Se tem um estilo que costuma me irritar com facilidade é a comédia novelesca nacional que tanto tentam nos empurrar nos cinemas goela abaixo, mas quando um filme consegue ser bem feitinho, trabalhando bem as tramas e subtramas até consegue passar a divertir e acabamos nos envolvendo com o que é mostrado. E embora "Uma Loucura de Mulher" não seja algo que você acabe rindo de tudo que tentam fazer graça, a diversão para quem gosta de uma boa novelinha das sete é garantida nos 100 minutos de projeção. Ou seja, um filme bem produzido (para o estilo que se propõe), uma trama com protagonistas bem definidos e interessantes de acompanhar a trajetória e subtramas adequadas sem invadir o mote principal, agradando sem fazer muito esforço e também não inventando moda.
O longa nos mostra que há 15 anos, Gero e Lúcia fugiram para se casar. Ela desistiu da dança para apoiá-lo na carreira política. No dia do lançamento da pré-candidatura de Gero ao governo do Distrito Federal, um senador assedia Lúcia e o fato vai parar nos noticiários, ameaçando o futuro do marido, que pretende internar a mulher num hospital psiquiátrico. Lúcia acha que não está louca e busca refúgio na antiga casa do pai.
Assim como no filme, após quase 15 anos como produtor de documentários e algumas ficções, Marcus Ligocki resolveu botar a cara para bater e mudar completamente de função, escrevendo seu primeiro roteiro e encarando também a direção de seu primeiro longa-metragem, e claro que soube escolher bem um gênero aonde poderia ir sem errar muito no atual contemporâneo de nosso cinema, que é a comédia novelesca. O fato é que em seu filme, ele até poderia ter trabalhado nuances mais questionativas e/ou incorporar trejeitos mais cômicos, mas para isso teria de acabar forçando a barra (até mais do que em fez em algumas cenas), e talvez o longa ficasse grosseiro demais, então ao optar pelo simples e bem feito, ele pode colocar em pauta o que sabe fazer bem, afinal também assina a produção do longa, e pegou bons atores para os papeis chaves criando uma trama gostosa de acompanhar, que com uma produção eficiente acaba funcionando com os ângulos escolhidos sem muitas firulas, e nos entrega quase que uma novela das sete reduzida, aonde o resultado flui para o que o público quer ver, e a diversão acaba ocorrendo naturalmente. Ou seja, não espere ver um trabalho daqueles que você vai ficar pensando: "nossa que traquejo de câmeras!", "nossa que interpretação genial de um texto!", "nossa que reviravolta incrível!", mas sim um filme que você vai se divertir com a proposta se gostar do estilo, e mesmo se não for muito fã de novelas, ao menos não sairá irritado com o que verá na tela.
Sobre as atuações, um fato claro é que Mariana Ximenes se dedicou bastante para interpretar sua Lúcia, mostrando nuances interpretativas de todos os estilos, dançando, subindo e descendo escada com salto, e chamando claro a responsabilidade do filme para sua personagem na maioria das cenas, ou seja, se encontrou ali dentro da personalidade que a personagem pedia e agradou. Bruno Garcia soou mais como um bobalhão com seu Gero, do que alguém que almejava algo na política, pois como Carlos Miéle encerra sua cena mid-créditos, com uma frase mais ou menos dita que a política não aceita pessoas sem garra, e faltou muito para que seu personagem não fosse apenas um apelo cômico para a trama, sem se importar com qualquer besteirol que fosse necessário fazer, de modo geral diverte mas acaba forçando para isso, o que não seria necessário pois o ator sabe ser bem melhor do que mostrou em cena. Guida Vianna encarnou bem em sua Rita e mesmo tendo algumas cenas bem desnecessárias (as de dança com o porteiro só serviriam se o longa fosse desenvolver algo nesse quesito, o que não ocorre), no restante acabou servindo bem como uma boa amiga e dando alguns bons conselhos para a protagonista, e se encaixando como mote cômico da parte secundária da trama agrada bem. Sérgio Guizé fez um Raposo meio lento demais, e não criou tanta perspectiva de atitude como foi mostrado sua versão mais jovem, mas como em toda boa novela das sete, acabamos torcendo para ele, e seu segundo ato acabou encaixando bem. Miá Mello e Augusto Madeira serviram mais como encaixes fazendo participações praticamente em diversas cenas, mas não podendo chamar nenhuma cena de sua com seus personagens Dulce e Cléber, mas foram bem quando necessitaram interpretar seus papeis. E para fechar mesmo que aparecendo apenas na cena inicial, tenho que falar que em seu último filme Luis Carlos Miéle pode mostrar o que aprendeu na Dança dos Famosos, e fez uma bela dança junto com a protagonista.
A trama foi muito bem produzida, afinal essa foi a função do diretor por muitos anos, e claro que ele não iria fazer algo ruim nesse estilo, e para isso colocou uma direção de arte bem eficiente que criou uma festa imensa numa mansão para promover a candidatura do protagonista, com figurinos chiques, ótimas decorações e tudo mais para esbanjar realmente em Brasília, e depois ao ir para o Rio de Janeiro, mesmo com um apartamento bem simples, a equipe trabalhou com muitos elementos cênicos para remeter à vida do pai da protagonista e tudo o que ela realmente deseja, e ao fazer um flashback de sua infância, fizeram uma festa bem bacana de ver, nos moldes das antigas brincas que muitos conheceram, ou seja, trabalharam na medida com bons elementos para caracterizar toda a cenografia e figurinos extremamente bem encaixados. Só um adendo quanto à qualidade, ficou por conta do consultório do cirurgião plástico, pois se colocaram ele como um figurão da área que sempre aparece em revistas e tudo mais, poderiam ter caprichado um pouco mais na sala de espera e no próprio consultório dele, pois ficou simples demais para alguém tão requisitado. No conceito fotográfico, a equipe procurou trabalhar com poucas sombras, colocando muita iluminação em quase todas as cenas, o que é de praxe no estilo que a trama segue, mas poderiam ter usado mais filtros como foram usados nas cenas das festas, pois o tom mais forte sombreado deu um ar mais vivo para a trama nesses momentos e certamente chamaria mais atenção.
Enfim, não posso dizer que se me pedissem para recomendar uma comédia divertidíssima, eu recomendaria esse longa, mas posso dizer que com certeza para quem gosta de um bom longa novelesco, irá sair satisfeito com o que o filme entrega. Claro que teria mais algumas ressalvas para convencer quem não é tão fã do estilo, mas colocariam tantos empecilhos para desistir de ver o filme que nem vale a pena discutir isso, então deixo claro que é um filme muito bem feito para quem gosta de ver tramas nos moldes de novelas, e que vale o ingresso vendo dessa forma. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com as outras estreias da semana, então abraços e até mais pessoal.
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