sexta-feira, 17 de junho de 2016

Lolo, O Filho de Minha Namorada

É interessante ver que nem só de comédias bem pensadas vivem os atores franceses, e não digo isso por mal, mas sim para dizer quando algum amigo mais cult falar que só americanos e brasileiros apelam em comédias, posso usar "Lolo, O Filho de Minha Namorada" como referência para mostrar uma francesa que até diverte, mas usa apelo generalizado ao somar psicopatia/sociopatia com Complexo de Édipo e colocar um jovem adulto arruinando com a vida de todos os namorados de sua mãe para que ela seja somente sua. O filme é bem moldado, tem boa vivacidade, mas a protagonista, roteirista e diretora Julie Delpy acabou forçando a barra nas cenas cômicas, de tal modo que começamos rindo de tudo, daí as risadas vão diminuindo, e ao final já temos mais raiva do que o jovem faz do que achamos engraçado, e isso é um sinal de que se tivesse trabalhado de forma mais leve, o longa ainda seria divertido, mas menos apelativo.

A sinopse do longa nos conta que de férias no sul da França, Violette, sofisticada parisiense quarentona que trabalha no mundo da moda, encontra Jean-René, um modesto técnico de informática recém-divorciado. Após anos de solidão, Violette deixa-se seduzir. René junta-se a ela em Paris, tentando se adaptar ao ambiente parisiense no qual ela vive. Mas não conta com a presença de Lolo, filhinho querido de Violette, disposto a tudo para destruir o casal e conservar seu lugar de favorito.

Até poderia não culpar exclusivamente Julie Delpy, mas depois de tantos filmes nos EUA, a atriz acostumou com o estilo e por trabalhar com comédias mais reflexivas por lá, achou interessante também dirigir esse estilo, mas acabou perdendo a mão no meio do caminho, pois originalmente seu filme começa muito bem, vai tomando um formato interessante, mas destoa demais nas repetições. Claro que se estivéssemos assistindo à uma comédia forçada tradicional, iríamos estar preparados para isso, e quiçá até falaríamos mais pontos positivos da trama do que negativos, mas estamos mal-acostumados com as comédias francesas aonde o singelo nos faz rir, e não uma apelação. Ou seja, é um filme divertido? Sim, mas a diretora forçou um pouco a barra para que seu filme acabasse mais trabalhado na comicidade e menos envolvente em sutilezas como acabaria agradando mais. Além disso, a falta da originalidade em planos acaba sendo uma marca clara no seu estilo, visto que já até disse isso uma outra vez aqui, quando o diretor resolve atacar em todas as posições, o resultado não costuma agradar, pois não está dirigindo uma outra pessoa, mas sim ela mesma, e acaba viciando no que desejava ver, e não sai nem metade do que poderia fazer por ela.

Continuando o que falei sobre fazer todas as tarefas, no quesito interpretativo sabemos que Julie Delpy sempre mandou bem nos papeis que interpretou, mas sua Violette é mais maluca do que qualquer mulher incontrolada já pensou em ser, tendo diversas paranoias, claro que muito se deve ao filho, mas a personalidade cairia muito melhor em uma atriz de comédia mesmo, não ela que é voltada mais para o lado romantizado da coisa, então até trabalha bem os trejeitos desesperados, mas falta convencer o público disso. Dany Boon até trabalhou bem seu Jean-René, e colocou todo um estilo interiorano na personalidade fazendo com que as piadas em cima dele funcionassem, porém em alguns momentos soou mais como alguém jovem do que para um divorciado quarentão, e isso acaba sendo uma falha grave que desconectou o estilo dele para com o filme. Vincent Lacoste fez o filme com uma interpretação tão forte de seu Lolo, de tal modo que mesmo sendo ridículo em algumas atitudes, acabamos torcendo para ele com suas maldades, e se fosse um filme americano certamente os roteiristas já estariam preparando um segundo filme baseando-se nele novamente, pois o jovem acabou saindo melhor do que a encomenda, com olhares precisos e planos maquiavélicos perfeitos. Os demais personagens funcionaram mais como ligação, pois até agora não entendi a importância da amiga aparecendo em momentos espalhados, e muito menos a de Lulu, pois o filme desenvolveria tranquilamente sem as cenas apelativas com os demais personagens fora do trio principal.

Sobre o contexto visual da trama, sabemos bem que todo filme aonde temos "pegadinhas" com alguém, a equipe de arte sofre para arrumar muitos elementos que acabem soando engraçados, mas aqui a equipe foi bem econômica, usando de pó de coceira, remédios e um simples programa de computador, ou seja, faltou usarem mais da criatividade para que as sacanagens feitas pelo jovem pegassem mais pesado para cima do namorado da mãe, mas ao menos tivemos boas locações escolhidas para dar um ar mais cool já que a protagonista é uma diretora de moda. A fotografia da trama também não ousou muito, trabalhando um ou outro filtro nas festas, mas nada que saísse do tradicional de comédias, ou seja, simples e objetivo.

Enfim, é um filme razoável, que até diverte, mas muito longe de ser uma obra inovadora no meio, talvez Delpy precise de mais alguns filmes junto de Linklater com quem trabalhou por muitos anos para ousar na forma mais romanceada com pitadas cômicas mais sutis. Não digo que não recomendaria o filme, mas garanto que nesse estilo já vi outras comédias melhores, então se quiser rir ao menos a proposta cumpre com a ideologia de uma comédia, mesmo que apele para isso. Bem é isso pessoal pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda faltam muitas estreias, e filmes do Festival Varilux para conferir, então abraços e até breve.

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