O longa nos mostra que o roteirista Dalton Trumbo tem uma história singular em Hollywood: apesar de ter escrito algumas das histórias de maior sucesso da época, como A Princesa e o Plebeu (1953), ele se recusou a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas do congresso e acabou preso e proibido de trabalhar. Mesmo quando saiu da prisão, Trumbo demorou anos para vencer o boicote do governo, sofrendo com uma série de problemas envolvendo familiares e amigos próximos.
Em suma, posso falar que é um filme que um roteirista fez para roteiristas sofrerem vendo a vida dura de um roteirista famoso. Claro que nem todos verão com esses olhos, mas baseado em fatos reais narrados no livro de Bruce Cook, o roteirista John McNamara trabalhou enfaticamente para mostrar o quanto diálogos são importantes para marcar sua história, e o diretor Jay Roach optou por um estilo mais fechado das situações, trabalhando bem a desenvoltura do personagem principal, mas deixando claro sempre para os atores mostrarem mais o impacto dos tons de voz com os diálogos do que uma cena mais sutil aonde todo o contexto cênico nos inserisse num contexto maior. E dessa maneira, o resultado do filme é algo até bem feito, mas demora tanto a cativar a atenção do espectador, que posso confessar o sono vindo em minha direção monstruosamente na primeira metade dele, mas assim que Trumbo sai da cadeia que a decolagem começa a ficar bem interessante e faz com que o público comece a conhecer mais sobre seus belos trabalhos. Portanto, alguns podem até dizer que há erros na forma de direção, mas não vejo isso como algo errado, e sim como uma proposta a ser seguida, que talvez se fosse um longa de algum personagem mais conhecido do público em geral, acabaria empolgando, mas como Trumbo só é algo que quem é do meio mesmo conhece, o resultado acaba demorando demais para conquistar alguém, e isso pode causar altos problemas para quem for mais desesperado.
De cara se perguntarem quem é Bryan Cranston, alguns não vão saber, mas basta citar "Breaking Bad" que qualquer um liga todos os pontinhos, mas claro que o ator já trabalhou e muito em sua longa carreira, boa parte na TV, mas também com bons filmes no currículo, mas agora em definitivo parece ter ficado mais amigo dos produtores de cinema e está com vários projetos em desenvolvimento, que certamente fará com grande classe, afinal é um ótimo ator que trabalha bem a personalidade dos papeis que lhe é entregue, e aqui seu Dalton Trumbo não foi diferente, de modo que incorporou a alma do roteirista e em diversos momentos usou de um estilo forte e bem fechado, enrijecendo bem a face e colocando toda o diálogo aonde deveria estar, no topo máximo da trama, para agradar e convencer de tudo o que desejavam passar, ou seja, perfeito numa atuação de magistral desempenho. Diane Lane mostrou também personalidade ao mostrar que a paciência de Celo Trumbo era algo além dos limites conhecidos pela ciência, e claro também muito amor para aguentar tudo, pois com o gênio de Dalton qualquer mulher teria pegado os filhos e sumido de casa com muita facilidade (não muito naquela época, mas hoje não pensariam duas vezes), e a atriz foi serena e agradou bem nos seus devidos momentos. Helen Mirren saiu da serenidade da realeza para fazer uma mulher marcante (para não falar irritante) e de muito impacto que foi Hedda Hopper, e abusando de olhares pomposos e poses chamativas, a atriz trabalhou de uma maneira bem diferente da forma que estamos acostumados, mas ainda agradando demais dentro da ideologia da personagem. Elle Fanning mostrou que já está chegando no momento de pegar grandes personagens para dar vida, pois não é mais aquela garota singela que todos atacavam no começo da carreira, já tendo personalidade suficiente para bater de frente com grandes nomes e segurar seu texto com a mesma tonalidade de como se estivesse soltando ele solo, e sendo assim sua Niki acaba chamando até uma certa atenção nas cenas em que aparece. Grandes nomes também estiveram presentes na trama, e cada um no seu momento junto do protagonista soube chamar a devida atenção e mostrar uma parte da História desse grande nome, destaque para a época que o roteirista apenas pagou contas entregando diversos roteiros para Frank King, bem interpretado pelo sempre ótimo John Goodman e seu estilo caricato; também tenho de citar o ótimo Christian Berkel colocando Otto Preminger como um diretor insuportável na cabeça dos roteiristas, impregnando até as datas mais familiares no aguardo de um bom texto; e Dean O'Gorman mostrando que sua época de anão já era, fazendo um papel icônico na sua vida, dando ar para Kirk Douglas, que foi sem dúvida um dos grandes nomes do cinema tanto como ator quanto como produtor da maioria de seus grandes filmes.
Sobre o conceito visual da trama, até nos é apresentado bons elementos de época, mas foram simplistas demais com tudo, desde o figurino dos personagens que ou estavam sem criatividade nenhuma, ou as pessoas só andavam de terno e vestido por aí, passando por casas e bares sem quase objetos decorativos para retratar o estilo de vida de cada personagem. Claro que as cenas na banheira foram icônicas e claro também os diversos momentos grudados na máquina de escrever junto de passarinhos, o que certamente é mostrado ao máximo nos livros e documentários já feitos sobre o personagem, mas não custava nada aflorar a criatividade com relação à outros momentos, deixando assim a arte mais valorizada também. Agora se no quesito artístico falharam bem, no conceito fotográfico a equipe mostrou o que um bom jogo de sombras é possível de causar em dramas também, pois sendo algo mais contextualizado em suspenses, aqui o diretor de fotografia caprichou em todas as cenas para sempre com uma luz de preenchimento por trás dos personagens, suas sombras fossem marcantes e dessem uma imposição maior para cada cena, e isso é algo que deu uma força maior para cada um quando impunham seus diálogos, ou seja, um trabalho diferente de ser visto, e que agrada chamando atenção.
Enfim, é um bom filme, mas volto a frisar, para quem não está acostumado com algo praticamente feito apenas de diálogos, sem muita ação para ser desenvolvido, pode acabar saindo da sessão bem cansado com o que será mostrado, porém a trama toda em si, funciona bem para conhecer mais do personagem e de como a época foi marcada por pessoas tentando calar quem não fosse a favor das ideias do governo. Poderiam também ter focado mais nisso, mas aí sairia da ideologia do personagem forte que Trumbo foi, então quem sabe façam mais algum filme em cima dessa época para aproveitar o contexto e trabalhar mais isso. Portanto, recomendo ele com ressalvas, deixando mais determinado para quem realmente gosta do estilo, pois o restante vai sair comentando que tudo foi chato demais, isso se conseguir sobreviver à primeira metade. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na Quinta com mais estreias, então abraços e até breve.
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