Quando falamos em um filme religioso, já julgamos o público que ele pretende atingir, os que vão ficar questionando se devem ir ou não ver, e os que já fogem direto sendo contrários à qualquer coisa que possa ser mostrada. Mas como costumo falar, temos de ver de tudo para saber se vamos ou não gostar, e a parte da Bíblia aonde mostra a morte e a ressurreição de Jesus já foi mostrada por diversos ângulos e possibilidades, resultando em filmes fortes e também em alguns mais simples, e agora com a vertente sendo mostrada pelos olhares de um cético em "Ressurreição", acabamos vendo algo um pouco incomum, pois nem todos acreditam nas histórias contadas lá, e assim como o soldado romano Clavius vamos vendo aos poucos ele crer no que é mostrado e seguir mudando suas ideologias. Claro que por ter o vértice religioso, não podemos esperar algo diferente do usual, mas o filme consegue ter uma boa dinâmica e agradar dentro de um bom parâmetro, com uma cenografia bem montada, cenas de ação bem feitas e um roteiro bem trabalhado, e de um modo bem singelo acaba agradando com tudo o que é mostrado.
O filme nos mostra que às vésperas de um levante em Jerusalém, surgem rumores de que o Messias judeu ressuscitou. Um centurião romano agnóstico e cético é enviado por Pôncio Pilatos para investigar a ressurreição e localizar o corpo desaparecido do já falecido e crucificado Jesus de Nazaré, a fim de subjugar a revolta eminente. Conforme ele apura os fatos e ouve depoimentos, suas dúvidas sobre o evento milagroso começam a sumir.
Após um longuíssimo hiato de 10 anos, Kevin Reynolds("Robin Hood", "Waterworld", "O Conde de Monte Cristo") volta a colocar suas mãos em uma câmera para dirigir um filme e mostrar que ainda sabe fazer tomadas bem amplas para mostrar o bom trabalho tanto dos atores, quanto da equipe técnica envolvida, e até mesmo nas cenas mais velozes, o diretor conseguiu dar boas nuances controlando o enquadramento para que o filme (que não possui um orçamento monstruoso) não mostrasse falhas e ainda conseguisse agradar dentro da proposta. Ao pegar para desenvolver a história do roteirista estreante Paul Aiello, o diretor soube colocar a trama tanto dentro do cunho religioso que era a proposta original, quanto para fazer um filme de descobertas em meio à um vértice de suspense histórico, e assim acabou conseguindo não ficar preso à somente o público tradicional que iria ver um filme bíblico. Talvez o erro mais forte da trama tenha sido o de Clavius mudar completamente muito fácil, pois sendo um guerreiro, a ideologia mais comum seria de não acreditar no que está vendo, mas ainda assim manter-se mais tempo na dúvida do que estaria vendo, o que não acaba ocorrendo, mas isso não atrapalhou em demasia o resultado final, que acaba passando uma boa mensagem.
Sobre a atuação de Joseph Fiennes, um fato claro é que o ator soube apresentar um ar expressivo bem rígido durante a maior parte da trama, mostrando como alguns romanos eram duros e dispostos à tudo, e também deu um tom firme na voz de seu Clavius para que nos momentos de interrogatório, seu teor fosse levado à sério, talvez tenham sido brando demais em alguns momentos como disse no ponto de virada muito simplório e em algumas cenas que ele aliviou demais o estilo, mas no contexto geral agradou mais do que decepcionou. Agora um ator que anda perdido desde que acabou a saga "Harry Potter" e não consegue acertar a mão em personagem algum é Tom Felton, pois aqui seu Lucius foi claramente um personagem jogado na trama, quase sem importância alguma (tirando uma única cena mais dramatizada), e ainda por cima o ator fez diversas caras e bocas completamente fora do contexto da trama, ou seja, além do personagem não ser bom, o ator conseguiu piorar. Peter Firth caiu bem na personalidade de Pilatos e sempre pronto para dar ordens e mais ordens acabou sendo daqueles personagens que aparecem quase que o filme inteiro, mas acaba não sendo nem protagonista nem alguém que vá ser importante para a trama, talvez se o personagem fosse mais de ação do que ditatorial agradaria mais seus trejeitos, mas aí estaríamos mudando a história. Cliff Curtis fez um Jesus/Yeshua diferente, sem muitas palavras, trabalhando mais a expressividade do olhar e agradou bastante, e como o filme mesmo trabalhando a ideologia da ressurreição, o personagem ficou bem em segundo plano, trabalhado mais nos ideais do que exigindo do ator, e sendo assim ele fez bem quando precisou trabalhar mesmo. Dos demais atores, cada um teve seu momento expressivo bem rápido, e daria para destacar somente algumas cenas comoventes de Maria Botto fazendo Maria Madalena e Stewart Scudamore dando à Pedro uma personalidade bem amigável e bonita de ver.
Sobre a cenografia do longa, é notável que por ser um filme de baixo orçamento que conta uma história de época, a trama foi mais enxuta no desenvolvimento dos ambientes aonde se passa a história, mas nem por isso a equipe de arte ficou em segundo plano, trabalhando bem nos locais principais como o palácio de Pilatos, e o casebre aonde estão todos os seguidores de Jesus, além claro do túmulo e da cena da crucificação muito bem trabalhada nos elementos. Porém o ponto forte ficou a cargo das grandes escolhas de locações para os momentos rumo à Galiléia, com um visual desértico, mas muito bem trabalhado em ranhuras e erosões para dar camadas ao filme, ou seja, um trabalho de escolha bem feito pela equipe. A fotografia se baseou bem nas sombras e dando sempre contrastes em tons alaranjados/amarelos para dar um semblante mais vivo para a trama, não deixando que o filme ficasse pesado em momento algum.
Enfim, é um filme simples, mas bem feito e que de ponto principal acertou em não ficar tão em cima da religiosidade, embora a história seja religiosa, de modo que foi possível colocar um pouco de ficção para dar um ânimo maior e agradar quem não for tão fervoroso. As principais falhas ficam em cima das atuações que poderiam ser mais desenvolvidas, mas nada que tenha atrapalhado demais. E sendo assim recomendo o longa para todos que gostem de uma história simples, mas bem contada, afinal é não é sempre que algum trecho religioso é bem contado por outro ângulo, e nessa semana que é tão religiosa, acaba sendo uma boa dica nos cinemas. Fico por aqui agora, mas ainda faltam outras estreias para conferir, então abraços e até breve.
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