Se existe um gênero que consegue transmitir felicidade sem apelações e ainda trabalhar (mesmo que seja bem no fundo) alguma lição de moral é a tal da comédia francesa, e alguns vão vir falar que é apenas comédia o gênero, e eu retruco que separo a comédia francesa das demais por ser um país que preza pela qualidade dentro desse estilo, claro que nem tudo chega até nós, mas o que chega, posso garantir que vem numa qualidade fora de qualquer outro padrão internacional cômico. Sem estragar o final de "O Que Eu Fiz Para Merecer Isso?", ou melhor traduzindo ao pé da letra o título original "Uma Hora de Tranquilidade", a trama trabalha bem o cotidiano de muitas pessoas, que após trabalhar uma semana inteira, o que mais desejamos no sábado é ter aquele momento só nosso para relaxar sem que ninguém venha incomodar com problemas ou qualquer outra coisa, mas a vida do protagonista claro que para dar um bom longa vai acontecer de tudo o que mais improvável que poderia atrapalhar seu momento de calmaria. E ficando como uma ótima dica para a vida de todos, como diria o famoso Jigsaw, de uma série que gosto muito chamada "Jogos Mortais", se ele tivesse escutado o telefonema inicial, a voz da sabedoria, teria tido seu ótimo momento sem precisar passar por tudo isso, e não teríamos o filme. Ou seja, um longa delicioso de curtir e para pensar também em tudo o que se faz.
O sinopse do longa nos mostra que quando Michel, um apaixonado fã de jazz, encontra um álbum raro num sebo, ele mal pode esperar para ouvi-lo – numa tarde tranquila em sua casa, sozinho – mas parece que o mundo se reuniu para impedi-lo de fazer isso e nada sai conforme planejado. Sua esposa escolhe esse momento para fazer uma confissão indesejada, seu filho rebelde aparece do nada, um de seus amigos chega sem avisar, um vizinho vem avisa-lo sobre um vazamento, uma festa no prédio traz uma porção de inconvenientes e sua mãe não para de telefonar para ele. É possível, hoje em dia, não ser perturbado – nem que seja por uma hora? Loquaz e manipulador, Michel está disposto a mentir para conseguir o que quer: nesse caso, apenas uma hora de paz sozinho. Mesmo assim, serão necessários toda a sua energia, perspicácia e capacidade de enganar para impedir que sua manhã ensolarada se transforme num pesadelo.
Alguns mais revoltados vão falar que essas comédias de cotidiano vemos direto em esquetes de programas e até mesmo em alguns filmes brasileiros também, mas aí é que entra a leveza do tema quando abordada por diretores franceses, que evitam o óbvio para trabalhar a situação de modo cômico sem precisar usar de escatologias ou até mesmo de palavrões. E com esse embasamento, o diretor e roteirista Patrice Leconte, pegou a peça de Florian Zeller e transformou em algo contextual e bem dramatizado para que o público se divertisse com algo tão casual, que poderia acontecer com qualquer um num dia comum, afinal 90% das pessoa quando vão tirar seu momento de folga, sempre vem alguém atrapalhar, claro que não algo tão impactante como o que ocorre na trama, mas vir pedir para olhar um computador, ou pegar algo que está no alto é fato comum de qualquer um (me provem que estou falando uma mentira!!). Claro que o filme precisou de certo modo fazer certos abusos e colocar elementos completamente improváveis em cena (ainda estou pensando quem abriga uma família imensa de filipinos num quartinho da própria casa!!), mas de certo modo toda a dinâmica acaba sendo envolvente e agrada no teor leve da trama, que com protagonistas bem dispostos a se enquadrar no filme, acabam sendo dinâmicos e expressivos na medida.
As atuações mostraram dois estilos bem característicos da comédia francesa, se por um lado Christian Clavier colocava seus trejeitos nervosos para demonstrar irritação e com isso causava comicidade para com seu Michel, Carole Bouquet já usava do recursos de não estar ligando para nada para que sua Nathalie segurasse suas cenas, e isso soa engraçado por não trabalhar diretamente com nenhum dos dois, deixando que seus momentos fluíssem soltos e combinando cada estilo de expressividade, o todo se formava, divertindo. Os momentos mais forçados couberam à Stéphane de Groodt com seu Pavel, que de certa maneira buscava incomodar o protagonista com algo, mesmo que esse não fosse o seu objetivo, a situação recaía sempre para esse lado, e suas expressões também, até o ponto máximo aonde cada um pode chegar. Os empregados também usaram estereótipos exagerados para ter sua comicidade, e claro que mostrou também um pouco do preconceito que os franceses têm com estrangeiros, então Rossy de Palma com sua Maria, mostrou que as espanholas falam demais para o que os franceses suportariam ouvir, e Arnaud Henriet colocou com seu Léo que os portugueses não servem para fazer bem os serviços que são incumbidos (isso está no filme de modo subliminar, mas só não vê quem não quiser). Poderiam não ter deixado Valérie Bonneton tão desesperada e chorona com sua Elsa, dando mais firmeza para sua personalidade, mas isso acabou sendo uma opção da trama, e como ela é mais de segundo plano não importava tanto o desenvolvimento da personagem. O mesmo posso dizer de Sébastien Castro que praticamente aparecendo apenas três vezes com seu Sébastien, diríamos que foi um papel desperdiçado e sem envolvimento quase nenhum na trama com suas expressões fracas e sem dinâmica.
Quanto do visual do longa, basicamente o diretor não quis sair muito do original que era feito em um palco, e com isso temos praticamente só uma sala bem trabalhada aonde quase todas as situações ocorrem, e alguns outros momentos mostrando o apartamento do filho, do vizinho, o elevador, um cômodo em reforma, uma cozinha e o sebo no começo do filme, de modo que tudo foi trabalhado com bons elementos para representar cada ambiente, sem que nada fosse cheio de muitas referências, e claro o disco de vinil como objeto múltiplo para ser o mote completo do momento de anseio do protagonista. E sendo assim bem simplista, a equipe de arte não errou em nada, e também não procurou chamar atenção para nada em específico, deixando para que as interpretações dominassem o filme. A fotografia totalmente tradicionalista, ficou com cores pasteis e luzes de preenchimento completas para quase nem termos sombreamentos, dando o tom cru que as comédias francesas bem utilizam tanto no teatro quanto nos longas de casos casuais, e assim deixando o filme com uma cara bem comum.
Ou seja, um filme simples, que qualquer um faria facilmente mudando poucas coisas no roteiro, e que com boas interpretações acabam divertindo e agradando qualquer um que desejar ter um bom momento numa sessão de cinema. O defeito principal que faz com que o filme não ter uma nota maior é o da simplicidade e quase repetição de momentos de outros filmes, mas nada que atrapalhe a diversão. E sendo assim recomendo ele para todos que gostem de rir, sem necessitar de situações apelativas para isso. E dessa maneira encerro minha semana cinematográfica, já me preparando para uma próxima que não deve ser tão agitada como foi essa última, então abraços e até quinta pessoal.
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