Assim como o mote do filme que é a indecisão, ou falta de coragem do protagonista, o diretor/roteirista e até mesmo o elenco de "Prova de Coragem" ficaram bem indecisos frente ao que desejavam fazer com o longa, pois num misto de filme com pegada comercial e filme artístico sem muito envolvimento, o filme parte do nada para lugar algum, segurando apenas algumas reflexões e simbologias, mas que necessitou mais do flashback para tentar explicar toda a situação que o envolvimento dos protagonistas para desenvolver seus momentos. Ou seja, é um filme interessante, mas bem longe de chamar atenção para qualquer coisa, ou principalmente, envolver alguém para adentrar ao que a história propunha.
O filme nos mostra basicamente que Hermano é um médico bem-sucedido que está planejando uma escalada de alto risco em uma montanha na Terra do Fogo. Neste período, sua mulher Adri, com quem vive há sete anos, descobre que está grávida. Mesmo na iminência de se tornar pai, ele dá prosseguimento a seus planos. Esta é a prova de coragem que Hermano deve a si mesmo após ter testemunhado seu melhor amigo ser agredido até a morte e não ter feito nada para ajudá-lo.
A ideia da trama até pode ser considerada original e foge bastante dos longas novelescos que costumam nos entregar nos filmes nacionais, mas o diretor e roteirista Roberto Gervitz, que tem feito um filme a cada 10 anos ou mais, ficou na dúvida entre ousar e agradar em seu estilo, deixando uma história com potencial perdida frente a tudo o que poderia acontecer. Não digo que sua história é ruim, muito pelo contrário ela consegue mostrar algo que acontece muito nos relacionamentos atualmente que é cada um querer ser o dono de sua verdade sem trabalhar bem o meio termo, mas ao deixar muitas indecisões e dúvidas na falta de coragem do protagonista em tudo, o diretor também não teve coragem para nada, trabalhando as cenas de um modo bem morno e rodando o flashback muito vagarosamente para entregar o que na sinopse já estava dito, além de a conclusão do filme não ser em nada reveladora, já que no miolo deixam claro tudo o que pode rolar. Agora é fato que muitos podem abstrair outras ideologias presentes na trama, como a falta de ousadia e a meta do inalcançável ser um objetivo que acaba estragando muitas vezes a vida de uma pessoa, mas faltou ser determinante quanto à isso, e assim sendo a visão que temos é mais de falha do que algo que possa envolver realmente, mesmo que tenha bons ângulos das locações da trama.
No quesito atuação, um fato claro e marcante ficou por conta da regionalização do filme, pois é inevitável o tanto de gírias gaúchas incorporadas na trama, juntamente de claro um sotaque bem arrastado para com os protagonistas, que até fica bacana de ouvir, mas senti um leve exagero que poderia ser evitado. Dito isso, Mariana Ximenes até trabalhou bem sua Adri, mas com o mesmo desespero que demonstra sua paixão nas cenas mais ardentes, retribui com força suas patadas expressivas quando quer brigar ou cortar sua árvore, e isso soa meio dúbio dentro da personalidade da atriz, claro que é impossível entender as mulheres, mas aqui ficou parecendo literalmente dupla personalidade incorporada tanto na personagem, quanto na forma de atuar da atriz, e isso só é bom de ver em filmes sobre loucura. Armando Babaioff nos entrega um Hermano com tantas dúvidas que tenho certeza absoluta que o ator precisou ler muitas vezes seus textos para tentar imaginar como deveria dar vida ao personagem, e se o objetivo era mostrar sua falta de ousadia para com as cenas mais impactantes, o ator fez em cheio, mas para quem gosta de ver um ator mais dinâmico e ousado, vai sentir falta de muita pegada dele. O personagem Renan interpretado por Daniel Volpi é totalmente aquele personagem que tenta segurar as pontas e desfazer os nós da vida do protagonista, mas como ele não age, o personagem secundário também fica amarrado, e sendo assim, não tivemos uma cena que o ator pode se soltar, o que acaba sendo até irônico frente às cenas que está envolvido. Áurea Maranhão saiu-se um pouco melhor com sua Naiara, mas vamos concordar que a atriz que a fez adolescente era bem mais bonita e simpática, de modo que aparentemente sua personalidade mudou demais, não digo que para pior no jeito de atuar, mas seu estilo até chega a ser duro demais nas cenas que poderia se soltar mais, e isso não ocorre. Os demais jovens até foram bem soltinhos, e até fariam um filme bem mais focado caso o longa ficasse apenas neles, mas como não era esse o desejo do diretor, vamos deixar eles para lá.
Sobre o visual da trama, a equipe artística tentou trabalhar bem as simbologias que o diretor desejava mostrar, como a escalada da cachoeira, a figueira em pedaços sendo reconstruída, uma escola infantil sendo administrada pela ex-namorada de juventude, um ateliê completamente desconexo com uma casa de requinte, e isso só mostra o grande trabalho de uma direção de arte bem eficiente que se dispôs a tentar contar sua história embasada em elementos, deixando que a atuação e o roteiro acabasse ficando mais em segundo plano (provavelmente viram que o tema iria se enroscar), e assim sendo, o trabalho de produção podemos dizer que foi muito bem feito. A fotografia trabalhou exageradamente alguns planos corridos, que tentassem ditar um ritmo diferente do que o filme até pedia, e esses contrapontos também podem ser vistos de forma simbólica para contrastar com o protagonista e junto de tons mais pasteis e em diversos momentos até puxando para o inverso total de quase escuridão, mostrando a desorganização pessoal do personagem principal, ou seja, voltamos ao ponto de que a técnica funcionou mais do que a história em si.
Enfim, é um filme que certamente possuía um potencial bem grandioso, e que ao juntar diversos detalhes acabou falhando ao não se decidir qual rumo tomar, pois talvez como um longa mais artístico tivéssemos um longa bem filosófico e interessante, ou se partisse para o comercial total teríamos uma novelona bem dramatizada, mas como ficou no meio termo não agradou em quase nada sem ser nas questões artísticas como disse acima. Ou seja, recomendo o filme somente se não tiver mais nada para ver e desejar interpretar muita coisa que fica aberta na trama, senão poderá passar totalmente que não vai fazer falta em sua vida. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana que foi até que bem recheada, mas já estou preparado para uma semana bem light que iniciará na próxima quinta, então abraços e até lá.
1 comentários:
Concordo com você. Armando Babaioff é um ator medíocre. Louco do diretor que apostou nesse cara.
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