Hoje vi que valeu meu curso de 8 anos de inglês, pois infelizmente a cópia que veio para o Festival Indie estava sem legendas, então ou o pessoal dominava a língua para entender os momentos falados do filme "Shirley - Visões da Realidade", ou abstraia tudo o que era dito (nada muito necessário para entender o que era mostrado), ou saía da sessão, deixando para ver outro dia. Pois bem, optei por botar em prática tudo o que aprendi, e bola para frente, pois a ideia conceitual do filme é algo bem mais visual do que narrativo, com as frases ditas pela personagem principal contando suas abstrações e indagações do momento em que estava vivendo, refletindo com as fases que estava ocorrendo no mundo nas datas em que eram mostrados, e claro que isto visto de dentro para fora das pinturas de Edward Hopper. Ou seja, de uma pesquisada nos quadros do pintor no Google e verá imagens estáticas, e o que o diretor fez brilhantemente, foi fazer essa situação do quadro acontecer refletindo os pensamentos da modelo em questão (claro que de modo completamente abstrato).
O filme nos mostra que uma mulher apresenta pensamentos, emoções e contemplações que se embaralham entre as suas constatações sobre a sociedade onde vive - Os Estados Unidos durante a época da Segunda Guerra Mundial.
A grande sacada do diretor e roteirista Gustav Deutsch foi fazer quase que uma direção de arte única, pois o filme não tem quase que muita importância para trabalhar os pensamentos da protagonista, claro que ajudam a determinar o sentimento expressivo dela para com sua pose final do quadro, mas a simbologia de cores e o trabalho visual acabam importando tanto quanto a história criada. E nesse misto de filme com algo quase tão próximo de uma pintura na tela, o trabalho criativo floresce e acaba sendo mais interessante para quem gosta de observar quadros abstratos em galerias e desejar descobrir o que a pessoa que estava posando para o artista estava pensando para ficar daquele jeito, e sendo assim, o longa tem seu valor, mas confesso que quem nunca sequer parou para pensar isso, vai olhar para o filme em uma sessão qualquer e falar, o que eu estou fazendo aqui.
Diferente do que costumo fazer, que é falar um pouco de cada ator, aqui a única coisa que posso colocar é que Stephanie Cumming fez excelentes expressões à deriva e se deixou permear e virar parte da cenografia, pois em momento algum o longa faz questão de que ela nos apresente sua Shirley, e muito menos os demais personagens que acabam aparecendo nos demais insights. E Christoph Bach foi tão expressivo quanto Kristen Stewart em "Crepúsculo" ao fazer o seu Stephen.
Agora sem dúvida alguma o ponto fortíssimo da trama ficou por conta da equipe de arte, e com MUITAS cores fortes em que quase podíamos dizer que se fosse filmado ainda em película, pintaram 20x a cor para dar a saturação que o diretor almejava mostrar. De modo que colocaram os objetos cênicos com tanto detalhamento que ficamos impressionados com o visual ao redor que forma o belíssimo enquadramento de cada cena. No Facebook acabei brincando que o patrocínio do filme ficou a cargo da Lukscolor cores vibrantes, mas é inegável que os tons usados pela fotografia ficaram acima do máximo esperado pelo diretor, e que com toda certeza a iluminação usada auxiliou demais para que o recorte ficasse nitidamente igual aos quadros do pintor.
Enfim, de maneira bem sucinta, não posso falar que é um longa ruim, pois não consigo classificar ele muito como sendo um filme de longa-metragem realmente, mas sim recortes explicativos de cada quadro, formando um conjunto de diversos curtas-metragens que sob um contexto maior que são as obras do pintor acabam valendo para quem gosta de pinturas artísticas. Portanto só posso recomendar o filme para esse público, pois qualquer outro vai dormir, ou reclamar da viagem que nos é proposta na trama. Bem é isso pessoal, esse foi apenas o primeiro filme do Circuito Indie Festival do SESC que irá rolar durante a semana toda com 2 filmes todos os dias, então daqui a pouco volto com mais um texto por aqui.
PS: A nota é mais pelo contexto visual do que pelo conteúdo do filme, como disse acima.
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