Se no pôster acima já é possível ver um pouco da beleza cênica encontrada pela diretora para construir sua história, você já pode imaginar o quão belo é o filme por completo que nos é entregue em "Agnus Dei"! Claro que por trás de uma bela paisagem, temos um filme duríssimo aonde os traumas de guerra perduraram entre as freiras de um convento, e mais do que isso, ao misturar fé com ciência/saúde nem sempre dá certo, e o resultado é agoniante de ver e sentir, pois se hoje as mulheres ainda são vítimas de abusos, imagina na época de guerra o que sofriam. De certo modo a diretora amenizou algo que com certeza foi bem mais duro na história real, já que o filme é baseado nela, mas de modo simbólico podemos refletir e debater muito sobre toda a situação, o que seria certo ou errado, até onde a fé pode se permear num advento mais impactante, e claro porquê não pensaram na possibilidade que o filme fechou antes, pois sim a ideia é boa e funcional. Ou seja, um tradicional drama francês que envolve muita polêmica e discussão, e que feito de maneira precisa envolve demais todos os espectadores.
O longa nos mostra que durante o fim da Segunda Guerra Mundial, na Polônia, a enfermeira francesa Mathilde descobre que as freiras moradoras de um convento vizinho foram estupradas por soldados invasores. Muitas delas estão grávidas. Apesar da ordem de prestar socorro apenas aos franceses, Mathilde começa a tratar secretamente de todas as freiras e madres. Ela deve enfrentar os julgamentos das próprias pacientes, que se sentem culpadas por terem violado o voto de castidade, e se recusam a ter o corpo tocado por quem quer que seja, mesmo uma enfermeira.
A diretora Anne Fontaine("Coco Antes de Chanel","Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte") tem um estilo próprio de conduzir seus filmes, deixando o público por horas sem uma referência de protagonismo, mas quando o foco dilui completamente para quem devemos olhar, aí o mundo acaba entrando nos eixos e tudo sai perfeitamente com a mais tênue passagem das imagens. Digo isso, pois inicialmente o foco ficava completamente em Mathilde na trama, e sua desenvoltura era algo bem dominado para com o público, mas bastou a diretora nos mostrar que Maria também teria muita coisa para dizer que o filme ganhou um adendo incrível em seu fechamento. E mais do que isso, a diretora soube dosar sua mão para o tema, pois facilmente poderia usar de ideologias feministas favoráveis à abortos, se preocupar completamente com alguma linha de pensamento da Igreja, justificar os crimes de alguma forma, mas não ela optou por ser singela e relatar tudo com uma grande obra, deixando para que o público fizesse o papel das discussões, e assim sendo chegasse à suas próprias conclusões de certo ou errado dentro das personalidades e atos de cada protagonista. Ou seja, um filme que aparentemente poderia parecer simples, e alguns até julgarem ele chato pela temática, vão sair com a cabeça fervendo pensando em tudo o que é mostrado, e certamente irão julgar de forma diferente cada situação.
Sobre as atuações, o que posso falar é que o foco completo recai sobre as duas protagonistas, e até podemos parar alguns momentos para olhar para as demais freiras e suas situações, mas mesmo sendo ótimas em expressar sentimentos, dores e até uma certa "paz" com seus cantos/rezas, todas não incrementaram muita situação para discussões, e sendo assim vou optar em falar pouco sobre as principais. Lou de Laâge é uma mulher lindíssima que tem um carisma no olhar de impressionar qualquer um, e ela acabou nos entregando uma Mathilde tão cheia de qualidades, que mesmo no momento em que discute com Samuel suas opções partidárias contraditórias, ainda continuamos gostando dela, e ao trabalhar bem o seu semblante com nuances próprias e utilizando de movimentos bem singelos, a atriz acaba saindo perfeita, envolvente e emocionante, ou seja, um show de interpretação dado na medida certa. Agata Buzek trabalhou sua Irmã Maria como alguém disposto à ajudar, mas que precisava pensar mais no que estava fazendo, e mais do que fazer o papel, a atriz também colocando hesitação no seu jeito de atuar, e o que acabaria sendo um erro gigantesco em qualquer filme, acabou soando belo e interessante de se observar, até seu ótimo fechamento para encerrar com precisão. Agata Kulesza falou bem pouco com sua Madre Superior, mas foi extremamente importante para os momentos chaves e deu as perspectivas corretas no seu semblante para com cada momento do filme, claro que de um modo bem rígido, mas sempre demonstrando tudo o que se passava em sua mente. E para fechar, tenho de falar um pouco de Vincent Macaigne que deu ao seu Samuel uma personalidade até que bacana de ser vista, foi singelo quando precisou trabalhar mais suas piadas, mas agradou pela personificação do que é realmente as pessoas que trabalham para a Cruz Vermelha.
Sobre a cenografia, ainda irei pesquisar mais sobre onde o filme foi rodado, pois que lugar lindo arrumaram para fazer toda a locação, com um convento bem rústico no estilo tradicional que eram antigamente, e uma floresta magnífica que com muita neve ao desenhando a paisagem criou o clima completo para que a trama fosse fria e certeira, além das cenas dentro do hospital da Cruz Vermelha, aonde muitos soldados eram atendidos, ou seja, não tivemos elementos cênicos tão característicos para serem utilizados, mas a decoração de cada ambiente foi tão importante para a composição funcionar que é difícil não acreditar no conteúdo mostrado, e mesmo quem nunca tenha sequer lido ou visto qualquer filme sobre a época vai imergir dentro da proposta e irá sentir como se estivesse por ali na situação completa, ou seja, um trabalho de arte magnífico aliado à uma produção perfeita na escolha do ambiente para rodar a trama. A fotografia também ficou minuciosa, com muitas cenas iluminadas somente por lampiões, velas, faróis dos carros e fogueiras, dando muitas sombras para termos uma profundidade incrível na trama, e claro, neve que dá o branco perfeito para que um filme crie ares incríveis de ver, ou seja, tudo perfeito.
Enfim, um excelente filme que se tenho de criticar algo é a demora na concisão de alguns atos, e o exagero repetitivo em algumas cenas, claro que tudo funciona bem para mostrar como é a vida ali, mas poderiam economizar tempo de tela e mostrar mais coisas da guerra realmente, e volto a frisar no uso de bebês em cena, pois passar a verdade de um nascimento é algo complexo, mas que se feito de forma errada pode estragar um filme completamente, aqui tivemos muitos bebês em cena, e a maioria já com muita idade para parecer recém-nascido. Dito essas reclamações técnicas, posso dizer que nada disso atrapalha a maravilha que é assistir e poder debater mais sobre essa ótima produção, ou seja, recomendo com certeza o longa para todos que gostem de um bom drama com pitadas polêmicas para criar uma discussão. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, afinal ainda não acabei minha sina com o Festival Varilux, então abraços e até mais pessoal.
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