Como é gostoso quando saímos da sessão de um filme vibrando com o que acabamos de ver! E melhor ainda quando podemos dizer que o filme que vimos é algo feito por pessoas de nosso país, com um elenco internacional perfeito que conseguiu trabalhar a essência completa da obra e ainda nos envolver de tal forma para que pudéssemos colocar o longa no topo de nossas opiniões sobre longas nacionais. Digo isso com todas as palavras, pois "Zoom" é daqueles filmes que nos conectam cena a cena, interligando a história com uma maestria única tanto de roteiro quanto de direção que não parece que estamos vendo algo comum, mas tudo é simples, bem feito, e claro, muito diferenciado do óbvio, o que revigora o estilo e mesmo parecendo que já vimos diversos outros longas do estilo, acabamos abismados com tudo e impressionados com a possibilidade de que sozinhas as histórias já funcionam bem e juntas acabam sendo melhores ainda.
O filme conta simultaneamente três histórias: Emma decide investir suas economias em um implante de silicone, que dá errado. Sem dinheiro para remover os implantes, ela vai achar um meio – mesmo que ilegal – para voltar atrás. Edward, vaidoso cineasta canadense, precisa refilmar o final de seu filme de arte e, inexplicavelmente, começa a ter graves problemas sexuais. E Michelle, modelo brasileira que vive no Canadá, volta ao Brasil para escrever um livro e quebrar seu bloqueio criativo, mas sem querer, fica presa entre seus dois mundos.
Já havia elogiado o trabalho de Pedro Morelli no seu longa "Entre Nós" , e aqui ele voltou a mostrar ser um dos grandes diretores alternativos da atualidade, digo isso, pois a maioria dos grandes nomes andam fazendo somente comédias por aqui, e um ou outro drama espaçado que não procura trabalhar frentes diferenciadas, e aqui o diretor soube misturar os estilos tanto de interpretações, quanto de situações e ainda inseriu uma animação em rotoscopia no meio, ou seja, algo genial de se ver e se já teve dois grandes acertos em dois longas, com toda certeza ficarei bem curioso para o que apresentar daqui para frente. O trabalho que Pedro faz é algo muito sutil de se ver, pois ele trabalhou bem a ótima amarração do roteiro do estreante Matt Hansen e foi consolidando cada situação, de modo que até poderíamos querer ver mais conflito entre as três histórias, mas longe dessa perspectiva que ocorre bem rapidamente no último ato (em algo muito bem feito e coeso de se ver), as tramas se desenvolveram tão bem sozinhas que até poderíamos dizer que o filme é um composto de três médias-metragem, mas que se interligando entre si, e principalmente, ao notarmos que um está contando a história do outro, acabamos nos prendendo tanto no contexto completo da história única que esquecemos de tudo o que possa estar acontecendo ao redor, não nos incomodamos com o estilo um pouco sujo de envolver de certo modo o mundo erótico atual, e finalizamos a trama com a grande vontade de aplaudir tudo o que vimos, ou seja, uma perfeição completa de história, forma de dirigir, e boa sintonia de montagem com interpretação dos artistas.
Outro ponto que me deixou muito feliz com o filme é que quando estamos com os personagens brasileiros no Brasil, eles falam o português, nossa língua, o diretor é latino e fala inglês com sotaque, e os demais personagens que são americanos/canadenses falam inglês, como se deve ser em qualquer cultura, ou seja, o filme é uma mistura de diferentes línguas e que funcionam perfeitamente, mesmo tendo sido filmado boa parte aqui na nossa terra. Vou começar falando pela atuação mais difícil, a de Gael García Bernal, pois além de fazer com que seu personagem Edward fosse expressivo, ele teve de ampliar todos os seus trejeitos para que a câmera especial captasse bem seus traços e depois convertesse para animação através da técnica de rotoscopia, e ficou muito interessante a forma que trabalhou, colocando em tese toda a simbologia que ocorre com grandes diretores de filmes de sucesso, quando resolvem fazer um longa mais alternativo, e acabam broxando fronte aos grandes executivos que esperam mais deles, e com isso em mente, o ator fez ótimas nuances que agradaram muito visualmente, e mesmo sendo um desenho, todos o reconhecerão frente ao talento que passou para o personagem. Mariana Ximenes além de linda é uma atriz talentosíssima, e sua Michelle conseguiu mostrar tanto ambiguidade quanto destreza em estar determinada a fazer seu livro, e ao desconstruir seu estilo, a atriz soube dosar naturalidade para com a forma de vida escolhida pela personagem, o que mais para o fim do filme vamos entender tudo, e ficar mais