empolga a cada nova cena bem feita. Tom Wilkinson aparece em poucas cenas como o padre Oliver, mas mostrou ótimos ensinamentos e envolveu bem nas cenas mais pontuais do filme, então foi um grato encaixe de peso na trama para segurar a dinâmica do jovenzinho. Michael Rapaport prefere estar mais dentro da TV que no cinema, e isso se nota não apenas pela quantidade de filmes que faz, mas pelo jeito de atuar também, pois suas cenas sempre sendo mais curtas mostram que ele não segura o tempo mais alongado que um diálogo trabalhado necessita, suas cenas de guerra foram bem feitas, mas poderia chamar mais atenção para seu James. E para fechar os grandes nomes do longa, temos de falar de Kevin James que entregou um Dr. Fox bem canastrão disposto a arrumar uma nova mulher, e claro que com isso mostrou olhares saltados e trejeitos diríamos sedutores, o que ficou bem esquisito para seu estilo de atuação.
Sobre a questão artística, embora seja um filme com um orçamento baixo (estimado em torno de 20 milhões de dólares) para um drama que possui cenas de guerra e uma certa dose de efeitos especiais, a equipe de arte trabalhou bem colocando as cenas cruciais de modo correto, pois não temos uma guerra mostrada em peso, mas quando aparecem as cenas o enquadramento fica mais fechado e simbolizam bem o momento com muitas armas, um cenário mais escuro, com plantas e trincheiras de sacos de estopa como deveria aparecer realmente, mas a grande sabedoria ficou por conta dos elementos na cidade de época, com figurinos característicos para as crianças e jovens, as brincadeiras de rua, a casa do japonês bem repleta de elementos cênicos para chamar atenção e claro a beleza da ingenuidade de um show de mágica dentro de um cinema de rua, ou seja, clássico completo de uma sessão da tarde bem feita. Não posso afirmar com certeza o grande uso da luz natural na maior parte do longa, pois nas cenas próximas ao mar, o sol ficou numa textura tão bonita de se ver que aparenta ser digital, mas ainda assim lindo demais de ver, e se a equipe conseguiu fazer isso naturalmente então é algo de tirar o chapéu, e além dessa cena, diversas outras trabalharam com bons ângulos sempre valorizando o preenchimento cênico com sombras bem trabalhadas, outra cena que vale destacar pela ambientação criada é a da invasão à casa do japonês, pois somente com uma luz de contra e a fumaça soltada após fumar, a densidade acabou tomando uma forma incrível de ver. O maior defeito da trama podemos dizer que fica a cargo dos efeitos especiais, pois a chacoalhada de tela na tentativa de movimentação da montanha, e alguns momentos da guerra, ficaram levemente falsos, e isso se olhado com um olhar mais crítico acaba incomodando, então poderiam ter feito de forma mais simbólica que ainda funcionaria e seria talvez melhor, mas de um modo geral o resultado não atrapalhou em nada o contexto do longa.
Enfim, não é algo 100% perfeito, mas é um filme que com toda certeza recomendo para todos tanto pela linda mensagem que passa, quanto pelo ótimo trabalho completo da produção. Claro que vai ter muitos que não acreditam nessa simbologia e acabaram reclamando de diversos pontos, mas posso afirmar que é difícil encontrar erros em um longa simples e bem feito que nos foi entregue. Sendo assim, vá até um Cinépolis, afinal o longa é exclusividade deles no Brasil e se deixe emocionar pelo contexto completo do filme, e depois venha comentar o que achou aqui. Fico por aqui hoje, irei dar uma pequena pausa para respirar após duas semanas seguidas dentro dos cinemas, mas volto na segunda com o post do último filme que estreou por aqui nessa semana, então abraços e até breve.
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