Tenho certeza que muita gente chorou com "À Procura da Felicidade", e pelo que vi na sala, depois de 11 anos, o diretor italiano Gabriele Muccino volta a comover com uma história bem envolvente que trabalha a mente de pessoas que sofreram grandes traumas na vida, e ao conduzir de uma forma incrivelmente emocional a convivência de pais com filhas, o longa conseguiu ir sendo desenvolvido com muito amor, desespero e desequilíbrio emocional, para um fechamento bem interessante. E principalmente, ao colocar ótimos atores interpretando com muita vontade seus papeis, o filme acabou indo num crescente tão homogênea que parecia algo real bem contado para emocionar o público.
O longa nos situa em Nova York, 1988, aonde um novelista mentalmente instável tenta criar sozinho a filha de cinco anos após a morte da esposa. Vinte e cinco anos depois, a garota, já adulta, cuida de crianças com problemas psicológicos e ainda tenta entender sua complicada infância.
Tendo seu primeiro roteiro disputado por diversos produtores como uma grande obra a ser desenvolvida, Brad Desch criou um drama envolvente e cheio de pontuações para que o diretor que pegasse a obra e criasse suas nuances montasse quase que um alçapão obscuro aonde o público colocasse os olhos à flor da pele para tentar entender tanto a cabeça da família que tenta disputar com o pai biológico a guarda de uma criança que ama o pai, mesmo que problemático, e numa crua revolta já adulta ela trabalhando como psicóloga trabalha com crianças com problemas, sem ao menos conseguir entender o seu!! Ou seja, é algo duríssimo a ideia completa do filme, pois pode chocar em qualquer cena com o menor movimento de câmera possível, e trabalhando quase como um isqueiro aceso passando perto de uma seda, o diretor Gabriele Muccino acompanha todos os personagens com uma câmera dinâmica e desenfreada andando de um lado para o outro para pegar a essência de cada personagem, juntamente com a atitude de interpretação de cada ator para o seu papel. E desse modo acabamos criando vínculos afetivos com cada um dos protagonistas, torcendo para que consiga atingir seu objetivo de vida, e claro uma convivência melhor para tudo. Além de que como o longa intercalou maravilhosamente o passado e o presente, ficamos à todo momento pensando no que pode ter levado a linda garotinha do passado à virar a mulher traumatizada de relacionamentos que vive no presente, e isso felizmente só nos é mostrado nas últimas cenas, embora que tenha faltado um pouco mais de impacto por parte tanto do texto quanto da direção nesse momento. Porém, ainda o longa agrada demais em todos os aspectos da história.
Sobre as atuações, já reclamei algumas vezes de ambos os protagonistas, mas o que fizeram aqui compensou completamente seus erros no passado, pois foram incríveis. Russel Crowe fez convulsões tão reais para incorporar o problema traumático de seu Jake Davis que chegam a dar desespero no público, e nas demais cenas incorporando ansiedade de escrita com muita dinâmica nas expressões, o veterano ator mostrou que ainda tem muito gás para dar em todo estilo que desejarem que atue, não necessitando ser apenas filmes que exijam força, mas sim também os que trabalhem bem a carga dramática que o ator sabe fazer tão bem. Da mesma forma, Amanda Seyfried trabalhou bem para dar vida à sua Katie, colocando um ar de desespero no olhar, e um semblante que misturava confiança e dúvida frente aos desafios que encarava, numa crise bipolar monstruosa, e embora não seja algo digno de prêmio, a atriz fez um bom trabalho incorporando vivência e desespero para que tudo ficasse o mais intrigante possível. Já tinha ficado impressionado com o trabalho de Kylie Rogers em "Milagres do Paraíso", e aqui fazendo o papel da jovem Katie foi tão precisa na interpretação, mostrando desespero, ansiedade e até mesmo vontade de atingir seu objetivo que agradou demais em cada cena, mostrando realmente ser uma atriz potencial, então vamos ficar de olho nela. Quvenzhané