Mais Forte Que o Mundo - A História de José Aldo

6/19/2016 02:10:00 AM |

No longa "Mais Forte Que o Mundo - A História de José Aldo", uma das frases mais marcantes é que você precisa aprender a cair para se levantar, e a maior falha do filme não foi em sua execução, afinal temos um dos melhores filmes nacionais já feitos, com boa dinâmica, excelente ação e muita garra na produção completa, mas acabaram pecando no erro da tradicional distribuição do filme. Digo isso pois o longa seria lançado em janeiro, numa época relativamente tranquila para o filme, com cronograma bem encaixado para que todo o país lhe assistisse, mas ficaram com medo da reputação do filme após o lutador ter perdido sua última luta. E se posso dizer algo, certamente o filme lhe daria um gás a mais na torcida para que levantasse a moral e se preparasse mais ainda para seu próximo embate. O filme em momento algum coloca a luta contra Conor McGregor em pauta, não estragaria nada na empolgante trama, mas a distribuidora optou por ir empurrando, até agora ir lançando em poucas salas e horários, de modo que muitos acabarão nem vendo o filme, o que é uma pena enorme, pois volto a afirmar ser algo tão impactante que não temos quase nenhum momento de respiro nessa grande trajetória de briga com monstros interiores na vida de um grande lutador. Portanto mais do que recomendo o filme, pois sempre brigamos que os longas nacionais são fracos e tudo mais, e quando saem grandes obras acaba que o público não vê, então vá para o cinema conferir que não será em vão.

A sinopse nos conta que nascido e criado em Manaus, José Aldo precisa lidar com a truculência do pai, Seu José, que além de se embebedar constantemente ainda por cima bate na esposa, Rocilene, com frequência. Enfrentando constantemente seus demônios internos, Aldo encontra na luta sua válvula de escape. Acreditando em seu futuro como lutador, ele aceita se mudar para o Rio de Janeiro e morar de favor no pequeno alojamento de uma academia. Lá ele recebe o apoio do amigo Marcos Loro e conhece Vivi, uma jovem que vai constantemente à academia. Precisando ralar um bocado para se manter, Aldo enfim consegue um voto de confiança do treinador Dedé Pederneiras, iniciando assim sua carreira no mundo do MMA.

Sinceramente não sei o que esperar do futuro da carreira de Afonso Poyart, pois com apenas três filmes, dois nacionais("Dois Coelho" e agora esse) e um americano("Presságios de Um Crime"), já podemos considerá-lo como um dos grandes nomes da direção brasileira, pois cria uma dinâmica tão visceral, com planos que raramente ficam parados nos enquadramentos, que um filme de quase duas horas passa num piscar de olhos. E agora ao criar essa maravilhosa biografia de um dos grandes nomes do MMA brasileiro, o diretor usou de suas excelentes técnicas de slow-motion com a câmera Phantom para dar um realce nas cenas de luta e nos momentos mais fortes da vida do lutador. Claro que em determinados momentos, o exagero na luta interior do lutador com seu passado, acabaram deixando a impressão quase de Aldo ser atormentado psicologicamente, mas com a perspectiva da narrativa andando e fluindo bem como foi o caso, saímos da sessão super empolgados com tudo e desejando cada vez mais ver filmes desse estilo nas nossas telas, pois volto a frisar o quanto o Brasil possui boas histórias para serem contadas, e assim sendo não precisaríamos de novelas, longas novelescos e muito menos comédias arrastadas que tanto perduram em nosso cinema nacional, mas aí é gosto de cada público. E se posso dizer mais algo sem lotar de spoilers é o fato do filme funcionar tanto como base real quanto uma boa história de ficção envolvendo superação profissional e pessoal, afinal como o lutador disse em entrevista 70% do que aparece na telona realmente aconteceu, o restante é ficção para ficar mais bonito e interessante de ver. E mesmo essa ficção colocada, claro que aliada ao tradicional lema das artes marciais, a trama acaba dando boas lições para a vida e o resultado junto de um bom filme de ação é mais do que positivo.

