O longa nos mostra que o neuropatologista forense Bennet Omalu faz um estudo pioneiro sobre uma doença que muitos jogadores de futebol americano apresentam, a encefalopatia traumática crônica. A descoberta gera nos bastidores do esporte muita preocupação entre atletas e expõe os reais interesses políticos, culturais e corporativos criados em torno da Liga Nacional de Futebol (NFL).
É tão fácil determinar o problema desse filme que até a menor criança que assistir um drama todo trabalhado em argumentos científicos vai conseguir determinar. Mas como não estou disposto a deixar uma criança ficar opinando aqui, vamos lá: a repetição dos fatos embasando todas as teorias possíveis para comprovar que Omalu estava certo. Claro que ele sofreu tudo isso para mostrar seus resultados, mas a cada nova tentativa lá estava o diretor Peter Landesman colocando Will Smith para dizer as mesmas coisas para uma nova pessoa, virava a esquina, novamente a mesma ideologia, ia em um congresso, de novo falando igualzinho. Ok, pessoal, na segunda vez que o personagem explica como funciona o processo, o público já consegue entender sozinho, e a repetição de cenas de jogadores trombando as cabeças, não vai fazer o público bater a cabeça e discordar com o que já foi provado. Poderiam ter trabalhado tantas vertentes possíveis que ficaram mostrando depois na forma de letreiros antes dos créditos, mas optaram pela batalha toda inicial do processo, e mesmo sendo um longa bem interessante de acompanhar, acaba incomodando a repetição dos fatos. E como o conteúdo foi mostrado depois em textos pré-créditos, acredito fielmente que o problema não é do roteiro, mas sim da direção que poderia ter filmado mais cenas e eliminado outras, então o dedo está apontado para a sua segunda direção caro Landesman, que não erre mais com isso já que gosta tanto de longas biográficos.
Agora certamente a Academia de Cinema de Hollywood errou feio em ao menos indicar Will Smith entre os melhores atores do ano, pois o "não-tão-jovem" ator carrega o filme nas costas, dando vivência para seu Bennet Omalu, e trabalhando tão bem suas expressões que passa longe de qualquer besteira que tenha feito nos últimos anos, e digo mais, seu estilo de interpretação está tão interessante de ver que no Facebook cheguei a compará-lo com Denzel Washington quando mais jovem, usando de expressões marcantes, e ainda por cima trabalhando bem o acento na dicção para não soar tradicionalmente americano, mas sim um imigrante nigeriano que sonha ser reconhecido como americano, ou seja, foi perfeito, dramático e principalmente enfático no que desejava demonstrar. Gugu Mbatha-Raw até possui um ar introspectivo e bem tímido, mas exagerou na dose de timidez de sua Prema, ficando em segundo plano demais para a história, sabemos que o seu relacionamento com Omalu não é o foco do longa, mas nem por isso precisavam jogar a expressividade da atriz num nível negativo, e assim sendo amenizariam os erros e dariam um teor mais dramático no ponto de que todo cientista é um ser solitário, ao mostrar mais da relação entre eles. Alec Baldwin já não é o grande ator de antigamente, mas ainda sabe trabalhar bem suas expressões, e mereceria não um destaque maior na trama com seu Julian Bailes, mas cenas mais pontuadas na dramaticidade dele com seus amigos jogadores, ao invés de ficar batendo na tecla da pesquisa do Dr. Omalu. Trabalhar com Albert Brooks certamente deve ser uma delícia de aprendizado e de troca de conexões, pois é notável a dedicação que o ator sempre dá para seus personagens, e aqui não foi diferente com seu Cyril, aonde Omalu tira suas referências e agrada demais tanto no conceito de amizade quanto na perspectiva de diálogos entre eles, ou seja, o ator se entrega com muita simplicidade para que seu papel caia bem e ajude os demais em cena, e isso é muito raro de ver nos longas atualmente. Dos jogadores, podemos dizer que todos foram expressivos nos seus momentos de loucura, e isso agrada demais visualmente, fazendo com que o público pare um pouco de pensar em tudo que está sendo mostrado como ciência e analise a vivência que uma doença pode desencadear, então certamente todos merecem os parabéns por seus pequenos momentos: David Morse, Matthew Willig, Richard T. Jones e Adewale Akinnuoye-Agbaje.
A arte do filme não é algo muito trabalhado, pois mesmo sendo um fato que mostra mais de 15 anos atrás, o conceito visual não mudou tanto, então tiveram apenas de ambientar uma casa simples, trabalhar bem o necrotério para que as autópsias parecessem com o máximo de realidade possível (claro ensinar Will a fazer trejeitos de médico legista), e trabalhar alguns conceitos simples de figurino, pois o restante da trama se passa todo em escritórios, aí é lotar de livros a sala e dar uma ou outra mudada no ambiente cênico para não ficar tão repetitivo, e dessa forma, o filme não tem muito o que apresentar, mas também não erra da forma colocada. E a equipe de fotografia trabalhou com uma iluminação suave para dar uma certa calma para a trama, usando bem as sombras para preencher momentos mais densos e sempre procurando o máximo de cenas com a lente bem fechada, para que a dramaticidade empregasse o máximo das expressões dos artistas, ou seja, um trabalho simples, mas muito bem feito.
Enfim, é um filme bem gostoso de acompanhar, nada que você fale "nossa que filme surpreendente", mas correto e que mostra bastante que o esporte é algo que oculta muita coisa do público para o seu bem financeiro maior. Como disse no começo o maior problema do filme é o excesso de repetições, mas ainda assim é um longa que vale o ingresso para quem gosta de dramas bem trabalhados. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda faltam muitos longas para conferir, então abraços e até breve.
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