feliz ainda com suas escolhas. Alison Pill trabalhou semblantes ao mesmo tempo confusos e contraditórios para com sua Emma, de modo que sua conivência frente a ideologia de tanto querer peitos grandes e logo em seguida não querer mais ficou diria que um pouco jogada, mas volto a dizer que tudo é entendível após o fechamento da história, e dessa maneira também acabamos gostando do jeito duvidoso da atriz interpretar, e acabamos até ficando com certa pena de Emma ter esse jeito abobalhado. Falei dos três protagonistas, mas de modo algum posso esquecer dos três atores secundários de cada história, que fizeram grandes conexões com os protagonistas, principalmente Tyler Labine que inicialmente seu Bob possui uma personalidade bem clara e com a mudança de ideia da autora de sua história passa a ficar muito diferente e consegue quase que chamar a atenção de sua frente completamente para si, ou seja, mostrou uma ótima dinâmica interpretativa frente à responsabilidade que ganhou. Também é bacana falar que mesmo com poucas cenas, Jason Priestley, entregou para seu Dale algumas nuances claras frente ao intuito de criar referência em cenas de ação, e mostrando trejeitos fortes na face conseguiu trabalhar a ideologia que o personagem pedia. E quem conhece bem como co-diretores agem na ausência dos diretores, vai se divertir muito com tudo o que Don McKellar faz com seu Horowitz, pois o ator está hilário nas situações que faz, mesmo também aparecendo bem pouco. Os personagens terciários foram pouco usados, mas agradaram também, então valem ao menos a menção honrosa para Cláudia Ohana, Michael Eklund e Jennifer Irwin.
Sobre o contexto visual da trama, desde a fábrica de bonecas sexuais realistas, aonde elementos daquela trama foram bem colocados, juntamente com a escolha por como arrumar dinheiro "fácil" foi bem criada dentro do que desejavam conseguir transmitir. No outro plano, o visual afrodisíaco de um paraíso natural, concebido com toda a ideia do pecado junto do incentivo criativo para a criação de um livro recaiu bem na história de Michelle. E usando de cores fortes e traços incríveis, deram uma simbologia tão bem feita para a animação em rotoscopia (que falei tanto no texto, mas não expliquei o que é, então vamos lá: é o processo de filmar pessoas e depois usando softwares de computação converter as imagens para desenhos, aonde artistas colorem manualmente cada detalhe dando novas perspectivas digitais) que cada elemento do cenário passa a ser incrível visto pelo ângulo tanto das pessoas que estão ali vivendo, quanto para cada momento da trama, usando também diversos elementos cênicos sexuais para criar a história, o que deu um charme diferenciado para uma animação. E tudo isso foi concebido com uma direção de fotografia completamente pautada nas sombras e contornos de cada ato, tanto para dar realce na animação (criando traços firmes e bem bonitos de ver), quanto nos planos reais, aonde os personagens principais saltavam quase do ambiente para que vivêssemos junto suas histórias. E aliado à tudo isso, usaram bem os efeitos especiais para mixar as três histórias, dando criatividade contextual para mudar de desenho para texto e de texto para real e de real para desenho, ou seja, um luxo que poucas equipes parariam para criar.
Não bastasse todo o trabalho bem feito pela técnica e artistas, a equipe sonora ainda criou bons ruídos e trilhas para que juntas formassem uma sonoridade de ambiente viva e bem dinâmica para o filme, ou seja, tudo encaixando e rodando com fluidez, para que ninguém cansasse com o que estava vendo, e ainda combinasse com cada momento.
Enfim, confesso que fui preparado para ver algo diferenciado, mas não imaginava o quanto esse diferenciado iria me agradar, ao ponto de falar que tenho um novo filme para chamar de preferido dentre os nacionais, e com isso ir criando uma pequena lista do hall dos melhores que já vi dentro de nosso cinema. Portanto, deixe qualquer preconceito em casa, e vá conferir essa ótima produção Brasil/Canadá que mais do que recomendo, desejando uma excelente diversão para todos que forem conferir e que assim, de boca em boca, o longa tenha uma grande bilheteria, pois merece muita atenção. Claro que é um filme não muito comum, e vai causar uma certa estranheza em alguns que preferem comédias mais leves ou suspenses mais tramados, mas se dê ao luxo de conferir algo diferente do usual e prepare-se para conhecer um lado novo que é bem interessante. Bem é isso, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais uma estreia, então abraços e até breve.
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