É interessante ver que o diretor, junto com a preparadora de elenco Fátima Toledo conseguiram captar a essência do esporte e dar personalidades incríveis para cada personagem da trama, pois sequer um dia pensei que diria que um dos humoristas mais arrogantes da televisão atuaria bem em um filme, ou que um "galã" de novelas viraria um lutador nato na tela com direito a cicatriz e tudo mais. E sendo assim o resultado positivo da interpretação do elenco só incrementou o sucesso que é o filme. Para começar temos um José Loreto que entrou determinado na personificação de José Aldo, treinou muito para conseguir fazer grandes golpes de luta, se "enfeiou" para  ficar mais próximo das características do lutador e principalmente mostrou o motivo de ser considerado um dos grandes nomes dos jovens atores nacionais ao colocar personalidade e responsabilidade nos momentos mais fortes de expressões que não exigiam força, mas sim jeito de impactar nos diálogos, e com muita destreza, ele acertou em cheio todos os momentos. Jackson Antunes também mostrou o quanto sabe ser expressivo, ao trabalhar Seu José com nuances duras, mas extremamente simbólicas para cada momento da trama, o que agrada demais de ser visto. Claudia Ohana fez uma mãe tradicional, mas muito bem emblemática para as cenas fortes com sua Rocilene. Milhem Cortaz é incrível em qualquer papel que lhe seja entregue, e fazendo o treinador Dedé Pederneiras saiu-se como um verdadeiro segundo pai para o jovem, lhe dando as broncas certas, e sendo explosivo na medida do possível para soar verdadeiro. Cleo Pires mostrou que é boa nas lutas também, dando bons golpes com sua Vivi, e principalmente mostrou que cada dia mais sua personalidade forte e trejeitos herdados da família vão lhe levar para muito longe, pois se antigamente o pessoal a criticava por ser de família da TV e não ter carisma, hoje já param para reparar no que faz bem e aonde vai decolar. E claro que Rafinha Bastos não é, nem nunca será algo que possamos chamar de ator realmente, mas o que a preparadora de elenco fez com ele para cair bem na personalidade de Marcos Loro é algo para Fátima colocar como ponto altíssimo em seu currículo, pois o humorista agradou bem nas cenas, e como todos que o acompanham sabem bem que ele é um extremo aficionado por MMA, e nada melhor do que fazer um lutador em um filme para que sua felicidade fosse completa. Rômulo Arantes Neto caiu bem no estilo de Fernandinho e mais do que em suas cenas individuais, o jovem ator ficou perfeito como sendo o monstro interior do protagonista, motivo maior de sua loucura e a cada cena que os dois se confrontavam, mais nuances os atores mostravam ter em seus trejeitos, ou seja, tiveram uma química explosiva incrível entre eles, o que mostra o quanto ambos são bons atores. Dos demais, o grande destaque fica por conta de Aldo Bueno como o faxineiro Sabará, pois com boas tiradas, o ator encanta com sua simpatia e vivência na telona.

Como já disse antes, Poyart gosta de trabalhar muitas nuances criativas em câmera lenta, e isso acaba funcionando muito bem em todos os seus filmes para criar perspectivas e para que o público repare em determinado elemento cênico que o diretor deseja enfatizar, e aqui ele não só fez muitas cenas assim, como também trabalhou acelerações de movimento, e com toda certeza exigiu da equipe artística elementos precisos para que cada cena fosse bem representada, seja nas cenas que se passaram na cidade de origem do personagem ou nas dentro da academia, ou até mesmo na lanchonete em que o jovem trabalhou. Além disso, foram bem coerentes nas cenas na favela, para nem desgastar a imagem do morro, muito menos criar um ar pobre estereotipado. E claro que junto de 5 câmeras gravando as lutas no octógno a profundidade cênica chegou num nível incrível que a equipe de fotografia deu a tonalidade certa e combinou iluminações bem moldadas para criar sombras e vivências de momento para cada ato do filme.

Enfim, um excelente filme que merece ser visto sem dúvida alguma por todos, não só pela ótima história, mas bem como para dar bilheteria nesse estilo de filme mostrando que o público brasileiro gosta também de outros gêneros sem ser comédias bobas. Claro que o filme possui alguns defeitos, mas o diretor na edição conseguiu deixar o longa tão acelerado, que acabamos até esquecendo deles, e assim sendo o filme soa quase que perfeito. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até breve.


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