Alguns filmes abusam tanto dos diálogos e/ou de narrações para conseguir passar sua mensagem, que acaba sendo interessante quando um filme consegue passar toda a ideia completa fazendo com que seus protagonistas quase não digam uma palavra sequer. E com "A Ilha do Milharal", a ideia do ciclo de vida, funcionando em sincronia com a safra do milho e o ciclo do rio acaba tendo uma simbologia tão bonita e visual junto dos personagens que acabamos muito conectados com tudo o que o filme acaba nos mostrando, e essa vivência nos leva a refletir sobre tantas coisas pessoais que não tem como não se emocionar com cada situação ocorrida durante toda a exibição, e principalmente com o fechamento do filme.
O longa nos mostra que um camponês e sua neta cuidam de uma plantação de milho em uma ilha no curso do rio Inguri, divisa entre os países em conflito Geórgia e Abkhazia. As ilhas da região surgem e desaparecem com a força da água e do vento. A passagem do tempo, que desgasta e constrói as ilhas, marca o amadurecimento da jovem e a obstinação do velho camponês. Duas vidas submetidas as forças da natureza e da guerra civil.
Não posso dizer que é um filme que dá para se falar muito, pois a perspectiva que o diretor George Ovashvili nos imerge é algo que vai remeter sensações e criará ambientações próprias para cada um, por exemplo, para mim a construção do casebre me remeteu completamente à minha infância na chácara de meus avós quando ia passar férias e gostava de construir casas de madeira e outras montagens, o crescimento da jovem com suas dúvidas e questionamentos nem necessitaram ser citados, mas eram visíveis e tudo mais foi trabalhado com referências bem simples, mas que o público ia captando a mensagem e ia adentrando cada vez mais para a beleza do roteiro que o diretor desenvolveu tão bem. O final do longa chega a ser chocante para a maioria do público que fica inconformado com o acontecimento, mas se voltarmos ao começo da trama é algo natural e cabível de entender e compreender, ou seja, tudo feito com minúcias para detalhar cada momento.
Já vi elencos bem expressivos, mas sempre necessitavam de boas interpretações dos textos para que o filme se desenvolvesse, e aqui İlyas Salman e Mariam Buturishvili conseguiram trabalhar tão bem sintonizados como avô e neta, que poderiam passar o longa inteiro sem dizer as 5-6 frases que falaram, que ainda ficaríamos felizes só com as ótimas expressões que fizeram, e isso prova a velha ideologia de que um filme não precisa de grandes textos para comover, mas sim funcionar completo dentro da expressividade do ator. Irakli Samushia também fez bem seu papel de soldado, funcionando como uma quebra de elo em alguns momentos e simbolizando bem a representatividade que a trama o inseriu, e por alguns momentos suas expressões de tensão funcionaram tanto que até nós acabamos ficando tensos junto com os personagens. Os policiais também ficaram de certo modo interessantes, e seus momentos junto dos protagonistas sempre causavam uma tensão no ar tão forte, que em alguns momentos o que se esperava era um tiroteio a qualquer momento.
O visual do longa é um charme a parte, não sei dizer se realmente gravaram em um lugar que ocorre tudo como acontece no filme, mas que ficou bonito de se ver toda a construção da casinha, o ato de arar a terra para a plantação e na sequência a plantação crescendo bonita de se ver, ficou incrível, simples, e funcional para que o longa tivesse seus atos marcados, o que mostrou uma excelente pesquisa por parte da equipe de arte, e um trabalho incrível para todas as cenas feitas (mas a penúltima cena certamente foi duríssima de fazer). E a equipe de fotografia também envolveu com iluminações representativas da lua, e usando o fogo para junto de fumaça criar toda a ambientação criativa da história para envolver o cenário completo.
Enfim, um ótimo filme, que vai transmitir diversas sensações em quem assistir, e com toda a certeza recomendo ele para todos, pois é um filme envolvente e que mostra de uma forma simples, que um longa não precisa de muita firula para ser bem feito. Só não darei a nota máxima para ele por um único motivo, que acredito que poderiam ter desenvolvido mais os personagens secundários, pois acabam ficando jogados demais, e mesmo sabendo do conflito interno dos países, eles aparecem e somem do nada. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto amanhã com o último dia do Festival Indie do SESC, então abraços e até breve.
1 comentários:
Olá Coelho, Saudações.
Olha, gosto pra filme cada um tem direito de ter o seu.
De qualquer maneira, 9 pontos é muito para esse filme. Eu particularmente, achei o filme sem pé nem cabeça. É uma história original mas também muito longe de ser brilhante. Não tem nenhuma trama e nenhuma emoção marcante. No entanto, deve agradar(não muito) a quem goste de filmes que causam alguma sensação de solidão e vazio.
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