sábado, 30 de abril de 2016

Cala a Boca, Philip (Listen Up Philip)

Sei que alguns escritores são arrogantes e quando alcançam qualquer sucesso meia-boca viram tão estrelas que só pensam em estragar a vida dos outros, digo isso pelo que já li em diversos lugares, não por conhecer algum que tenha feito sucesso. E aqui no longa "Cala a Boca, Philip", só consigo enxergar que desejavam mostrar isso para o público, pois o filme é quase uma leitura de um livro, narrado ao extremo e cansativo também ao extremo, e o vértice da história muda de pessoa tantas vezes que ficamos na dúvida realmente se o protagonista da trama é o tal Philip, ou qualquer outro que estivesse ao seu redor, e teve um pedaço de sua história contada. No geral é um filme bem feito, mas sem muito foco para atingir o real potencial que poderia mostrar.

O filme nos mostra que o escritor Philip está em crise: ao mesmo tempo em que o relacionamento com a fotógrafa Ashley não vai nada bem, ele não consegue lidar com a demora na publicação de seu segundo romance. A situação se transforma quando Ike Zimmerman, ídolo de Philip, oferece a sua própria casa para o escritor passar um tempo e refletir.

Se existe um fator que me incomoda demais é o diretor não saber o que fazer com um roteiro que não consiga ser construído sem exageros narrativos. E o que Alex Ross Perry fez aqui, foi praticamente ler seu livro (já que um roteiro conseguiria desenvolver as cenas com o público vendo as coisas na tela, não precisando que alguém falasse tudo) que ele próprio escreveu e não tinha como um ator expressar tudo em cena, ou seja, você está vendo o cara passear por algum caminho, e nesse meio do caminho o diretor conta uma longuíssima passagem de tudo o que o personagem poderia estar sentindo ou fazendo, e isso infelizmente faz qualquer filme falhar muito. E embora a ideia do filme possa ser boa, toda essa leitura exagerada de trechos, bem como as diversas mudanças de foco de personagens (quase algo novelesco) acabam mais cansando o público do que deixando animados para saber o como o filme vai se desenrolar (se é que chega a desenrolar em algum momento),  e sendo assim falta tudo para que a trama embale de vez.

A personalidade de Philip foi muito bem colocada e imposta por Jason Schwartzman, e isso é algo que sempre tem de ser parabenizado em um ator, pois diversas vezes vemos em um filme que o ator não aparenta entregar para o personagem o que realmente o roteiro deseja, mas aqui, a arrogância e prepotência dominaram o ator ao ponto de até chegarmos a odiar o protagonista por algumas de suas falas. Elisabeth Moss também caiu bem na pele de sua Ashley, e sua superação juntamente com suas dúvidas quase transpassam a tela para o público de tão bem feito o trabalho da atriz, mas volto a questionar o diretor se deveria ter focado tanto em sua personagem, com um capítulo quase que inteiro dedicado à ela. Jonathan Pryce e Krysten Ritter são os malucos da trama Ike Zimmerman e Melanie Zimmerman, que entram na história praticamente somente para bagunçar tudo e dar alguns âmbitos para a trama, claro que assim como aconteceu com Moss, há certos momentos que praticamente pensamos deles protagonizarem também a trama, mas com um número menor para ser mostrado de cenas.

O visual da trama tem um clima interessante com bastante requinte de locações para incorporar bem o estilo de escritores, trabalhando bem tanto o figurino dos personagens, quanto alguns elementos cênicos montados para dar ligação na trama. Não digo que tenham colocado muitos elementos chamativos, pois no contexto geral o visual é que funciona mais, porém o filme anda redondinho quanto à esse quesito. A fotografia também andou por um rumo bem básico sem muita expressividade de cenas e cores, usando mais a iluminação tradicional para que o filme não saísse dos eixos, porém o exagero de câmeras na mão com movimentos bruscos acabam incomodando demais em boa parte do filme. 

Enfim, é um filme que diria que foi mal trabalhado dentro do contexto que aparentemente desejavam seguir, mas também não é algo que possa ser jogado fora. Talvez a decisão de focar somente na personalidade de Philip, sem necessitar explicitar cada momento dos demais personagens e aí sim o longa se encaixaria bem dentro de uma proposta correta. Ou seja, é um filme daqueles que nem todos vão acabar se conectando e isso vai atrapalhar muito recomendar ele para todos. Bem é isso pessoal, acabou o Festival Indie, e agora posso voltar para a programação normal, então abraços e até amanhã com a volta das estreias da semana por aqui.

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