Wallis é uma atriz de nome difícil e personalidade incrível de ver na telona, e depois de quase ganhar um Oscar na sua estreia no cinema, de cantar e dançar num musical, agora fazendo uma garotinha problemática, a jovem mostrou que mesmo com poucas palavras pode agradar em essência, e como falei em "Indomável Sonhadora", ela terá certamente um futuro grandioso. Aaron Paul definitivamente saiu das telinhas para as telonas e seu Cameron é daqueles que faz a mulherada suspirar e ao mesmo tempo xingar a protagonista pelas atitudes (me divirto demais nesses filmes ouvindo o restante da sala, a menina ao meu lado só faltou jogar o refrigerante na tela, na cena de conflito do casal), e o jovem começou a trabalhar mais o semblante menos fechado que era comum de ver em "Breaking Bad" para o de astro realmente de cinema, sendo doce e interessante de ver no filme, mesmo que a aparição de seu personagem seja meio falsa demais. Diane Kruger e Bruce Greenwood entraram realmente como grandes vilões no filme como Elizabeth e William, passando de bons moços para personagens incrivelmente arrogantes de se ver na tela, e isso mostra o quanto são bons atores, e encontraram trejeitos interessantes para simbolizar o momento do filme, ou seja, grandes atores dando personalidade para o momento certo. Octavia Spencer também veio com poucas cenas, mas trabalhou bem sua Dra. Corman e mostrou o que gostamos de ver em suas atuações, que é um estilo forte e bem feito. E para finalizar, mesmo com apenas três ou quatro cenas, Jane Fonda mostrou que com quase 80 anos, ainda pode fazer papeis bem longe de senhoras velhinhas que costumeiramente veríamos em outros longas, pois sua Teddy se mostrou mais do que uma agente simples de escritores, mas sim uma amiga incrível e bem desenvolvida, com um impecável encorpamento.
É interessante ver o trabalho de cena que a equipe de arte criou, pois como a câmera insana do diretor percorre em diversos momentos com planos "quase" sequências, qualquer deslize de elementos jogados poderiam atrapalhar em tudo o andamento do filme, e foram espertos em utilizar essa "bagunça" como elemento cênico para a época mais agitada do protagonista, e em diversos outros momentos, procuraram utilizar sempre muita coisa espalhada para dar um ar de família conturbada, enquanto nas cenas junto de Elizabeth, o minimalismo de uma tentativa de seriedade e elitismo contava com poucos objetos e tudo de cores muito claras, o que é interessante de analisar. E claro que nos anos atuais trabalharam com mais despojamento das locações, para mostrar a dinâmica da protagonista, sempre confrontando com seu trabalho de psicóloga, aonde era visto outro mundo completamente diferente. Mas em ambos as épocas, o parque vinha para representar a paz interior dos personagens, que acaba agradando bastante.
Enfim, não é um filme perfeito, pois temos alguns detalhes que poderiam ser melhor aprimorados para que o envolvimento fosse maior, além de alguns momentos (principalmente nos dias atuais) levemente desconexos, o que acaba atrapalhando um pouco, mas no geral é tão bonito de ver a ótima conexão da história toda que o filme acaba agradável e interessante demais e certamente merece a recomendação para todos. Bem é isso pessoal, encero aqui minha semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias por aqui, então abraços e até breve.
2 comentários:
Gostei do filme.
Esse filme é baseado em uma história real? Acredito que não, procurei o nome do personagem e não encontrei nada sobre ele, você sabe de alguma coisa?
Olá WeWE, 100% fictício... também fui dar uma pesquisada, fizeram bem feito ao mostrar o livro diversas vezes, o estilo contado e tudo mais, mas é tudo inventado rsss... muito bom o filme, mas já rancaram da programação da cidade por falta de público... isso que me irrita, filme bom some por não ter divulgação, enquanto umas joças passam meses em cartaz na cidade!!! Abraços e desculpa o desabafo!
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