Satirizar o nosso governo e toda a picaretagem que ocorre lá dentro é algo tão fácil que qualquer roteirista que estiver com boa vontade consegue fazer um excelente filme. Mas se tem um estilo que o Brasil ainda não aprendeu bem como fazer com os programas e filmes estrangeiros, é a tal da sátira, pois acabam soando apelativos e ao invés de divertir o público acabam forçando a barra e não convencendo de que aquilo é tão nojento quanto acontece de verdade. Sim, digo isso pois como diversos programas jornalísticos já mostraram ocorrem coisas tão nojentas em Brasília que não é difícil acreditar em qualquer coisa incomum que um filme nos mostre, e aqui foram ao ápice da ironia ao mostrar uma transação de licitação completamente feita de modo ilícito. Não digo que é um filme ruim, mas poderiam ter apelado menos nos trejeitos dos personagens e diluído as possibilidades dentro de algo mais tradicional, que aí o público sairia da sessão convencido de tudo o que seria mostrado e ainda se divertiria com a trama, mas como é uma comédia, as mulheres até fizeram bem seus papeis e divertiram num tom mais simples, sem fazer o público gargalhar.
O longa nos mostra que a senadora corrupta, Maria Pilar vê uma grande oportunidade de ganhos na licitação do projeto Brasil Brasileiro. Após entrar em contato com a ministra Ivone Feitosa em busca de maiores informações, Maria é orientada a conversar com a secretária-executiva do ministério, Madalena, para acertar uma armação. Mal sabe ela, porém, que Madalena tem seu próprio plano para se dar bem sozinha...
O diretor e roteirista Gustavo Acioli tentou trabalhar de maneira bem ousada ao colocar ironia em algo que já é bagunçado, que é a corrupção dentro de nossa política, mas como trabalhar sátira com algo que não é certinho é algo muito difícil, ele acabou dando a sorte do empoderamento feminino estar na moda para que seu filme não destoasse totalmente de uma proposta engraçada e que fizesse jus à ideologia de que cada personagem agradasse de uma maneira divertida e ainda caracterizasse a sátira que desejava encontrar no seu roteiro. Claro que ao pensar nisso tudo, certamente ele imaginou algo bem mais engraçado do que acabou acontecendo, e nem tanto por culpa sua, mas sim de nossa política já ser piada pronta. Ou seja, temos um filme de certo modo divertido, mas que ao forçar a barra colocando mulheres fazendo piada com o jeito caricato que muitos homens fazem, ficou estranho de se ver na tela, e ao contrário do que costumeiramente aconteceria do público rir, o máximo que fazemos é ficar "ainda mais" indignado como realmente é a situação no país. Então de comédia satírica, o longa do diretor acabou virando quase um docudrama político engraçado com mulheres atuando nos papeis principais, e isso não é algo vexaminoso, muito pelo contrário, pois as atrizes fizeram muito bem seus papeis, e a ideia foi completamente passada, mas talvez o longa esteja um pouco fora do prazo.
Sobre as atuações, Dira Paes é uma atriz que chama a responsabilidade para si na maioria dos papeis que faz, e aqui sua Maria Pilar foi escrita diretamente pensando no seu estilo pelo diretor, e claro que ela não decepciona, incorporando bem a postura de alguém que não sabe muito bem como fazer para ganhar o dinheiro ilícito, mas que vai arrumar um jeito de ganhar, e isso é totalmente a cara da personagem, que a atriz deixou um show. Stella Miranda chama mais atenção pelo seu estilo de atuar do que pela sua personagem Ivone, pois ela não colocou a comicidade à frente da personalidade, então vemos uma mulher disposta a jogar mais e sair-se bem por trás dos panos do que uma pessoa que diverte pelo que faz, e isso acabou ficando um pouco estranho de ver na tela. Milena Contrucci Jamel podemos dizer que fez todo tipo de cara na atuação de sua Madalena, e nenhuma foi conveniente para as cenas que trabalhou, ou seja, algo incomum de ver, mas que mostra uma falta de determinação dentro da personagem. Agora se teve alguém que se dispôs a fazer um papel bem feito foi João Velho, que incorporou totalmente seu George com características marcantes e bem pessoais, ou seja, junto com Dira poderiam ter dominado completamente o filme sem mais quase ninguém em cena.
O conceito visual da trama não foi muito elaborado, mas conseguiram deixar bem coerente para passar por gabinetes, mas quando saiu para fora dali, o banco, a festa e o escritório da ONG ficou algo simples demais para se acreditar, soando até bem falso. Mas certamente a cena mais inútil da trama ficou a cargo do brunch entre as amigas num jardim, aonde os elementos cênicos até estavam bem cabíveis, mas com um diálogo mais jogado possível, acabou deixando algo alongado e quase sem nexo. E claro a cena com melhor direção de arte com mais acertos ficou por conta do ex-político com suas obras de arte com os nomes dos políticos que lhe deram. Na direção de fotografia, tivemos algumas boas cenas externas aonde a iluminação natural foi compensada, e alguns poucos filtros nas cenas internas para dar preenchimento cênico, mas nada de anormal para dizer que o filme criasse alguma condição favorável para o momento, talvez se utilizassem mais cores vivas nas cenas, conseguissem um pouco mais de comicidade.
Enfim, não posso dizer que é um filme ruim, mas também está muito longe de ser algo completamente agradável de se ver, ou seja, não consigo recomendar ele para os amigos, mas aqueles que tiverem vontade de conferir seja pelo empoderamento feminino, seja para ver piada em cima da piada que é nossa política, vai sair da sessão com impressões razoáveis do que verá. E sendo assim, deixo essa a indicação para quem desejar ver o filme. Encerro aqui essa semana que acabei alongando um pouco demais, mas volto na Quinta com mais estreias, então abraços e até lá pessoal.
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