Marguerite

6/11/2016 03:08:00 AM |

Se ontem falei que gosto de assistir produções que você termina de ver e fala: "nossa, realmente nada aqui merecia ser cortado", tem vezes que sinto o pesar de dizer a frase que "gostaria que muita coisa fosse cortada desse filme!". Digo isso não pela história, não pelas canções, não pela ideologia de "Marguerite", mas sim pela alta excentricidade e bizarrice inserida no seu miolo, de modo que alguns personagens parecem ter saído do circo dos horrores, e ainda mais aparecem fazendo cenas tão inúteis para o conteúdo da trama que nem o mais louco diretor experimentalista colocaria tais cenas no filme. Não digo em hipótese alguma que o filme não é bem feito e com uma história bacana de se ver, mas apelaram muito em colocar algumas coisas dispensáveis que por bem pouco não estragou todo o restante.

O longa nos situa em Paris, anos 1920. Marguerite Dumont é uma mulher abastada que acredita ser uma ótima cantora de ópera. Ela realiza concertos em sua mansão e a família e os amigos não têm coragem de dizer a dura verdade de que ela é péssima nesse quesito. A crença de Marguerite em sua voz é tanta, que planeja um show, para desespero de todos.

Claro que todo filme baseado em fatos reais precisa de algo diferenciado para que o roteiro saia criativo, mas Xavier Gianolli ao se basear na história de Florence Foster Jenkins praticamente saiu do plano ao colocar personagens exóticos e tudo mais na vida de uma mulher muito rica com uma péssima voz, que desejava ser cantora de ópera. É certo que um ou outro elemento inusitado agradaria e daria conteúdo para a trama, mas colocar os personagens ainda se interagindo completamente fora do contexto em que a cena nos mostrava foi algo que mais incomodou chocando do que divertiu realmente, e olha que nas cenas mais simples o público riu muito, enquanto nas outras o silêncio predominou na sala. Ou seja, o filme em si já possuía uma boa comicidade na temática e não era necessário inventar demais, porém quiseram sair fora do padrão e quase se afundaram nas ideias. O estilo de direção de Gianolli também poderia ter sido excêntrico para dar uma criatividade sem necessitar o que acabou fazendo, mas trabalhar com capítulos em filmes que não necessitam capitular é a forma mais preguiçosa de dizer que não teve criatividade para ligar uma cena na outra.

De modo geral (tirando as aberrações) o elenco foi bem coeso nas interpretações e agradou no que fez, claro que uns mais que os outros, porém todos tentaram mostrar serventia nos seus papeis. Catherine Frot saiu claro como uma diva com sua Marguerite, vestindo figurinos ultrajantes cheios de brilho e glamour, soando sempre altiva na personificação e claro dando um acento perfeito na forma de conduzir suas frases, além de cantar maravilhosamente mal, sem precisar de nenhuma dublê de voz para irritar com toda certeza o ouvido do captador de áudio, ou seja, saiu perfeita em tudo. Outro que agradou muito no estilo interpretativo é Denis Mpunga com seu Madelbos, pois sempre servindo sua madame, e ainda tirando um proveito como fotógrafo artístico das loucuras dela, o grandalhão trabalhou uma expressividade muito interessante de se ver, e acabou chamando a atenção. Embora faça um papel extremamente excêntrico Michel Fau é interessante e divertido com seu Atos Pezzini, e se não tivesse sua equipe desnecessária, agradaria tanto vê-lo trabalhando com a protagonista, pois o ator deu um show em todas suas cenas. Ainda estou tentando entender o comparativo da bela voz de Christa Théret com sua Hazel no filme, pois qualquer cantora mais singela que fosse seria melhor que Marguerite, e não necessitaria mostrar na tela o que é bom e o que é ruim, mas a atriz saiu-se bem nas suas cenas ao menos. André Marcon também caiu muito bem dentro da personalidade de Georges e foi canalha na interpretação quando precisou, mas também soou bem doce nas cenas mais comoventes, ou seja, o ator soube contrabalancear bem as expressões. Dentre os demais personagens alguns até apareceram mais e conseguiram alguma atenção, como é o caso de Sylvain Dieuaide com seu Beaumont, e Aubert Fenoy com seu Kyril, mas o diretor optou em usar pouco eles, o que foi muito errado, já que agradariam bem mais do que o circo de horrores que acompanhava Pezzini.

Agora se tem algo que souberam fazer muito bem na trama foi o conceito artístico, pois tudo está impecável, com muitos figurinos, elementos cênicos saindo de onde quer que desejássemos, locações maravilhosas, e claro tudo muito bem usado para cada momento da história, não sendo apenas jogado na tela, e assim sendo a equipe de arte foi bem trabalhada tanto na concepção de época quanto no conteúdo que a trama desejava passar, e isso é algo que em comédias costuma dar muito errado, e aqui nem sequer passou perto do erro. A fotografia trabalhou bem com sombras e nuances tanto para dar um tom mais dramático na trama quanto para envolver o espectador na loucura da protagonista, ao invés de jogar tudo muito colorido para que todos rissem, e claro que o destaque fica para o ótimo tom avermelhado na câmara de revelação, pois ali além de boa parte da história ser contada com fotos, o teor ainda foi envolvente demais.

Enfim, não é um filme ruim, apenas foi mal aproveitado os elementos que tinham em mãos para criar algo quase que experimental, e como já disse isso outras vezes, o gênero experimental é algo que pessoalmente abomino demais, mas é claro que há os fãs do estilo que vão se divertir mais do que reparar nas loucuras colocadas em cena, e assim sendo, o filme pode até soar melhor visto de outra forma. A mesma história será contada de uma forma diferente no final do mês de Julho, agora sob uma ótica hollywoodiana com Meryl Streep como protagonista, então em breve poderemos comparar o estilo de loucura da história. Mas por enquanto só recomendo o filme se você gostar realmente de coisas diferentes. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos nessa loucura de semana, então abraços e até breve.

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