A simplicidade que existe na infância, seja de desejar novos amigos ou amores é algo que sempre dá boas histórias, e quando juntamos a possibilidade de grupos opostos, o conjunto da obra acaba fluindo de maneira tão gostosa e agradável que acabamos nos entretendo com situações que vivenciamos quando mais jovens, e divertimos com tudo o que é mostrado. "O Novato" certamente possui defeitos ao trabalhar toda essa ideologia, mas a situação toda é tão gostosa de acompanhar que acabamos adentrando à ideia e gostando de cada nova cena que o protagonista se mete, criando o seu próprio grupo de amigos, dentre aqueles que praticamente muitos não se envolveriam.
O longa nos mostra que a primeira semana de Benoit em seu novo colégio não acontece como ele esperava. Ele é maltratado pelo grupo de Charles, os garotos populares, e os únicos alunos a recebê-lo com bondade são os mais cafonas. Felizmente, há Johanna, uma linda sueca com quem Benoit faz amizade e se apaixona. Infelizmente, ela vai aos poucos se afastando de Benoit para integrar o grupo de Charles. Seguindo os conselhos do tio, Benoit organiza uma festa e convida toda sua turma. É a ocasião de ser tornar popular e reconquistar Johanna.
Certamente o diretor se baseou na sua infância ou no que viu ocorrer com seus filhos, pois a fluidez da história é tão bem feita que não sairia uma ideia original a partir da mente de qualquer pessoa. E esse envolvimento todo que é gostoso de ver, que acaba agradando, pois não temos nenhum plano filosófico, nenhuma ideologia problemática, nem situações que choquem o público, somente a vivência completa da infância e da aceitação para ingressar em determinado grupo, ou mesmo acabar criando o seu próprio grupo. E usando de sutilezas nas cenas e planos simples bem tradicionais, Rudi Rosenberg consegue traduzir completamente o que desejava mostrar auxiliado pela ótima interpretação das crianças selecionadas para os papéis principais, e mesmo usando de clichês tradicionais que já vimos em outros longas, a trama acaba fluindo e divertindo na simplicidade passada.
O carisma de Réphaël Ghrenassia com seu Benoit é algo incrível de ver em uma criança, pois nem grandes atores profissionais conseguem desenvolver tanta habilidade nos semblantes e segurar a responsabilidade da maioria das cenas, ou seja, tem muito futuro o jovem. Joshua Raccah é o famoso amigo gordinho que nunca é aceito pelos mais populares da escola, afinal só faz besteiras, mas quem o aceita acaba vendo que é com eles que mais gostamos de estar junto, pois sabem o que é bom da vida e vão sempre elevar nosso ego, e ele com sua cara de cachorro que caiu da mudança, vai trabalhando tanto nos diversos momentos que acabamos o aceitando a personalidade que o garoto entregou para seu Joshua e acaba divertindo bastante no que faz, e mesmo não sendo a melhor interpretação, acaba soando agradável. Johanna Lindstedt é uma bela moça e certamente qualquer um se apaixonaria fácil por ela, claro que como todos sabemos na França desde pequeno os jovens costumam ser um pouco rudes com estrangeiros, e jovens quando entram no meio de um ano letivo acabam não sendo bem aceitos se não falam bem o idioma, e a jovem encarou essa personificação de uma maneira muito bem interessante de se ver, e sem que fosse jogada para escanteio, chamou também a responsabilidade em algumas cenas e fez muito bem. Eythan Chiche conseguiu cair completamente na personalidade mala de Charles, fazendo tanto trejeitos que muitos adoram, como também recair sobre algo que muitos odeiam, da popularidade por agrupar os mais fortes e notáveis, que acabam azucrinando os mais fracos e com isso também angariando o ódio dos que são mais deslocados, e o jovem ator teve dinâmica para isso, agradando no que fez. Guillaume Cloud-Roussel fez todas as características elucidativas do nerd bobão que a maioria mais odeia, aquele que fica adentrando à conversas tentando parecer amistoso, de entrar para os clubes mais caretas das escolas e sempre estar disposto à tudo o que o professor precisa, indo bem contra a maré, e claro que ao arrumarem um ator mirradinho para o personagem de Constantin, ele também recaiu no grupo dos feios, ou seja, chega a dar pena do jovem ator, mas ele saiu-se bem no que fez. Não posso afirmar se Géraldine Martineuau é realmente deficiente ou se usaram artifícios de maquiagem para ela, mas se não for, a jovem interpretou Aglaée com tanta perfeição que chega a assustar, mas se for a jovem atriz também soube usar a expressividade para o bom texto e agradar não somente nos trejeitos de movimentos. Tivemos uma leve participação de Max Boublil como Tio Greg, mas soou apenas como um bom amigo para o sobrinho e divertiu bem na festa, não tendo algo que chamasse muita atenção para si. Dos demais, a maioria somente apareceu em cena, ou seja, nem dá para ver se fizeram algo realmente bom, mas funcionaram no momento em que deveriam aparecer ao menos.
Sobre o visual da trama, o filme não chega a ser datado, mas também não conseguimos colocá-lo nos dias atuais, de modo que as festas, o estilo escolar aparentam mais algo próximo dos anos 90 pelos objetos cênicos e figurinos usados pelos personagens, mas mesmo assim tivemos bons elementos em cena para representar a vivência dos personagens e a cenografia não falhou em condizer cada locação, ou seja, um bom trabalho da equipe artística que até poderia ser melhor, mas agrada bastante no que foi feito. Os tons apareceram meio envelhecidos demais na fotografia, e revelaram o grande uso de filtros tanto na edição quanto no modo de filmagem, nada que soasse errado, mas poderia ser amenizado que daria um sabor menos nostálgico para a trama (claro que isso também pode ter sido uma opção do diretor, mas haveria outras formas de passar isso).
Enfim, é um bom filme, gostoso de acompanhar e que diverte tanto na proposta quanto no jeito de atuar das crianças, e sendo assim, quem gosta de reviver o passado que teve na escola, essa é mais uma boa proposta feita de forma diferenciada do tradicional que já vimos em novelas, e até mesmo em outros filmes americanos e franceses, de modo que vale o ingresso ao menos por tudo o que é passado, e sendo assim acabo recomendando ele. Fico por aqui agora, mas volto em breve com o outro texto do Festival Varilux de hoje, então abraços e até mais tarde pessoal.
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