Se tem um país que sabe fazer cinema de qualidade é a Argentina, claro que também faz algumas bombas, mas na maioria das vezes procuram colocar boa comicidade quando deve, e quando quer fazer chorar ou pensar, trabalha tão bem as entrelinhas que acabamos abraçados com a ideia mesmo após acabar o filme, levando toda a ideologia passada para a vida. E a forma que "Truman" trabalha a despedida "final" de amigos é algo que sinceramente não dá para se pensar, pois cada um vai agir de uma forma quando a última campainha tocar, uns vão se desesperar, outros vão tentar de tudo para ouvir mais uma campainha e outros vão apenas viver seus últimos momentos fazendo o que desejarem fazer para tornar mais agradável para você e/ou para as pessoas que tanto gosta. E com base nesse pensamento, o filme pode ser visto de diversos ângulos, mas com toda certeza, em todos o envolvimento com a trama vai ser satisfatório para que você saia emocionado com tudo o que vai ser passado. E claro, há chances de sair da sessão num clima de velório, mas com todo um ar pensante nas diversas possibilidades de como encarar o momento estando em qualquer um dos 5 lados da trama(Julián, Tomás, Paula, Nico ou até mesmo Truman)
O longa nos mostra que Julián está doente e não quer fazer disso um drama nem quer revelar isso para todos. Ele recebe a visita do amigo Tomás e juntos relembram grandes momentos. Julián não sabe quanto tempo tem de vida e por isso se preocupa com quem vai ficar com seu cachorro, Truman.
É até difícil falar sobre o filme tentando pensar nas perspectivas que o diretor Cesc Gay trabalhou para criar toda a situação no roteiro e depois desenvolvê-las com uma direção que não ficasse pesada. E se formos pensar a fundo sobre toda a trama do longa, até podemos dizer que é um filme bem simples, mas que trabalhado maravilhosamente pelo elenco, que soube dosar as expressões certas nos momentos certos, e junto da comovente situação que acabamos tendo de pensar, o filme acaba sendo uma grata surpresa tanto para reflexão como funcionando bem também para um entretenimento(desde que a pessoa não esteja depressiva por motivo de alguma doença!). Se observarmos o estilo de ângulos escolhidos pelo diretor, alguns podem até dizer que se assemelha bem ao novelesco tradicional, e isso pode até incomodar um pouco, porém o diretor foi sábio em não tentar desenvolver as histórias paralelas (que poderiam ocorrer diversas) e focar somente no eixo principal, colocando as demais situações como apenas fatos a serem confrontados pelos protagonistas e com isso o desenvolvimento acaba fluindo.
Sobre as atuações, quem já leu outros textos meus sobre filmes argentinos e espanhóis com Ricardo Darín, sabe o quanto admiro esse ator que não quer sair do seu estilo, já sendo cogitado para diversas grandes produções americanas e inglesas, aonde talvez até poderia ganhar o Oscar ou algum outro prêmio maior, mas sempre negando as propostas e fazendo seus diversos filmes da melhor forma possível, encanta a todos e sempre se sai bem, e aqui seu Julián é feito com maestria, trabalhando cada momento como deve ser, sem acelerar o ritmo em cena alguma, fazendo olhares simbólicos para representar tanto a sua fragilidade pela doença, quanto para comover mesmo, e de certa maneira tornou a experiência do público para com ele muito genuína, e olha que com o estilo próprio que o personagem tem de alterego, qualquer outro ator que inventasse muito nesse papel acabaria criando uma inimizade pública com quem fosse assistir, a trama, e ele consegue exatamente o contrário, incorporando todo o seu carisma característico e sendo perfeito. Javier Cámara também não deixou por menos e trabalhou o seu Tomás de um modo mais tímido, recatado, e colocando uma manguinha de lado, uma citação ali, outra pontada mais forte acolá, ele foi trabalhando para ter seu fechamento de um modo bem coeso (talvez um pouco além do que poderíamos esperar pelo ato em si, mas bem feito no modo geral) e assim agradar bastante no que fez. Dolores Fonzi fez de sua Paula, uma irmã de certa forma preocupada com as atitudes extremistas do irmão, mas em alguns momentos seu estilo de olhar não condizia muito com toda a situação, e o que parecia um erro, ao final vemos que a ideia era outra, e assim sendo o resultado de tudo o que fez acaba encaixando bem. Oriol Pla teve poucas cenas como o filho Nico, e trabalhou de certa forma com uma expressividade mais reclusa e até espantada demais, mas a cena de seu abraço é algo que dificilmente não vai fazer os mais fortes engasgarem pelo menos, e os menos lavarem o cinema, e mais pra frente entendemos que não foi muita coincidência tudo o que ocorreu. E para fechar tenho de falar de Troilo e sua expressividade canina, pois a raça boxer é uma daquelas que realmente captamos o que o cão quer nos falar, mas aqui o cão era tão ator quanto qualquer um em cena, mas infelizmente (não no filme) alguns meses após interpretar Truman, ele veio a óbito pela alta idade, e o Darín foi à diversas premieres com os filhotes do cachorro em sua homenagem.
O filme todo se passa basicamente em Madri, tendo um começo em Toronto (mas poderia ser qualquer lugar com neve) e algumas cenas em Amsterdã, e claro que alguns estilos dos lugares até acabaram sendo representativos pela cultura e tudo mais que a direção de arte procurou utilizar, mas a grande sacada mesmo ficou por conta dos momentos nos apartamentos tanto do protagonista, quanto no quarto do hotel de Tomás, que junto de uma iluminação simples, mas bem desenvolvida para dar vida e cor certa para os personagens, as emoções fluíam ao redor dando uma perspectiva bem interessante para o momento.
Enfim, é um excelente filme que agrada demais e também nos faz pensar demais, e como disse não sei como agiria estando em nenhuma das cinco pontas (ou melhor, como cachorro eu ficaria comendo e vendo tudo rolar, mas nas demais, acho que me desesperaria em qualquer uma). Minha única reclamação seria para a penúltima cena de Tomás, que embora o fechamento dela seja algo bonito, não precisaria ser feita daquela maneira tão desagradável para os atores, mas isso é apenas um adendo de alguém que prefere coisas mais sutis do que o ato em si. Recomendo demais o filme, que estreou dia 14 de Abril no país, mas que agora está chegando à algumas cidades do interior, então quem tiver disponibilidade veja antes que suma de cartaz. Bem é isso pessoal, esse apenas foi o primeiro de vários longas que vieram para cá nessa semana, então abraços e até breve com mais posts.
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